O aumento da gasolina I – Quem faz inflação no Brasil?

Vou arranjar tempo para falar sobre esta discussão sobre o aumento do preço da gasolina, onde acontecem fenômenos muito estranhos, como o fato de que sejam os inimigos da Petrobras os primeiros e mais ferozes defensores do reajuste, como forma de “salvar” a empresa dos prejuízos.

Curiosamente, vou ser ajudado nesta missão pela Folha de S. Paulo que publica hoje um interessante gráfico sobre a evolução dos preços livres (de mercado) e os administrados pelo Governo (essencialmente tarifas de serviços públicos e o dos combustíveis).

Reparem o que aconteceu no Governo Fernando Henrique.

Já antes da maioria das privatizações, os preços administrados pelo Governo subiram em níveis expressivamente maiores que os registrados no “mercado livre” de produtos e serviços.

Essa foi, aliás, a marca de todo o período FHC, só se atenuando num período de crise (97, Ásia, 98, Rússia e 99, desvalorização do Real) quando a variação dos preços públicos e privados tendeu a se igualar e, logo, disparou outra vez e, ao seu final, com o repique inflacionário e cambial do último ano de seu governo, quando as contas públicas chegaram a uma quase insolvência.

Isso não seria contraditório num governo que se vangloriava de trazer para perto de zero a inflação?

Sim, se os preços públicos fossem a “âncora” da taxa inflacionária. Mas as âncoras foram outras: a cambial e a financeira, resultante de uma expansão brutal da dívida pública do país.

A atração de capitais externos se dava em uma dupla estratégia: taxas de juros estratosféricas para a compra de títulos da dívida e remuneração atraente e garantida nas tarifas para a entrada de capital para adquirir serviços estatais.

Lula, nos seus primeiros anos de “paz e amor”, manteve o ritmo que havia encontrado, até porque as regras regulatórias embutiam aquele “sobrereajuste” e alterá-las atentaria contra a “segurança jurídica”. Como se sabe, segurança é algo essencial ao patrimônio e ao capital, embora as pessoas estejam bem menos protegidas por ela, porque morrer e adoecer não ameaça contratos ou lucros.

No fim de seu primeiro mandato, porém Lula pôde começar a reverter esta situação e, observe a linha mais clara, o reajuste dos preços administrados pelo Governo ficou quase que todo o tempo abaixo dos reajustes privados.

O mesmo se seguiu com Dilma. Note que, após a correção de um possível represamento de tarifas em 2010, novamente os preços administrados cresceram menos que os livres, mostrando que a composição do índice de inflação recebe muito mais afluxo do setor privado do que daquele que possui controle público, embora o senso comum frequentemente atribua “ao governo” o processo de elevação dos preços.

(segue)

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