O BC tomou o freio nos dentes?

A “independência” do Banco Central pode já estar começando a mostrar ao que veio.

A decisão de aumentar em 0,75% – para 2,75% – os juros básicos da economia nem é tão grave quanto o anúncio de que pretende repetir a alta em sua próxima reunião e em acenar com um processo contínuo de elevação dos juros para combater uma pressão inflacionária que o BC estima em 5% em 2021, quase 0,5% acima do que espera o mercado, que já a elevou de outro tanto da semana passada para esta.

Acontece que aumento de juros em plena crise de investimentos na economia é uma ducha de gelo no pinguim, sobretudo quando se anuncia mais frio pela frente.

A inflação existe, mas está concentrada essencialmente no câmbio, embora isso vá se expressar em alimentos e combustíveis, atrelados aos preços internacionais.

Mas o dólar caro não tem sido o dólar raro, muito ao contrário. Entra via exportações, que crescem, e também em investimentos em bolsa, ao contrário do que ocorreu em 19 e 20, quando saiu em grande escala. Não entra, e vai continuar não entrando é em investimento produtivo, porque o mercado brasileiro, embora não desprezível pelo tamanho, é desinteressante pela estagnação.

Queda do dólar vai haver, não se sabe o quanto (certamente não para o valor anterior à maxidesvalorização praticada desde o início de 2020) e sobretudo não se sabe por quanto tempo, porque ao mercado especulativo interessará forçar sua alta para receber o prêmio em novos aumentos de juros.

Já queda da inflação é muito menos provável, porque os preços são elásticos na alta, mas pouco resilientes na baixa.

O que dá ao BC e a seu comprometimento com as metas de inflação. a oportunidade de subir juros – até agora um tabu, ao longo de quase seis anos – o que, ao menos na cartilha, significa uma compressão sobre curvas de retomadas econômicas.

Arriscamo-nos a ter a “recuperação em V” apenas na curva de juros.

Hoje mesmo o Federal Reserve rejeitou uma proposta de elevação de juros para combater os supostos efeitos inflacionários do pacote de ajuda econômica aprovado pelo Governo Biden.

Economia desaquecida não inflaciona.

O magro auxilio emergencial daqui não faz supor qualquer inflação de demanda. Mas, como se disse, esta não é a causa essencial da inflação.

Mas serve para que um Banco Central “independente” de seus deveres para com o funcionamento da economia jogue, usando o santo nome dos preços controlados, lenha na fogueira dos juros.

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