O Brasil pode ter um presidente negro. Mas não pode ter um de "sangue azul"

A entrevista do presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, à jornalista Miriam Leitão é um primor.

Revela, com singular clareza, a vaidade e o sentimento autocrático do Dr. Joaquim.

Diz que não é candidato. E, de fato, não se comporta como um.

Porta-se, isso sim, como um monarca, guindado por um único voto, o de Deus, ao posto da perfeição absoluta.

As regras que se aplicam a todos os “mortais” na vida pública não valem para ele, será?

Pode ter razão o Dr. Joaquim de achar que se invade a sua privacidade, quando se revela suas relações familiares com a Globo, mas é ele quem vai frequentar os camarotes globais de Luciano Huck em pleno Maracanã.

Igualmente pode ter sido inteiramente legal a compra de seu apartamento em Miami, embora seja um pouco forte chamar de “modesto” um condomínio que exibe em sua página oficial na internet, luxo, ostentação e, portanto, mau-gosto de novo rico. Parvenu, para quem, como ele, conhece tão bem o francês.

Mas não é corriqueiro que um brasileiro, no mais alto posto da mais alta Corte do país, apele para o expediente de abrir uma empresa fictícia na Flórida para fazê-lo.

O Dr. Barbosa, que  fala de transparência, deveria considerar, também, que isso se aplica a todos os homens em funções públicas, inclusive a ele.

E refletir, com a inteligência que não lhe falta, que o desfile da vaidade traz o risco de transpor a tênue linha que a separa do ridículo.

O Dr. Barbosa tem um dignóstico correto do racismo no Brasil e, também, dos abusos da mídia.

Mas é estranho que reaja apenas à Folha e que se mantenha-se silente em relação ao Império Globo, que o acolhe e promove, inclusive mandando jornalistas convidados  em viagens oficiais do presidente do STF.

Quanto às ameaças que faz aos blogs anônimos, que estes se preocupem. O que não é saudável à liberdade é que se generalize a suspeita sobre quem lhe é critico. Se o Dr. Barbosa sabe de atividades criminosas – inclusive quanto a ataques à honra, que são crimes – deve proceder contra elas, nominando-as.

O que não é bom para o presidente de um poder incontestável da República é fazer acusações genéricas, que podem, aos desavisados de que estamos numa democracia, fazer tremer e calar quem o critica.

Na entrevista, ele acusa até mesmo o repórter da quem mandou chafurdar no lixo, ao dizer que tinha em mente outras coisas, acusando-o de ter “conflitos de interesse” no STF.  Isso, no mínimo, faz insinceras as desculpas que deu na ocasião, atribuindo o destempero às suas dores nas costas.

O Dr. Barbosa sabe que a ideia de República abomina, em si, o racismo, ao proclamar a igualdade entre os homens, este princípio pelo qual tanto lutamos, e com tantas dificuldades, para tornar realidade.

É por isso mesmo que o sentimento republicano abomina também os monarcas, com suas personalíssimas razões e titulares da obrigação de que se lhes preste vassalagem.

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