O Brasil “uberizado”

É claro que ninguém está defendendo a extinção do Uber ou dos serviços assemelhados de transporte de pessoas ou encomendas, embora eu não seja seu usuário por absoluta aversão a tudo que envolva o uso de celular, inclusive falar por ele.

Mas os números que o Estadão dá hoje em sua manchete, o de que “Aplicativos como Uber e iFood viraram os maiores empregadores do Brasil” obrigam a cuidar desta nova modalidade de trabalho como mais que “atividade alternativa”

Com o desempenho tímido da economia após a recessão e o mercado de trabalho ainda custando a se recuperar, aplicativos de serviços – como Uber, 99, iFood e Rappi – se tornaram, em conjunto, o maior ‘empregador’ do País. Quase 4 milhões de trabalhadores autônomos utilizam hoje as plataformas como fonte de renda. Se eles fossem reunidos em uma mesma folha de pagamento, ela seria 35 vezes mais longa do que a dos Correios, maior empresa estatal em número de funcionários, com 109 mil servidores. (…) Esses 3,8 milhões de brasileiros que trabalham com as plataformas representam 17% dos 23,8 milhões de trabalhadores nessa condição, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), no trimestre até fevereiro.

Os números oficiais situam na casa do bilhão o faturamento da Uber no Brasil. Somados todos os aplicativos, não é nenhum exagero pensar em dezenas de bilhões.

Qualquer bairro de classe média das cidades médias e grandes do Brasil está infestado de motocicletas e bicicletas com aqueles caixotes de entrega de comida atrás, a qualquer hora do dia. Cada vez menos estabelecimentos têm empregados próprios para fazer entregas.

Ainda assim, são pessoas trabalhando e comércio vendendo, ainda mais neste quadro de crise,  mas é preciso olhar para empresas que têm investimento perto do zero em relação ao seu tamanho – são os próprios trabalhadores que investem no meio de transporte – que não tem gasto quase nenhum em instalações e desenvolvimento de tecnologia, que vem pronta de suas matrizes e que, logo, estarão gerando um imenso passivo previdenciário por falta de contribuição de seus operadores, que só em ínfima parte são contribuintes da Previdência.

Estamos falando de um contingente de pessoas que encosta, em quantidade, nos trabalhadores da construção civil e nos empregados/as domésticas.

Isso, porém, passa ao largo das discussões da Previdência. Obrigar estas empresas a controlarem a regularidade previdenciária de seus operadores e a pagar uma pequena alíquota a este título sobre seus faturamentos milionários não as abalará.

As mudanças no mercado de trabalho vieram para ficar e não podem ser tratadas como o “autônomo” de antigamente, basicamente um prestador individual de serviços. Agora estamos lidando com empresas, enormes, estruturadas e lucrativas, tanto que o IPO (lançamento de ações em Bolsa) da Uber é um dos grandes destaques da Bolsa de Nova York.

Isso, sim, é gerar crise fiscal. Estes serviços, há quatro ou cinco anos, praticamente inexistiam. Daqui a outros quatro ou cinco serão ainda maiores.

Precisam ser tratados como parte da economia. Mas não, é claro, como projeto para ela: são atividades reflexas, que não produzem riqueza, embora, devidamente tratadas (e taxadas) possam ajudar a distribuí-las.

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27 respostas

  1. Quem cuidara desses trabalhadores, quando envelhecerem e não puderem mais trabalhar ?
    Um trabalhador de carteira assinada, contribui obrigatoriamente pra sua aposentadoria, e por isso podendo exigir uma pensão ao envelhecer.
    Hoje milhares de jovens, estão trabalhando , a um custo mais baixo, sem contribuir pra nenhuma previdência. Essa bomba vai explodir daqui a 30 anos.

    1. Absolutamente correto!
      Converso, sempre que tenho oportunidade, com esses jovens (alguns nem tão jovens) e constato que a quase totalidade votou nesse balde de esterco que temos na presidência e o apoiam ainda hoje.
      Mas mais triste do que isso: eles se acham imortais nos seus 20 e poucos anos e, portanto, “pra que previdência”, perguntam.

    2. A maioria não tem essa visão “do inferno” que possivelmente irá ocorrer no futuro, caso contrário já teríamos grandes mobilizações contra essa proposta de reforma da previdência.

    3. Bata ler a LEI 8213/1991 todos os trabalhadores que exerçam atividade são, por lei , obrigados a contribuir. Se não exiteverem sonegando… irão se aposentar como todos. Ah…. vamos supor que não estejam contribuindo. Ai uma boa lei seria “contribuir direito da fonte” o proprio UBER destacar a contribuição né.

  2. Estes motoristas de Uber e outros aplicativos foram aqueles imbecis que colocaram camiseta verde amarela e fazer dancinha na rua.Agora estão sentindo quanto dói uma saudade! Que se explodam!

    1. Não generalize. Meu filho não se vestiu de verde-amarelo e nem fez dancinha, mas ele já desistiu disso, do Uber. O prejuízo era maior que o lucro, pois teria que se auto-escravizar com riscos para a saúde física e mental, e sem poder conviver com os filhos pequenos.

      1. Seu filho fez estas escolhas porque ele é um produto que você – mãe – ajudou a construir. Não coloque a culpa nele ou queira entender, achar que ele tomou conciencia, porque não é verdade. Ele ainda continua sendo o mesmo fascista que voce tem orgulho e colocou no mundo.

        1. Não entendi Viviane, você conhece o meu filho para dizer que ele é fascista? Ou você não entendeu a parte que eu disse que ele não fez dancinha e nem se vestiu de amarelo. E, tenho muito orgulho sim, pois eduquei muito bem os meus filhos, e aqui em casa não tem eleitor do Bolsonaro. Sempre foram educados no respeito pela diversidade, na busca pelo melhor para a sociedade. E o que que há com você que não entende e não conhece uma pessoa e já vai atacando? Você tem certeza que está na página correta? Você é de esquerda? E, mais antes de sermos esquerda, PT ou Lula o político que mais admiravamos era o inesquecível Brizola, que falta que ele nos faz.

        2. Fascista deve ser você acusando sem conhecer. E, o meu filho é professor de história. Eleitor do Lula e do Brizola. Quer ver a foto que ele tirou com o Lula, penso que nem todo mundo tenha uma foto dessas para mostrar.

        3. E ainda me faz um ataque pessoal. Vai tomar tento Viviane. Se meus filhos fossem de direita eu me sentiria um fracasso como mãe e educadora.

        4. O maior problema na esquerda brasileira é que a mesma está se deixando consumir pelo ódio que levou o saco de bosta ao governo, a falta de capacidade de ler antes de comentar faz com que se gerem argumentos xulos e sem nexo… Eu sou o filho citado, sou professor de história, trabalhei dois anos de Uber, e tanto minha mãe, que me ensinou a ser brizolista quanto eu jamais fomos de direita pré requisito para sermos fascistas, ser de esquerda não é ser de extrema esquerda que também leva a ditaduras, vide Stalin, ser de esquerda é aprender a ler, argumentar racionalmente, fazer em si a mudança que quer para o mundo, não adianta de nada pregar mudanças se dizer socialista e não entender que não pode ser socialista num mundo capitalista, o máximo que podemos é ter o ideal, e as atitudes transformadoras, agressões pessoais apenas nos equiparam àqueles que queremos combater, divergência de opiniões e exclarecimentos para a não generalização são parte do processo e o respeito ao mesmo é necessário para que a esquerda não se perca.

  3. Não há nada tão ruim que não possa piorar. A Argentina está completando um ano e meio de que sua reforma da previdência, irmã gêmea da reforma do Guedes, foi aprovada pelo Congresso de lá, apesar dos enormes e violentos protestos da população. Disseram por lá, para aprová-la, que ela traria milhões de empregos e grandes investimentos, fazendo o país desencalhar e o crescimento econômico bombar. Depois de ano e meio de sua aprovação, o que acontece hoje na Argentina?

    As indústrias que já existiam por lá fecharam, e as que continuam funcionando estão em regime intermitente. Quando têm alguma demanda chamam operários que em seguida são dispensados. As indústrias que ainda funcionam, têm sua capacidade reduzida pela metade. As lojas fecham às dezenas de milhares, e os pequenos comerciantes que ainda resistem dispensaram até quatro entre cinco funcionários. Muitos já dizem que esta é a maior crise que a Argentina já sofreu em toda a sua vida, e olhe que a Argentina já sofreu grandes crises no passado, quase todas por culpa da implantação da ilusão neoliberal. O desemprego espalhou-se como uma epidemia e a fome alcança grandes contingentes da classe média.

    Em vez do grande progresso que prometeram com a reforma, o que aconteceu na Argentina foi uma catástrofe, que os meios de comunicação do Brasil escondem, para que esta informação não venha a atrapalhar a aprovação da mesma catástrofe por aqui, e eles e seus sócios do sistema financeiro possam se empanturrar com o dinheiro que hoje se destina ao sistema previdenciário. O vídeo abaixo esclarece alguma coisa sobre isso, embora não se possa concordar em que Bolsonaro esteja sendo enganado pelo Guedes. Procurar por: PREVIDÊNCIA: TV GLOBO ESCONDE ARGENTINA. GUEDES ILUDE BOLSONARO QUE NÃO PERCEBE – https://www.youtube.com/watch?v=skXRgLO2gm

  4. O título poderia ser também “O Brasil iFoodido”.
    Apesar de um pouco agressivo retrata bem o estado de coisas…

  5. Precarização e precariado tem substituido expressões como sindicalização e proletáriado ou mesmo classe trabalhadora. Está claro que na “guerra” do capital contra o trabalho, como afirmou cínica, mas honestamente, Warren Buffet, os ricos vem ganhando de goleada (uma espécie de 1 x 7 global). Em plena hegemonia neoliberal esta goleada contra sindicatos, classe trabalhadora e a cidadania em termos amplos tem sido possível justamente pelas instituições do Estado e das instituições democráticas, que dominadas pelo capital, vem impondo a agenda do capital, dos ricos, do 1% e seus poucos sócios. Em 1979 a vitória da direita inaugurava o pesadelo que temos vivido desde de Thatcher, 40 anos atrás. Gostaria de pensar que a provável vitória das forças de centro esquerda e esquerda na Espanha, pudesse por fim ao cada vez mais real pesadelo dessa hegemonia neoliberal em sua busca regressiva por um capitalismo do século XIX, e que o mundo pudesse retornar ao caminho do desenvolvimento dos direitos do homem agora não mais restritos aos “poucos” habitantes que vivem nos países do primeiro mundo mas a todos os países do planeta que ainda têm que trilhar o duro caminho do desenvolvimento e da luta pelos direitos humanos mais básicos que ainda são um sonho não realizado.

    1. Basta pagar o INSS por conta própria, custa cerca de 50 reais na modalidade mais barata. Duas viagens ele consegue, afinal é um autônomo, como eletricista, pedreiro, diarista etc.

  6. O passivo trabalhista que vai sobrar para a sociedade como um todo é imenso.
    Porém a ESQUERDA brasileira e principalmente os SINDICATOS esquecem deste grupo de trabalhadores.

    1. Mais que trabalhista, será um passivo humanitário. Ou planejar e deliberadamente executar um projeto de extermínio, de genocídio de trabalhadores, de idosos aposentados, não se configura um crime contra a humanidade. Pessoas que implementaram essas aposentadorias por capitalização jád estar indo a julgamento pelo tribunal internacional de Haia.

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    : * * * * 04:13 * * * * * Ouvindo A(s) Voz(es) do Brasil e postando no Tijolaço :

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