Na sua coluna no G1, a repórter Andrea Sadi diz ter conversado com “caciques importantes e que integram a linha de frente do centrão já admitem sentar para conversar com o ex-presidente Lula” mas, ao mesmo tempo em que se oferecem, fingem ser moças pudicas que “rejeitam o que chamam de “entorno” do PT, como figuras expressivas do partido que já ocuparam cargos chave na administração federal e têm dado opiniões nessa pré-campanha a respeito de áreas como a economia”.
Sim, claro. São adeptos do “teto de gastos” que articulam “emendas secretas” de R$ 16,5 bilhões, são adeptos da austeridade que engendram Fundo Eleitoral de R$ 6 bilhões e engendram, em cima da hora, um cantinho no Orçamento para encaixar um aumento para a Polícia Federal.
Gente de princípios inamovíveis, como se vê.
Balela. Como são – nas próprias palavras – “partidos de Governo”, preparam-se para saltar no colo do próximo governo, que todos eles sabem quem chefiará.
E será que cabe a Lula chutá-los, hostilizá-los e mandar que vão procurar outra freguesia?
É fácil a quem está de fora dizer que “não precisamos deles” e mandá-los passear . Há gente que não se capacitou ainda que o governo que tomará posse em janeiro terá diante de si um país devastado, conflitado e de cofres absolutamente raspados? E que não adiantará dizer que isso é “herança maldita” (e é) e ficar pedindo continuamentee paciência, mas adotar um plano de mudanças emergenciais que permitam resolver problemas que não podem esperar.
E são muitos: fome, desemprego, queda na renda, sucateamento das redes de serviços públicos, juros em alta, economia em baixa…
Lula não poderia ser mais claro do que foi, ontem, na entrevista aos blogueiros:
(…)eu tenho consciência do que esse povo tá passando. Eu não posso mentir, eu não posso ganhar aos 76 anos e falar ‘gente, olha, eu ganhei, mas não dá para fazer as coisas, desculpa, eu tenho que atender o mercado, eu preciso atender a Faria Lima, eu preciso ter responsabilidade fiscal, eu preciso manter teto de gastos’. E o teto de comida? E o teto de emprego? E o teto de salário? E o teto de saúde? Quem é que vai devolver para esse povo?”.
Em nenhum momento um governo tem mais força do que aquele em que assume, revestido da legitimidade popular e não tem de ter medo de articulações com quem quer que seja se delas tirar os meios de implantar mudanças.
De Lula, que já deu todas as provas de resistência que poderia dar e muito mais , até, não virá nenhuma concessão que implique mudar suas ideias.
O essencial, na sua ação política, é fazer minguarem as bases – mesmo estas, amorfas e fisiológicas – da extrema-direita e não fazendo hipócritas declarações puristas, do mesmo tipo das que levaram o país a esta lama atual.
Há debandadas para todos os gostos e direções, como se observa: além do Centrão, os transtornados do olavismo e militares que já não disfarçam muito que se meteram numa “fria”.
Não nos cabe julgar as traições no campo inimigo, desce que não as saudemos como bravuras.
Deixemos estas para os homens da pureza invicta como Sérgio Moro que, para dar exemplo de “ética” já está pensando em trocar de partido dois meses depois de ter entrado no tal “Podemos”.
E os “caciques” quiserem apoiar o eventual governo Lula, apoiem. Mas como índios, sem querer tocar o apito.