O destruidor

Nos tempos da ditadura, para classificar como nefasto um “esquerdista”, era comum que o jargão militar a ele se referisse como “um elemento desagregador”.

Pois eu afirmo que jamais se viu, na história brasileira – talvez, com menor poder, Carlos Lacerda – um elemento tão desagregador que Jair Bolsonaro.

Nem nos fixemos na sua história pregressa, na subversão da disciplina militar à qual se dedicou enquanto usava farda, ou às suas sugestões dobre matar, fuzilar, sonegar e estuprar.

Tratemos apenas de sua “obra política” depois de eleito presidente da República e veremos que, de lá para cá, seu papel tem sido, essencialmente o de destruir.

Assim foi com a unidade do grupo militar que o conduziu ao Palácio; com Moro, que removeu de seu caminho o mais formidável obstáculo que teria de enfrentar; com os auxiliares que pretendiam a primazia em seu governo, com o “partido” PSL que se formou em sua esteira. Com um pouco de reflexão, também assim se concluirá sobre Paulo Guedes, imaginado como “presidente da economia” e que foi reduzido, agora, a um personagem que deve ir algumas migalhas de política econômica nos acordos políticos.

Desde sempre que aqui se expõe a ideia de que o essencial, para Bolsonaro, é manter as suas “milícias”, aquelas que Nicolau Maquiavel define como as “que se constituem de súditos ou de criaturas tuas” pois nada mais fraco que a fama de um poder que não se apoia na sua própria força.

Nem à hierarquia das Forças Armadas Jair Bolsonaro considera tanto, pois se elas lhe abriram as portas do poder, funcionaram como sua guarda pretoriana têm, por isso, o poder de eventualmente barrarem-lhe ao caminho. Reconheça-se que o pouco de soldo que abiscoitaram elevando o ex-capitão ao governo, embora seja de proveito próprio, como os seis mil e pico de cargos estatais que abocanharam é bem pouco perto do estrago que causaram à instituição, destruindo mais de trinta anos de reconstrução de uma imagem profissional e democrática dos militares.

No plano político a estratégia de Bolsonaro sempre foi a de sapa, de sabotagem, de infiltrar-se indiretamente nas linhas adversárias e colocar-lhes minas a serem oportunamente detonadas, neutralizando sua resistência fraca e assustando os que vêm na rendição oportunidade de não apenas sobreviverem como praticar o butim nas ruínas de suas antigas casas.

Bolsonaro explodiu o DEM, está explodindo o PSDB e fará o mesmo com o o acéfalo MDB.

Ontem, no Senado, o general Eduardo Pazuello, intendente dos nossos depósitos de cloroquina, disse aos parlamentares que deveriam aprender a lição dada aos alemães pelas duas guerras mundiais, dizendo que lhes seria fatal fazer uma guerra política na pandemia, pois, como para os germânicos, a abertura de uma segunda frente seria fatal.

Creio que a lição que há ante o avanço fascista, como naqueles anos 40, é justamente o inverso. Roosevelt e Churchill, ferrenhos adversários da União Soviética, diante da superioridade das forças nazistas, apoiaram o quanto puderam o esforço de guerra soviético, sem o qual não poderiam ter vencido o combate, tanto quanto é verdadeiro o inverso.

A esquerda e e a direita não-bolsonarista (exceto os bolsomoristas, tão fanáticos e autoritários quanto os originais, mas que perderam a razão de ser com o desmonte de seu “Mito”) dependem de um pacto de reconhecimento de um adversário comum e irresistível e isto não é uma aliança, uma coligação. É apenas a possibilidade de sobreviverem e travarem, entre si, suas próprias disputas.

Não fazer isso é o risco de serem aniquiladas.

 

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