O escurinho do Planalto

A negativa do general Augusto Heleno em ceder a O Globo as informações sobre as visitas a Jair Bolsonaro daqueles pastores-picaretas que extorquiam prefeitos usando recursos do MEC é mais uma prova de que Arilton Moura e Gilmar dos Santos agiam sob as ordens de Jair Bolsonaro e por isso tinha sido agraciados, nas palavras do ex-ministro Mílton Ribeiro, com “um pedido especial” do presidente.

Pior ainda é o motivo: a “informação poderia colocar em risco a vida do presidente da República e de seus familiares”.

Desde quando encontros que já ocorreram podem “colocar em risco a vida do presidente da República e de seus familiares”? Só mesmo se houvesse – e não há – pena de morte para casos de tráfico de influência, advocacia administrativa e prevaricação.

É evidente que a determinação de Heleno, de tão absurda, cairá na Justiça. Se, em 2020, caiu o sigilo de uma reunião ministerial, porque seria mantido em simples registros de portaria, sobre tudo quando limitados aos dois personagens alvos de um inquérito policial?

A “justificativa” dada pelo Gabinete de Segurança Institucional que o general chefia – “zelar, assegurado o exercício do poder de polícia: pela segurança pessoal do Presidente da República”, nos termos da Lei 13.844/19 – não tem absolutamente nada a ver com “manter em sigilo com quem o Presidente se encontra no palácio do Governo”, ainda mais a posteriori, quando para nada de perigoso se poderia usar a informação.

A atitude de Heleno induz a crer que os encontros foram muitos além dos quatro oficialmente registrados na agenda presidencial. Porque para que, temo, só se vá saber depois que Jair Bolsonaro for retirado, pelo voto, o que se esconde no escurinho do Planalto.

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