Chega-me a matéria publicada hoje pelo site Starse, especializado em “startups” (novas empresas com projetos que representem inovações) que narra a decisão do governo australiano de fazer com que as “escolas substituam as disciplinas de História e Geografia por Programação de Softwares”.
Não é preciso dizer, claro, que a Austrália, depois de muitos governos trabalhistas, tem hoje um governo neoliberal.
O Ministro da Educação justifica a mudança como forma de atender a necessidade de “reforçar as competências digitais necessárias para ter sucesso no ambiente de tecnologia altamente competitivo do século 21”.
Perfeitamente, é indispensável.
Mas quem pode ser competitivo se não sabe de onde veio e em que mundo vive? Que mundo pode ser aquele dos camelôs de gadgets, de modernidades de camelô, da filosofia medida em dólares?
O que aguarda uma geração que não sabe o que centenas de outras acumularam em conhecimento e descobertas – inclusive da Austrália?
O conhecimento de tecnologia jamais prescinde do conhecimento da ciência, como a percepção de “marketing” jamais pode deixar de lado as raízes culturais, históricas, sociais.
O Papa Francisco disse, há pouco tempo, que “o dinheiro é o esterco do Diabo”.
Parece que se tornou mesmo, porque está fazendo escolas se tornarem “startups” de uma humanidade estúpida – se é que se pode chamar de humanidade a uma fauna imbecilizada – incapaz de reconhecer qualquer coisa que são seja dinheiro, tanto que este se torna dono dela, em lugar de ser o contrário.
PS. A foto acima é do livro “Como me torney um estúpido”, nada estúpida e divertida obra de Martin Page, onde o protagonista, Antoine, se convence que o conhecimento é estúpido e a estupidez a grande sabedoria.
2 respostas
EMBRIÃO
by Ramiro Conceição
Enquanto a luz limpava as unhas
compridas da Lua…, um embrião
escrevia às civilizações distantes.
ESCURO
by Ramiro Conceição
Tudo aconteceu para romper… um muro.
Mas que ironia: atrás havia outro escuro.
Teria sido mais fácil crer em evangelhos.
Mas… Ela procurou a lucidez – sempre.
E agora que amara fulano, sicrano e beltrana
que eram a delicadeza dum Mário Quintana?
E agora que nos supermercados só há fatias
da malícia à freguesia? E agora?
PATAS DE TATU
by Ramiro Conceição
Já tive medo – em que perdi a fala,
tal qual um dicionário que se cala.
Todavia a vida voltou- me a ditar
com calma – palavra por palavra.
Assim com patas de tatu
na lama tatuei um poema
na alma.
NIETZSCHEANAS
by Ramiro Conceição
VIDRO
À frente do bêbado a cair,
sinto uma vontade de rir,
pois ele sempre se levanta.
Porém morro de medo;
se cair estarei perdido.
Sou inteiro… de vidro.
FILOSOFIA & POESIA
by Ramiro Conceição
Disse o filósofo ao poeta:
“suas palavras precisam de ritmo,
são incapazes de andar sozinhas”.
Disse o poeta ao filósofo:
“suas ideias arrastam correntes,
não têm a leveza das dançarinas”.
FECHADO OU ABERTO
by Ramiro Conceição
Me diz, amor,
se o universo é fechado
porque se assim for
seremos eternizados.
Por outro lado… Se aberto
o nosso tempo será pouco,
ingênuo, em brotos,
e o nosso amor, maroto.
Já pensou em publicar um livro?