Mais um dia se passou – e faltam muito poucos até a eleição – sem que Jair Bolsonaro conseguisse passar à ofensiva contra Lula, por mais que fale em demônios, comunismo, ideologia de gênero (seja lá o que venha a ser isso) e ameaças “à família”.
E não por ação da campanha de Lula, nem por uma “fraquejada” do atual presidente, que tenta engolir seus conceitos misóginos, mas de seus próprios adeptos, que produzem fatos que expõem a ferocidade do bolsonarismo – o que não é exatamente inédito, mas está sendo reprisado com novas cenas toscas de agressão a mulheres, quando não praticadas, liberadas pelo chefe da Nação.
Em condições “normais”, isto teria sido fatal para qualquer candidatura mas, no caso de Bolsonaro, nem mesmo se tem certeza de que lhe fará perder pontos nas pesquisas eleitorais.
Parte expressiva classe média brasileira perdeu não só os sentimentos de solidariedade social – “vai pedir ao Lula” – como, também, os resquícios de civilidade no seu relacionamento.
E faz tempo.
Dá para imaginar senhoras carolas e evangélica repetindo a “dancinha” presidencial comparando mulheres de esquerda a “cadelas” e mandadas “comer na tigela”, em contraposição às “cinderelas” de direita?
É só uma paródia? É uma brincadeira? É para ser recebida com risadas, como se fosse um adolescente?
Se é, perdemos a medida das coisas.
A pesquisa Datafolha de hoje dirá mais do que favoritismos na eleição presidencial. Vai falar sobre o nosso caráter, a nossa capacidade de respeitar seres humanos, em não legitimar a agressão, verbal ou física” e até o assassinato como forma de resolução de relacionamentos, políticos ou não.
Jair Bolsonaro tirou a trava da pistola. Não se reclame se legitimarmos que seus mastins a dispararem.