Bolsonaristas cobriram com uma bandeira do Brasil o cartaz que, na própria Avenida Faria Lima, centro financeiro de São Paulo, ironizava os fracassos de Paulo Guedes na condução da economia.
Sumiu o “Faria Loser” da parede, mas, à noite, como sombras, lá estavam os brazilian losers, os desvalidos que vão se amontoando nas calçadas e nas estatísticas que nos acusam o empobrecimento.
E não é apenas nos dados desanimadores revelados na estagnação do Produto Interno Bruto, mas no estado de paralisia em que o país é mantido, já há meses, por um governo sem rumo, sem força política – apesar da submissão quase total da Câmara dos Deputados de Arthur Lira – e por uma economia com renda em queda, inflação em alta e suficiência energética em risco.
Tudo fartamente regado ao molho de uma ameaça de ruptura política que transformou num “o que ele vai fazer” o Sete de Setembro. Nada, provavelmente, mas tudo deixa claro que é crescente a disposição, a organização e a ousadia de um crescente movimento golpista miliciano/policial, com a cumplicidade do Ministro da Defesa, Braga Netto e o beneplácito acovardado do Alto Comando das Forças Armadas.
Da fraqueza política, tivemos ontem dois exemplos: a aprovação de uma reforma do Imposto de Renda que saiu ao contrário do que pretendia o Governo e a rejeição, no Senado, da Medida Provisória da minirreforma trabalhista que era uma das prestidigitações de Paulo Guedes para reduzir direitos do trabalhador.
Da paralisia econômica, mais um sinal dado agora cedo, com a queda da produção industrial (- 1,3%, em julho, segundo o IBGE) que, apesar dos percentuais ainda generosos de crescimento anual, por conta dos impactos sofridos no início da pandemia, vai ficar muito abaixo das previsões de mercado.
E da crise social, bem, para saber desta basta dar uma volta pela rua e provocar uma conversa no supermercado.
Jair Bolsonaro pode ameaçar os demais poderes, mas só o que conseguirá com isso é mais má vontade e retaliação em forma de pressão para anular o pouco que ainda pode passar no Congresso e no STF, onde vai parar a questão dos precatórios, que tiram a “folga” orçamentária com que poderia contar para tentar reverter a erosão de sua popularidade.
Tentar o golpe, embora seja possível, é insustentável, com a rejeição popular, empresarial, da mídia, de parte cada vez maior do parlamento, do Judiciário e da comunidade internacional e ousar fazê-lo é antecipar o fim de seu governo e o prognóstico que ele próprio antecipou, dias atrás, de vencer, morrer ou ser preso.
Não tentar, mas prosseguir na agitação que nele se substitui à ação de governo, é a caminhada para a derrota inexorável.
O loser não é Paulo Guedes, cuja degola se aproxima.
O loser é Jair Bolsonaro.