Dia primeiro, nem precisava ser de janeiro, pleonasmo de começo que a gente nem sabe de quê, mas sente.
Os analistas, especialistas, economistas, cientistas da política e outros istas, todos eles têm razões muito objetivas para suas reservas e pessimismos, mas não raro lhes falta a percepção do que é etéreo e ao mesmo tempo real na vida humana, sentimentos que nos movem, empurram ou freiam.
A vida é feita muito mais disto do que de objetividades, embora elas sejam indispensáveis ferramentas de materialização dos sonhos, como cinzel e talha são para quem esculpe.
Não é, portanto, só um novo presidente que assume a condução da República neste dia, nem mesmo um presidente que traz a saga de um martírio e do milagre em sua trajetória.
Somos nós que reacendemos esperanças depois de anos de treva, que retomamos o amor à civilização, após do horror da barbárie e que queremos reaprender a fé, depois dos tempos de ódio.
Talvez isto esteja além da compreensão da idiotia da objetividade, expressão genial de Nélson Rodrigues, daqueles tantos istas que mencionei. Talvez até em algo o percebam, mas não sejam capazes de dimensioná-lo.
Nada, é claro, é garantido, nada é seguro e fácil.
Mas viemos até aqui e reabrimos o ciclo da esperança, mais sábios do que antes e menos pretensiosos, como só o tempo nos sabe fazer.
A vida já nos deu muito e, por isso, deixou-nos a lembrança de que o impossível é vizinho de porta do necessário.
Nesta Brasília onde todos sempre nos sentimos pequenos, um dia grande se avizinha, o dia em que vamos rever a face da esperança, que andou eclipsada pelo medo.
É dia 1°, é janeiro, é começo, recomeço de um caminho que não vai parar nunca enquanto o Brasil não for o grande, justo e feliz país que tem tudo para ser.