O Ocidente matou no Egito

O massacre de pelo menos uma centena e meia de pessoas no Egito é, em boa parte, culpa nossa.

Aceitamos, passiva e até entusiasticamente, a deposição de um governo eleito há pouco mais de um ano, essencialmente por ele ser muçulmano ou, como dizem, “fundamentalista islâmico”.

Admiramos, por identidade, uma parcela ocidentalizada e “moderna” do Egito e nos encantamos como o “gigante acordado” da Praça Tahir.

A queda do presidente Mohamed Mursi pode mesmo ter sido uma exigência de setores expressivos – e talvez até majoritários – da população egípcia.

Mas o acolhimento do Ocidente à sua deposição, tal como se deu, por um “pronunciamento” militar abriu caminho para o que está acontecendo.

Legitimou, na prática, o uso da força para “solucionar” o problema criado pela política e, com isso, acabou com qualquer equilíbrio e negociação possível.

O Egito, na tarde de hoje, é um país mais dividido do que era esta madrugada, não importa o quanto estivesse cindido antes entre partidários do novo governo e os fiéis a Mursi.

E o Exército do país, que nada mais tem a ver com o que foi nos tempos de Gamal Abdel Nasser nos anos 60.

É uma estrutura imensa, com interesses negociais e um pró-americanismo exacerbado.

A renúncia de Mohamed El-Baradei, vice-presidente da junta que assumiu o Governo com a queda de Mursi é sinal de que as coisas vão se complicar.

O estado de emergência decretado por um mês é sinal de que a repressão e as prisões vão prosseguir.

E, mais uma vez, um país árabe será transformado num barril de pólvora de governos de legitimidade duvidosa e ódios indubitáveis.

 

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