O “pacotão”, o avião e as nuvens de crise

O ano financeiro acaba, como se sabe, quatro dias antes do início, de fato, do governo Jair Bolsonaro. Precisamente no dia 28, sexta-feira,  para recomeçar no dia 2 de janeiro, quarta-feira.

São 96 horas de “arrumação”, se o novo Governo antecipar para o sábado o “pacotão” de novas regras – ou falta de regras – que virão por aí.

Nos “balões de ensaio” que foram lançados nos últimos dias, não há clareza do rumo que se irá tomar, muito menos de qual será o tamanho e a solidez da base de apoio político que terá para implementar medidas econômicas drásticas.

A tendência é a de que o Governo aproveite os 60 dias ou pouco mais que terá para fazer “o que quiser”: o mês de janeiro – sem Congresso, pois o “velho” está em recesso e o “novo” só funciona a partir de fevereiro – e o mês de “arrumação” do novo parlamento, onde dificilmente haverá votações importantes.

As medidas provisórias prometem vir aos montes.

Na política, idem, e não é difícil prever que este tempo seja aplicado em “reformas morais” na legislação sob o feroz comando de Sérgio Moro.

Tudo muito bom, tudo muito bem. Há, de fato, depois de mais de três anos de depressão econômica para fazer a economia bater as asas. Mas não há, na atmosfera pesada em que vivemos e nos déficits pesados que enfrentamos, condição de sustentabilidade deste crescimento.

Num avião, seria a mesma coisa que levantar o bico para ganhar altura, mas com muito peso e com baixa velocidade, num céu tempestuoso. Quem gosta de aviação sabe que é imensa a chance de estolar, isto é, perder sustentação e perder altitude, o que só tem salvação apontando o nariz para baixo, para controlar a descida e recuperar o controle da aeronave. Para isso, é preciso ter altitude para “gastar”.

E, atolados em déficit, não temos.

Mas que tempestade é essa?

É, como sempre, lá fora que se define em que tipo de clima estamos.

Sexta-feira, a Bolsa de Nova York fechou a semana com as maiores perdas registradas desde o início da crise de 2008. As perdas anuais chegam a 10%, embora possam reduzir-se um pouco nos últimos pregões do ano, por conta da liquidação de negócios de opções. Resta ver se isso será forte o suficiente para vencer o quadro de alarme em que estão os donos do mundo em Wall Street.

O índice de expectativas do mercado divulgado pela CNN,  que faz uma consolidação de sete indicadores de volatilidade do capital na bolsa (que você vê reproduzido na ilustração do post) caiu ao maior pessimismo já registrado na história, na esteira do “shutdown” – algo como o desligamento do Governo – a que a chantagem de Donald Trump sobre o Congresso com a questão do “muro” mexicano levou os EUA, como se não bastassem os impactos das crises do “Brexit” e da guerra comercial com a China.

Emboras as idas e vindas de Trump sejam mais previsíveis que as marés, nada indica que a economia mundial vá  ter  senão espasmos de alívio.

Não são poucos nem irrelevantes os economistas que prevêem uma crise senão igual, ao menos assemelhada à de 2008/2009. Talvez não já,

Temos condições de enfrentá-la como naquela época? Há tempo para ganhar altitude e evitar que entremos em cheio na turbulência?

Consulte-se o altímetro e os alarmes vão soar: em 2008, o superávit fiscal – receita do Governo menos seus gastos – era de 4%do PIB. Agora não há superávit, ao contrário, o déficit é de 2% do Produto Interno Bruto.

O co-piloto econômico, Paulo Guedes,  está disposto a empurrar o manche para cima. Mas o comandante Bolsonaro, que também não tem horas de vôo,  definidamente, revela receio de perder o controle do avião.

Haja Sérgio Moro para entreter os passageiros durante as turbulências.

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29 respostas

  1. Excelente análise, Fernando! Pode ser que o Dr Moro não aguente muito tempo entretendo os desavisados. É esperar pra ver como Paulo Guedes e Bolsonaro vao se comportar diante das derrotas que sairão do Congresso, onde Bolsonaro cansou de votar contra o Brasil.

    1. quais derrotas? em que mundo você vive? esse congresso ai vai aprovar TUDO que o Golpe(Laja Jato)quer!

  2. Prezado Fernando, sou leitor assíduo de seu blog – mas, um tanto quanto silente. Algo me diz que, com a experiência que os anos nos trazem, esse tal “jair se acostumando e seus ‘comensais pastoreiros'” não chegam a 2020. Quando virem o amontoado de basteiras – aí já inclusa a do tal “queiroz”, uma ponta do iceberg! -, darão conta da imbecilidade praticada.

  3. Eram aécio e deixaram de sê-lo…eram cunha e esqueceram-no …são bolsobos e o deixarão….ocorre que “não se deixa um amigo na beira da estrada…”
    Que o diga Paulo Preto ao Serra….Lembram-se?.

  4. Os economistas liberais estão há meses cantando a bola da crise do dólar. Rússia e China estão se livrando de moeda é estocando OURO. A Rússia já quase liquidou seus papéis em dólar, o que significa não confiar na solvência dos EUA. A próxima crise será pior que a de 2008.

  5. O que dá alguma “altitude” ao governo são as reservas internacionais e o posto Ipiranga já falou em vender parte delas. Eu acho mais prrovável que elas virem pó no caos que vem por aí.

    1. Não há dúvida de que os bozos irão ao baú das reservas do país; será uma correria, o popular “AVANÇA” para ver quem fica com mais milhões; e veremos o surgimento de mais um segmento de novos ricos brasileiros, filhotes do golpe e do bozo, totalmente descompromissados com o povo e o país…

  6. Em 2020 haverá um crise igual ou pior que a de 2008.
    Todos os problemas que levaram à crise de 2008 continuão sem solução.
    E como o texto aponta , agora não temos as condições que tínhamos em 2008.
    Soma-se a isso medidas de austeridade e corte de direitos trabalhistas.
    Alguém acha que a soma de tudo isso pode dar certo?
    Estamos a caminho do abismo.

    1. Verdade. Acho que antes de 2020…..Mas diz o ditado caipira que “até um trupicão daqueles de arrancar o dedão, leva o sujeito pra frente”. A classe média, os pobres de direita, a mídia, a esquerda (que ficou na zona de conforto), e todos nós de uma certa forma (que não soubemos ou não conseguimos alterar os rumos da política) vamos passar por duras lições……A reação aos tempos ásperos que se aproximam, será proporcional ao grau de otimismo e ilusão que as pessoas possuem agora.Historicamente, crises economicas costumam derrubar até impérios……..

  7. Aos que estão falando que ‘é hora de deixar a política pra lá, de reatar as amizades’ – desculpa, não é não. Dos meus amigos de verdade, eu nunca me afastei. Eu sobrevivi com certa dificuldade às agressões gratuitas de 2014, e com enorme dor as de 2016, mas esta é a barreira final. Apoiar o monstro não é algo que eu possa relativizar, seja você vizinho, “amigo” ou parceiro profissional. Eu não vou ser o “bom judeu” brasileiro. Estou puto num nível existencial. Mais uma vez, minha visão de mundo está estilhaçada pela idiotice alheia. Aqueles que riam das insanidades do presidente-eleito tornaram-se seus eleitores orgulhosos. E vêm até mim insistir, idiotamente, que “vai ficar tudo bem”. Vocês me comovem duas vezes: uma pela esperança, outra pela estupidez. Se atiraram no abismo e agora querem me convencer, ou se convencerem, que a gravidade não nos puxará por pura força da nossa vontade. Mas o mundo não é isso. O colchão de rochas com o qual a gente vai se chocar, o colchão que vocês, eufóricos, acham que não existe – vai chegar rápido, frio, e implacável. E vocês terão que escavar de colherinha para achar um caminho de volta. Eu vou ser o primeiro a apontar as duras rochas que se aproximam – o despreparo inigualável do presidente-eleito, a crueldade de seus assessores econômicos, a impotência dos moderados diante das ameaças das Forças Armadas. Estarei aqui a cada direito civil, político e social que perdermos, para lembrar-lhes do TREMENDO CANALHA que vocês escolheram eleger. Cada fibra do meu corpo despreza Bolsonaro, pelo racista, misógino, intolerante, anti-intelectual, preguiçoso, simplório, arrogante, corrupto, violento ser que ele é. E vocês, por votarem nele, se tornaram iguais a ele. Porque este será o Brasil agora. Esta será a face da nação diante do mundo: um jeca sem qualquer capacidade intelectual, fardado, vomitando preconceito e desinformação. Meu perfeito pesadelo. Eu não quero a amizade cordial de vocês. Quem bate palma para fascista tem nome: fascista. Portanto, deixo meu mais sincero “FODA-SE” aos que vieram aqui colocar panos quentes agora. Num país governado por JAIR MESSIAS BOLSONARO, não há motivo para aparências. Tudo é cru e imediato, incluindo o meu desejo de me afastar de cada um de vocês e mandar vocês pra PUTA QUE OS PARIU, junto com essa mula de carga que em 2019 subirá a rampa do Planalto.

    1. Caçador, concordei com tudo até o “PUTA QUE OS PARIU” e mula de carga. Estou certo de que é um xingamento que não pretende atingir as mulheres e mães, mas é um xingamento que reforça a misoginia. O que você teria contra aas mulas para ofendê-las desse tanto? Precisamos repensar nosso xingamentos. Foda-se cai bem melhor.

  8. Só uma ressalva sobre a última frase, Brito: Moro não cumpre a função de “entreter a plateia” sozinho. Conta com a valorosa ajuda da mídia, tanto à direita quanto à “esquerda”, na divulgação de pautas irrelevantes.
    Por um 2019 com menos “lacração” e mais discussão do que realmente importa:
    #SoberaniaNacional
    #Pré-sal
    #Industrialização
    #LulaLivre

  9. O problema é que para pousar é preciso enxergar a pista, mas com cegos na cabine as possibilidades são de queda brusca e acidente cavernoso. Apertem os cintos.

  10. Estamos diante do picadeiro e breve teremos o espetáculo da produção de barbaridades, algumas resgatadas de década da 60, em meio a goiabas e laranjas, é claro. A “trupe” que “governará” o país, não tem a menor (sic) idéia do que fará, e, essencialmente, os idiotas do Brasil entregaram a nação a um bando de celerados que têm apenas uma meta na vida, se “arrumar” (ficar ricos) e rapidamente, antes do colapso. Será que as goiabas nos salvarão??

  11. Comentei algumas vezes nos últimos 2 meses mas nada foi publicado.
    Foram simples comentários, houve algum problema?

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