Não faltam fatos e análises para que se veja a ameaça de uma intervenção militar no processo eleitoral brasileiro.
Quando se chega ao ponto do presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Edson Fachin, ter de dizer que ela não será aceita, está admitindo que existem intenções de fazê-la.
Na sua coluna de hoje em O Globo, Miriam Leitão afirma que o representante das Forças Armadas, inacreditavelmente convidado por Luís Roberto Barroso para integrar uma “Comissão de Transparência”, está agindo em sintonia com o Planalto para alimentar dúvidas sobre a apuração dos votos:
“A quilométrica lista de dúvidas do general de divisão fala por si. Ele foi escolhido pelo então ministro da Defesa que hoje é o possível candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro. Na tréplica ao TSE, o general de divisão Heber Portella disse que “não foi possível visualizar medidas a serem tomadas em caso de constatação de irregularidade nas eleições”. Quem lê todo o diálogo se dá conta de que ele não quer ser convencido, prefere procurar uma suposta falha. Isso mostra exatamente o que o ministro Luís Roberto Barroso afirmou: as Forças Armadas estão sendo orientadas a alimentar a dúvida sobre as eleições deste ano. Isso não é “grave ofensa” aos militares, é a constatação dos fatos.”
Vinícius Sassine, na Folha, relata como o golpismo presidencial “segue sem ser incomodado, e ouve “sims” de seus generais para instrumentalização da Defesa, descredibilização das urnas eletrônicas e desfile de tanques enfumaçados em frente ao Planalto”.
“Bolsonaro está à vontade para ser golpista”.
Os generais no alto-comando que se opõem a isso, se existem, não podem se atrever a um pio sequer, depois que viram que Bolsonaro degola oficiais como fez com seu próprio comandante Edson Leal Pujol.
Se foi um erro – e gravíssimo – chamar os militares para onde não era o seu lugar, será ainda mais grave deixar de dizer que não podem entrar naquilo que não é sua atribuição: contar votos, com Bolsonaro a fungar em seus cangotes.