O plebiscito no Chile e o vanguardismo

Começou a contagem dos votos dados no referendo para aprovar ou rejeitar uma nova constituição para o Chile.

E, pelo andar da apuração, o projeto de vanguarda que se elaborou, durante um ano, na Constituinte convocada naquele país, vai agora, penosamente, ter de ser disputado fragmento por fragmento no parlamento chileno, muito mais conservador que a câmara constitucional.

A derrota é de grandes dimensões e vai fortalecer em muito a direita, que vinha de uma série de derrotas eleitorais.

O programa vanguardista, possivelmente, deu um passo muito além do que poderia sustentar e, agora, terá de voltar alguns passos para recuperar seu apoio.

O presidente Gabriel Boric convocou uma reunião com líderes de todos os partidos do Chile, para tentar um acordo para executar mudanças na constituição herdada de Pinochet, que os governos de esquerda do país conseguiram emendar, mas não aposentar.

Talvez porque soubesse que o sonho é necessário, mas o realismo é imperioso.

Os jovens de Santiago e de Valparaíso, hoje, amadureceram mais que em anos. Descobriram que as avenidas e praças são muito, mas não são tudo.

A política precisa de seu empurrão, mas não lhe pode se deixar conduzir apenas por ele.

A direita, alimentada pelo medo, quando não está na rua, está na esquina, camuflada pelo silêncio. O medo, o preconceito, a intolerância, não importa o quanto sejam tóxicos, são obstáculos a vencer com tempo, paciência e quase nunca todos de uma vez.

Para nós, também, uma preciosa lição de que aqui, como lá, nada está decidido e que não se pode deixar que a acomodação de vitórias que parecem certas nos dão o flanco aos que se escondem, porque sua causa é ruim e não pode se mostrar.

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