O prato frio da vingança de Gilmar Mendes?

tocaia

Se alguém não sabe  quem é Marcio Chaer, editor do site Consultor Jurídico, transcrevo abaixo a descrição que faz dele o jornalista Rubem Valente, da Folha, autor do livro “Operação Banqueiro”:

Chaer tem ou teve como clientes de suas empresas alguns dos principais escritórios de advocacia do país, muitos dos quais receberam recursos da companhia telefônica Brasil Telecom na época em que ela era comandada por pessoas indicadas pelo grupo Opportunity. Márcio Chaer é amigo íntimo do ministro do Supremo Gilmar Mendes, devidamente referido em meu livro.

Dito isso, ficamos livres para pensar que o artigo publicado por Marcio Chaer, ontem, insinuando de maneira nada indireta que o ex-Ministro Joaquim Barbosa é, em matéria de conhecimento jurídico, algo próximo do nada, possa ter uma espécie de identidade de avaliação de Gilmar Mendes, pelo intenso convívio de ambos,   mesmo que não  uma “coautoria espiritual”.

Diz de Joaquim o amigo de Gilmar:

(…)cada voto era um suplício. Até a leitura da decisão, preparada pela assessoria, a coisa ia bem. Mas quando chegava a hora dos costumeiros questionamentos dos demais ministros ao relator, complicava. Atônito, sem respostas, ele se punha a reler o voto — que não contemplava a informação solicitada. Uma nova pergunta se seguia de nova leitura do voto.

Até que um ou outro colega mais paciente, ou menos cruel, passou a vir em seu socorro. “Vossa Excelência, então, quanto à preliminar suscitada, acolhe os embargos, certo?” Ao que Joaquim murmurava algo em sentido positivo. Outro completava: “Quanto ao mérito, o relator considera prejudicado o pedido, é isso?”. Com uma variação ou outra, os votos iam sendo acochambrados até se dar formato a uma decisão inteligível ou minimamente satisfatória.

Chaer descreve que, numa roda de ministros,  alguém comentou, jocosamente:

“Olha o que ouvi agora: sugeriram ao Joaquim mostrar sua contribuição técnica no Supremo”. E todos caíram na risada.”

Não tenho, é claro, elementos para julgar com tanta severidade as luzes jurídicas de Barbosa e muito menos duvido que Chaer, que frequenta aqueles tapetes há anos, possa de fato não estar distante do juízo que fazem dele os demais ministros.

Mas há, no texto, duas coisas gravíssimas.

A primeira é a afirmação de que a Ação Penal 470 foi o tablado em que Joaquim Barbosa fez sua exibição de poder ante seus próprios pares, criando um clima em que divergir dele seria ser conduzido ao “matadouro” diante da mídia e da opinião pública por ela insuflada.

“As poucas vozes que ousaram “chutar a santa” canonizada pela opinião pública, sedenta de vingança contra a comunidade política em geral e contra o PT em particular, enfrentaram o risco aventado por Nelson Rodrigues e as vaias da plateia.”

Boa razão para a frase do Ministro Luiz Roberto Barroso, logo em suas primeiras manifestações no STF:

“Não estou almejando ser manchete favorável. Sou um juiz constitucional, me pauto pelo que acho certo ou correto. O que vai sair no jornal no dia seguinte, não me preocupa”. “Eu cumpro o meu dever. Se a decisão for contra a opinião pública é porque este é o papel de uma Corte constitucional”

Mas, para os demais, uma vergonha em acompanhar situações que só recebiam a desabrida defesa de quem, por razões políticas, simpatizava com os atropelos de Joaquim Barbosa, como o próprio Ministro Gilmar Mendes e o “ministro” Merval Pereira.

O segundo fato grave está bem lá em cima, antes de iniciar-se o artigo: a data.

Dias após a aposentadoria de Joaquim Barbosa, torna-se meramente vingança covarde fazer aquilo  que seria, antes,  um ato de informar a população e a comunidade jurídica de algo da maior gravidade – um ministro ser incapaz tecnicamente na avaliação de seus próprios colegas e estar usando uma ação penal como instrumento de sua afirmação em um tribunal que o desprezava.

Assim é que Joaquim Barbosa tornou-se, ele próprio, alvo das vilanias que praticou e até de seus próprios arroubos, como aquele em que perguntou a Gilmar Mendes se estava falando “com os seus capangas lá do Mato Grosso”.

Não, não estava.

Até porque os capangas do Mato Grosso, mesmo pacientes em suas tocaias, usam outras armas e não têm tanta paciência para esperar.

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20 respostas

  1. José Dirceu, ex-ministro da Casa Civil do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou que recorreu de sua condenação à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Esta mais do que na hora de colocar em pratos limpos, esse achincalhe a nossa justiça cometida pelo STF ficando de cócoras p/ um ministro inepto como Joaquim Barbosa se acovardando e deixando-se pautar pelos interesses da Mídia. Qual a segurança jurídica do cidadão Brasileiro passa a ter com STF dessa envergadura?

    1. Barbosa já saiu e turma do Dirceu não entrou ainda, como prometeram, com pedido de anulação de todo AP 470, Valério faz uma falta danada nessa campanha, e de R$ 4 bi de indenização por danos morais

  2. Essa matéria será ignorada pela grande mídia, com certeza. Podiam perguntar ao Gilmar Mendes sobre o assunto.

  3. Sabemos quem JB representou nessa farsa e Gilmar foi conivente. Seria ele tão burro para usar um expediente desse em tão pouco tempo de afastamento de Barbosa? Se for, isso pode significar perigos maiores para a ex-celebridade. Pode significar tentativas de extorsão, inclusive de quem o incensou, para a verdade inteira não chegar à tona.Triste sina.

  4. Se Gilmar é o “ghost-writer”, o que pensar dele, depois de ter seguido praticamente na íntegra os absurdos do relator na AP 470?

    1. Sidnei Brito, é muito simples a resposta: o inimigo de meu inimigo é meu amigo, ainda que circunstancialmente.

  5. Volto a dizer: o Joaquim Barbosa foi, no STF, mais um exemplo da relação dos capitães do mato, de ontem e de hoje. A Casa Grande o utilizou para assumir a autoria do trabalho sujo (hoje, a AP 470), porque, como sempre, ela não queria sujar as mãos.

    Ai entra o JB que, como ontem e hoje, na tentativa de ser aceito pela Casa Grande, realiza o trabalho sujo, mas, como sempre, o capitão do mato não é aceito por esta. E restou ao capitão do mato o afastamento voluntário de sempre e a favela. Detalhe: dadas as circunstâncias, o novo capitão do mato foi para uma favela luxuosa(Miami), um ostracismo melhorado.

    Novo detalhe. de ontem e de hoje: mesmo voluntariamente afastado, o capitão do mato de ontem e de hoje toma o esperado ancestral pé-na-bunda da Casa Grande – quer dizer, um ato de explícita e rumorosa desmoralização social do capitão do mato.

    Detalhe pitoresco: o pé-na-bunda da Casa Grande sempre teve por finalidade proporcionar o ostracismo social. No caso, este ostracismo somente teria sentido com a desmoralização jurídica do Joaquim Barbosa, daí o artigo do Márcio Chaer. Enfim, a história brasileira dói.

  6. Enquanto isso quem está dependendo dos processos trabalhistas, julgados pelo STF, até mesmo aqueles com ganho de causa, fica a ver navios, morrem sem ver a cor do seu suado dinheirinho, com seus processos engavetados, pelos precatórios, pela morosidade da justiça. Se fosse somente os ministros do STF, ainda não seria o fim do mundo, mas a falência do nosso sistema judiciário começa lá no município. Falam da corrupção do PT e se esquecem do Juiz Lalau, dos juízes e promotores que vendem decisões judiciais, de jurados que são convocados para votar a favor dos réus. Se a reforma política não sair, e o Poder Judiciário não for incluído, se não houver uma reforma geral nos estatutos da federações de futebol, nos estatutos das associações, dos sindicatos, na lei de imprensa, nas concessões de radio, tv, de postos de gasolina, de casas lotéricas, dos correios terceirizados, dos cartórios, dos direitos constitucionais iguais para o cidadão. Enquanto não for desativadas todas as quadrilhas que atuam dentro das prisões como o PCC e outras organizações criminosas, poderemos ter o melhor presidente do mundo que a violência e a injustiça social irá continuar no mesmo lugar. Somente o eleitor pode mudar este quadro escolhendo de forma responsável os seus governantes. Mas pelo que tenho visto, a desinformação entre os eleitores mineiros e paulistas chega a simples teimosia e ódio gratuito contra o PT, contra o PC do B e partidos verdadeiramente a serviço da classe média, dos trabalhadores e das classes esquecidas pelo poder econômico que, abusam da ignorância daqueles que não tendo nada a ganhar continua a votar em seus adversários e adversários dos seus filhos.

  7. “(…)cada voto era um suplício. Até a leitura da decisão, preparada pela assessoria, a coisa ia bem. Mas quando chegava a hora dos costumeiros questionamentos dos demais ministros ao relator, complicava. Atônito, sem respostas, ele se punha a reler o voto — que não contemplava a informação solicitada. Uma nova pergunta se seguia de nova leitura do voto”.

    Cargos como o de Juiz do Supremo Tribunal Federal ou de Procurador Geral da República, não podem ser escolhidos de qualquer jeito, por indicação de fulano ou cicrano, ou do corporativismo da instituição, no caso do MPF. É necessário antes se averiguar se o candidato tem competência, capacidade, honestidade, isenção para ocupar o cargo. É necessário fazer-se um levantamento minucioso do trabalho pregresso, com relação a questões como comportamento, firmeza, conhecimento, caráter, ética, eficiência, etc. E também é importante não indicar opositores políticos do governo para esses cargos, pois isso, não é admissivel em lugar nenhum do mundo.

  8. Jose Menino Monteiro:

    A Academia Mundial de Saúde se mostra preocupada com o surto da Síndrome Demotucana no Brasil.

    A ciência médica, apesar de todos os esforços, ainda não tem resposta para a cura ou controle dos portadores da SCISS ( Síndrome de Cegueira Ideológica Super Seletiva). Tais pessoas apresentam a anormalidade de não enxergar o óbvio, distorcendo a realidade e fantasiando o futuro. São portadores, ao contrário dos doentes com Alzheimer, de profundo desgaste da memória passada e alucinações do presente. Em alguns países, como o Brasil, esta síndrome recebeu denominação local : Síndrome Demotucana do abandono tardio.

  9. … O rábula psicopata e o MENTIRÃO, o golpe jurídico-midiático ora em curso!…

    … E enquanto o DEmoTucano ‘Eduardo 22 Anos de Papuda Azeredo’ colabora na campanha do congênere Aécio ‘Never’, temos:

    Congresso instala CPI do Metrô, mas só começa investigação em setembro

    CACHOEIRA – perdão, ato falho -, FONTE: http://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2014/08/06/apesar-de-instalada-cpmi-do-metro-so-comeca-investigacao-em-setembro.htm

    RESCALDO: o que deveria ser a CPI do TRENSALÃO DO PSDB!…

    EM TEMPO: se ‘o [tíbio] PT da Governança’ não endurecer contra esses crápulas incrustados na máquina pública e no PIGolpista, em breve, nos tornaremos uma Honduras de quinta categoria! Ô!…

  10. errata desprezível:

    DEMoTucano ‘Eduardo 22 Anos de Papuda Azeredo’

    Viram, estropícios?!…

  11. A aposentadoria de JB (aos 59 anos de idade) foi fundamentada no art.3º da Emenda 47, que exige 15 anos de efetivo exercício na carreira. E a carreira, para fins de aposentadoria no serviço público, se inicia com o ingresso no órgão. Mas JB foi nomeado para o STF em 2003 e, portanto, não tinha 15 anos na carreira. Houve “jeitinho” ou há alguma “interpretação” da lei para facilitar a vida das excelências?

  12. Eu sempre acreditei no Batman…. Mas aquele do filme.!!
    Era notória a falta de traquejo do Quinzinho.
    Infelizmente foi uma “bola fora” do nosso grande líder, Luiz.
    Como diz aquele jargão: JÁ VAI TARDE….

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