O projeto é não ter projeto

Vai ficando cada vez mais preocupante o que nos espera com o governo Jair Bolsonaro.

Os “planos” do presidente eleito são, até agora, de demolição, não de construção.

Vimos um exemplo terrível e desumano com o caso dos médicos cubanos que, em apenas um mês, deixarão sem assistência mais de 25 milhões de brasileiros, no que, num expressão definitiva, Bernardo Mello Franco chamou, em O Globo, de “Programa Menos Médicos”.

Mas não é o único desmonte à frente.

Nos jornais de hoje, fala-se tanto em demitir quanto em reduzir salários dos servidores públicos, algo mais fácil de dizer do que de fazer, porque não apenas há impedimentos legais e constitucionais como, de um lado, enfrentará forte resistência do legislativo e, mesmo em programas de desligamentos voluntários, terá pouca chance de prosperar com as corporações mais bem remuneradas e até com servidores mais modestos, no quadro de desemprego que temos.

No campo dos investimentos, o cenário é desolador. O programa manifesto para o BNDES é o de ampliar a devolução de recursos ao Tesouro, o que, vale dizer, é tirar caixa do banco para emprestar aos agentes econômicos de todos os tamanhos. Panorama desanimador, já que os escândalos políticos tiraram o vigor dos setores que poderiam responder a um programa de investimentos: a construção pesada, o petróleo e a exportação de carnes manufaturada ou semimanufaturada.

Novamente – como desde Joaquim Levy – a expectativa de equilíbrio econômico se baseia na visão medíocre de vender o que resta de patrimônio estatal para cobrir o que a arrecadação de impostos sobre a atividade da economia, o que é, mal comparando, passar a viver da venda dos móveis da casa em lugar do salário, o que “quebra-galhos”, mas não faz mais que adiar crises.

Na educação, a bandeira pública, agora, em lugar de ampliar e melhorar escolas, é calar professores e estimular alunos e pais ao papel de dedo-duros.

Nossas relações com o mundo foram entregues a um patético sujeito que quer “ajudar o Brasil e o mundo a se libertarem da ideologia globalista”, cujo objetivo seria “romper a conexão entre Deus e o homem, tornado o homem escravo e Deus irrelevante”, contra o qual é necessário “abrir-se para a presença de Deus na política e na história”. Se tiver paciência com um sujeito destes, leia o artigo em que Clóvis Rossi traça o perfil do “Cabo Daciolo” intelectualizado.

Depois de anos de crise, é claro que o Brasil tem potencial para recuperação da atividade econômica e é provável que os primeiros meses de governo tenham indicadores positivos neste campo, se o furor moralista e acusatório não trouxer mais insegurança ao quadro da economia.

Mas tudo será só “fumaça” sem rumo econômico e tudo dá a impressão de que teremos um período semelhante ao Governo Temer e uma retomada “voo de galinha”.

Fernando Brito:

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  • 'E a responsabilidade de tudo isso,se chama "ELEITOR",que deu ao aludido senhor,os votos pra se eleger.Claro esta,que na frente de todos eles,esta a COMANDANTE EM CHEFE,que chamam atualmente de "CLASSE MÉDIA",outrora PEQUENA OU ANÃ BURGUESIA,cujos ódios de classe,são maiores do que a de seus PATRÕES,os RICOS,que não sendo burros,estão ora aqui ora acolá.E se alguém não souber do que se trata,a IDEOLOGIA MÉDIA,adianto que tal ideologia,se origina da RAIVA QUE ESSA GENTE TEM,dos pobres e da pobreza,pois nasceram com a ilusão de que ficariam também ricos,como seus senhores e,ao constatar que é impossível,senão PELA LOTERIA,que eles erram sempre,se agarram nas ilusões de que,PENDURAR-SE NAS GENITÁLIAS DOS BURGUESES,também com intenções mal sucedidas.E os pobres,VÍTIMAS CONTUMAZES DA PROPAGANDA,crê no que lhes dizem,PROPAGANDISTAS,de toda espécie,particularmente O JORNALISMO.Não é atoa,que a PROPAGANDA,conseguiu na HISTÓRIA,fazer com que muitos ,ainda sonham em ir para o céu.

      • Pelo menos 50% da responsabilidade. Os outros 50% são da Inacreditável imbecilidade e pobreza de espírito de nossa classe média.

        • E dos pobres de direita. Que são os pobres de espírito que são contra seus próprios direitos. Mire e veja os mais médicos, a reforma da previdência e a reforma trabalhista.

    • A classe média brasileira (por razões historicas e culturais) é sadomasoquista : sádica com os pobres, a quem detesta e despreza (provavelmente devido ao medo subconsciente de cair na pobreza) e masoquista com os ricos e poderosos, a quem serve e admira (pelo desejo ardente de ser um deles). Vai daí, o ressentimento e a raiva de observar qualquer benefício sendo desfrutado pelas classes menos favorecidas - é como se estivessem sendo roubadas por algo que por direito lhes deve apenas pertencer. Não houve debates de projetos nessa eleição, apenas divisões e ressentimentos. Os frutos da raiva, do egoismo e da ignorancia, serão colhidos nos proximos anos pela sociedade brasileira...........

  • "Doutrina do choque". Está tudo lá. Primeiro, vem a etapa de demolição do que existe, em seguida impõe-se o neoliberalismo predatório. O que mudou foi que o golpe militar foi substituído pelo golpe jurídico-midiático seguido de uma farsa eleitoral para dar início ao processo.

  • O apoio da bancada evangélica, da bancada da bala e da ignorância social ressentida é algo que foi construído por Bolsonaro nos últimos dois anos.
    Bolsonaro é um “animal politico”.
    Venal, traiçoeiro, mas é.

    Sua visão de Brasil é fragmentada pela sua ignorância.
    Ele, a bem da verdade, não conhece absolutamente nada do país que vai governar e confia nos “auxiliares” para lhe dizerem o que fazer. Deixou isto muito claro em toda a campanha.
    Seu objetivo é unicamente “acabar com o comunismo” no Brasil. Nada mais ele diz e nada mais lhe foi pedido dizer para ser presidente.

    O governo eleito não poderá servir ao populismo conservador fascista, ao “deus mercado” e ao nacionalismo autoritário ao mesmo tempo.
    Suas pautas comuns terminam no “uso da força” e na “extinção da esquerda”.
    Ocorre que um governo precisa apontar ações afirmativas e, para elas, não há nenhum consenso.

    Daí pode-se dizer que viveremos uma espiral de autoritarismo, redução de liberdades, redução de direitos e empobrecimento da sociedade.

    E, para aplacar os ânimos, teremos bastante borracha, e os acordos de silêncio com a mídia já não resolverão o problema.
    -
    * Fernando Horta.

  • Para os que o elegeram, uma sugestãozinha: façam sinais de arminhas com as mãos, quem sabe o "paladino" entenda a ideia e mude de “planos”.

  • O que vai pelo mundo nos dias de hoje - Até mesmo Israel agora busca conforto nos generosos braços vermelhos da China. O Bolsonaro, com sua política "acima de tudo" vestida de ideologia retrô, não saberia mais dizer quem é quem no cenário geopolítico global. Breve até os Estados Unidos será acusado por ele de ser “comunista”. Vejamos este artigo recente de Thierry Meyssan:

    A Rota da Seda e Israel, Por Thierry Meyssan – 30 de Outubro

    "Pequim desenvolve sem cessar o seu projeto da «Rota da Seda». O seu Vice-presidente, Wang Qishan, empreende uma digressão pelo Próximo-Oriente que o conduziu a, nomeadamente, quatro dias em Israel. Segundo os acordos já assinados, a China controlará em dois anos o essencial do agro-alimentar israelita, da sua alta tecnologia e das suas trocas internacionais. Deverá seguir-se um acordo de livre comércio. Toda a geopolítica regional se verá, assim, virada do avesso."

    "Desde 2016, a China negocia com Israel um acordo de livre comércio. Neste contexto, o Shanghai International Port Group comprou a concessão de exploração dos portos de Haifa e Ashdod de modo que, em 2021, a China controlará 90% do comércio israelita. A Bright Food adquiriu já 56% da cooperativa dos kibutz Tnuva, e poderia aumentar a sua participação, de tal modo que a China controlaria o essencial do mercado agrícola israelita. O fundador da loja “on line” Alibaba, Jack Ma, que veio a Telavive incluído na delegação oficial chinesa, não escondeu a sua intenção de comprar muitas “start up” israelitas afim de incorporar a sua alta tecnologia."

    La route de la soie et Israël - https://www.egaliteetreconciliation.fr/La-route-de-la-soie-et-Israel-52663.html

    • Só falta o novo governo, para agradar o Trump, cavar uma guerra comercial com os comunistas chineses...Será que a turma do agronegocio e demais exportadores vão apoiar a cruzada antiglobalista e aceitar levar um tiro no pé????A conferir nos próximos capitulos.....

  • Não tem uma foto que este palhaço não apareça fazendo este gesto com as mãos, é muito doente este cara.

    • Façamos nós um gesto de esfaqueamento em resposta. Não se joga limpo com quem joga sujo.

    • Bote Muito doente nisso. mas 57 Milhões votaram nisso ai da foto. incrível é ver"nossa imprensa"tratando isso de maneira normal! enquanto a sociedade ignorar e tratar a imprensa que nós temos como algo"chique",nosso destino é a falência!

  • Governo do ódio ao Petismo! Tudo que foi conquistado será demolido! Essa é a verdade ! A Globosta começou arquitetar essa demolição desde o primeiro governo do gigante Lula ! E foi tomando forma na diária divulgação contra o PT ! E a classe rica cheia de ódio e loteando o judiciário , PF, MPF começou toda a farsa e essa porcaria que está já chegando e com muita firfo para acabar de vez com o Brasil ! Não adianta falar outra coisa ! Já foi desenhado e pintado ! E a turma do PSDB solta e o seu maior bandido Aecim do po aí batendo asas deputado federal com imunidade dois padrinhos fortes Gilmau e o juizeco hoje ministro das cadeias prender por convicção! Estamos todos nós perdidos !

  • @albertocalmeida
    "O lema de Bolsonaro é o mesmo de Trump: Estados Unidos em primeiro lugar".
    Tweet de Alberto Almeida. Genial

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