Coube ao jornalista Kennedy Alencar, no UOL, definir com exatidão as cenas que nosso país vive com o crescente envolvimento das Forças Armadas no processo eleitoral, franca e abertamente comandado pelo sr. Jair Bolsonaro e por seu virtual candidato a vice, o general da reserva Walter Braga Netto:
Numa democracia, é uma cena absurda uma visita do ministro da Defesa [o general Paulo Sergio Oliveira] ao presidente do STF. No entanto, isso aconteceu hoje em Brasília, quando Luiz Fux, presidente do Supremo, recebeu o ministro Paulo Sergio Nogueira. É uma cena típica de república de bananas.
Não foi a única cena assim: a foto oficial da reunião entre Jair Bolsonaro, seu ministro “nominal” da Defesa e o os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica tinha, em posição equivalente, o ministro “de fato” Braga Netto, oficialmente apenas um “assessor” presidencial mas, de fato, o comandante paralelo das Forças Armadas.
Depois de ter subvertido o sentido da disciplina militar, ao buscar um relacionamento direto com as tropas, bypassando os comandos, agora Bolsonaro investe contra a hierarquia, quase que abertamente.
Sinaliza, para quem quiser ver – inclusive nos quartéis, que instalou um “gabinete paralelo” na Defesa, no qual seu candidato a vice tem um “ministério informal” ao qual se subordinaria o ministro “de direito” o general Paulo Sérgio.
Como não há duplo comando, o que está fazendo ali Braga Netto, que não participa mais da cadeia hierárquica? Ele, agora, é um simples político, filiado a um partido e candidato a eleições! Deveria ser o primeiro a afastar-se das decisões militares.
Ainda mais daquelas que, indevidamente, invadem o terreno da política.
A manchete do Estadão reforça esta impressão, ao relatar que o general indicado por Braga Netto para “contribuir” com o Tribunal Superior Eleitoral na segurança das urnas – por uma iniciativa absolutamente tola de Luís Roberto Barroso – , segundo o jornal , “reproduz o discurso eleitoral do presidente Jair Bolsonaro, que tem colocado em dúvida a segurança das urnas eletrônicas e mantido a própria atuação da Corte sob suspeita.”
Se o general Paulo Sérgio foi ontem, de fato, garantir ao Judiciário que as Forças Armadas não sairão de seu papel constitucional para tutelar (ou definir) o processo eleitoral, bem que poderíamos deixar o assunto de lado e debater o que realmente interessa, a crise a que se submetem os brasileiros. Mas, do jeito que o governo trata a questão, seria o caso de perguntar ao general se também fala em nome do general Braga Netto.
