Ontem à noite, uma chuva bendita acabou com a energia elétrica aqui, com isso, não pude comentar as manifestações anti-impeachment.
Mas não me impediu de receber telefonemas, entre eles o da jornalista Regina Célia, uma brizolulista com quem nunca preciso conversar antes para que cheguemos às mesmas conclusões: pensamos e sentimos igual, depois de mais de 30 anos de convívio político e profissional.
Com o ruído da Cinelândia ao fundo, ela me diz, no seu jeito desabrido: Fernando Brito, não vejo isso aqui assim desde a “brizolândia”.
Animação, energia, juventude presentes, não apenas as “máquinas” sindicais e partidárias, envelhecidas e enfraquecidas.
Hoje, a pesquisa do Datafolha confirma esta impressão.
Com todo o desgaste do Governo Dilma – e ponha desgaste nisso – e sua falta de ação política, o núcleo das forças que o apoiam, ainda que criticando, não se dispersou. Ao contrário, permanece sólido e uma referência para quem quer considerar a política, que vai, é claro, muito além do “quanto cada um bota na rua”.
O recado da rua, ontem, não foi o de que as coisas vão bem, tanto que não tenho motivos para duvidar da estatística apresentada pela Folha de que só metade dos manifestantes considere “ótimo ou bom” o Governo Dilma, porque aqui, entre blogueiro e leitores, sua atuação (ou a falta dela) frequentemente seja criticada.
Nem o de que os manifestantes de ontem estejam mais perto, em características sociais, de um retrato do povo brasileiro, ainda que em São Paulo.
A mensagem, essencial, é a de que uma solução que atropele o voto e a escolha eleitoral feita pelos brasileiros não será aceita “no grito”.
Nem a do impeachment, nem o da desfiguração total do governo cuja escolha teve um sentido.
É adequado e compreensível que o PT e o governo Dilma ouçam e considerem as ruas de domingo, para saber que terminou sua ilusão de ser, para sempre, aquele “de todos” que, apesar de generoso, não mostrava que este era – embora um pouco menos do que sempre foi – um país de poucos.
Mas é vital, indispensável que compreendam, também, que seu DNA está clamando por outra atitude: mais clara, mais limpa, mais valente no coração e nas palavras.
O governo precisa fazer política, pois sem ela só o que consegue é chegar ao desgaste que chegou, poucos meses depois de ter o voto da maioria.
Mas necessita, de forma tão vital, da polêmica e do confronto com o que é intolerável aos brasileiros, sob pena de ver perder-se sua identidade.
E quem perde sua identidade não é ninguém.
14 respostas
Brito, hoje inauguração de parte das obras de Transposição do Chico, depois de séculos da ideia original, época do Império. Vale um post bem representativo do fato.
05 políticos de direita decidindo no lugar de 50 milhões de votos? não aqui !
Quando começo minhas aulas de metodologia, costumo contar uma piadinha, adaptada para o futebol de um livro americano que falava em beisebol. No campeonato do ano passado, o time último colocado na tabela termina o ano com seis gols a favor e 32 contra. Esse ano, para surpresa de todos, com três rodadas do campeonato o time está em primeiro lugar. O repórter entrevista, então, o técnico:
– Ano passado, durante todo o campeonato, vocês fizeram apenas seis gols e esse ano, em três rodadas, já são dez gols. Qual a diferença?
E o técnico: – Quatro!
Por maior que seja minha paixão pela matemática, há análises quantitativas e análises qualitativas. Mas nem todo mundo consegue enxergar além dos números.
Como fazer política se a Câmara e o Senador está lotado de achacadores? Pra governar o país tem que fazer o jogo dos pilantras e distribuir dinheiro pra esta turma?
Corrigindo: “se a Câmara e o Senado estão lotados de achacadores”
Considero o horário das manifestações de ontem inadequado, as pessoas trabalham ou estudam, e muitas não vão faltar ao trabalho para participar, além de abrir espaço para comentários.
Considerando que as manifestações aconteceram em um dia útil, o número de pessoas é até razoável, porém pouco representativo a ponto de criar oposição aos atos de domingo dia 16.
O ideal é que as periferias se organizem para que as manifestações aconteçam aos sábados, ou domingos, e assim possibilitando uma melhor adesão da população humilde, que fatalmente, não abre mão de ir trabalhar para estar em uma manifestação.
Abraços,
O horário atrapalhou um pouco por um lado, mas por outro, pode mostrar que o povo trabalhador está atento ao golpe e apoiando a continuidade da presidenta. Como eu, que fui na hora do meu almoço para a concentração na Candelária (RJ) e no final do meu expediente para a Cinelândia, vários outros trabalhadores também foram. Além de muitos, mas muitos mesmo, jovens!
Historicamente as manifestações de esquerda são em dia de semana, não sei se é para aproveitar trabalhador na rua, saindo do trabalho ou para chamar a atenção da população que circula em dia normal. Me lembro que raramente na minha época houve alguma coisa em domingo, se não me engano só um dos comícios da diretas já?
Datafolha e cálculos da direita tem um “bug” estranho: anabolizam as manifestações coxinhas e desidratam as manifestações progressistas. 37.000? Sei… Organizadores dizem 75.000 mil; PM diz 60.000 e aí o Datafolha joga isso pra baixo. Eu estava no bloco da frente. A dianteira já estava no MASP e ainda estávamos saindo da Rebouças; lá pra trás havia mais gente do que havia à minha frente. 37.000…
Minha irmã foi ao Rio de Janeiro, quase não volta, porque o último ônibus saiu às 18 horas. Ela foi obrigada a vir por outro município para chegar em casa. Viu um pouco da concentração na Cinelândia, conversou com algumas pessoas. Disse que uma delas ouviu do patrão que ninguém ia ser liberado mas cedo por passeata, então ela pediu demissão. Quando minha irmã pegou um táxi para a rodoviária, o motorista começou a vociferar contra Dilma e o PT. Ela falou logo, olha aqui, se o senhor quer me deixar aqui, pára que saio. Ele continuou e diminuiu a velocidade. E ela disse, o senhor pára que vou sair , mas vou denunciá-lo por esse tratamento. Ele disse que ia prosseguir. Ela falou que estava bem, contanto que fossem e silêncio. E ele foi. A gente sabe que não dá para argumentar, então que se respeite as normas. O que a deixou feliz foi o clima entre as pessoas, muita energia boa.
Leio os dois primeiros artigos do Brito desse dia 21. Todos os dois irretocáveis. Por isso, Brito, não tenho o menor erro de errar ao dizer que você, e os demais blogueiros progressistas, como o Miguel do Rosário, foram a sustentação do Governo nesses tempos sombrios de 2015. Parabéns. Vocês fazem parte da história do país, como aqueles que, com seus blogs guerreiros, impediram o golpe patrocinado por globo, veja, folha.
Pois é os coxinhas sem identidade não é nada.
Gostaria muito de interagir – interagir, Brito, não vou brigar, mas sem promessas- com as pessoas que comentam aqui, assim como acontece pelo face. Eu disse aqui que só ia abrir um face, porque lá no IG não se podia mais comentar como antes. Somente por isso. Não sou fã de face. Mas o legal, lá em cima, é que a gente pode aprender mais, dar e receber sugestão, receber respostas a certas perguntas, e depois aparecem, lá no e-mail, as notificações. Seria muito bom. Mas não sei se seria viável.
Une affirmation qui fait bondir les concernes. http://lenitsky.com/holodaet-premera-pesni/ Mais tout est suspendu a un deuxieme proces.