O literato inglês Samuel Johnson, no século 18. criou a frase que atravessou o tempo: “o patriotismo é o último refúgio do canalhas”.
Voltasse no século 21 e tivesse a desventura de ver o que o Brasil é hoje, talvez reformasse a frase e dissesse que o Patriota, pseudopartido no qual Jair Bolonaro pretende desembarcar, é o tal último refúgio do – a palavra é elegante na língua inglesa – scoundrel.
Pois não é que, ao que parece (e tudo pode ser uma jogada de negócios) que Jair Bolsonaro inclina-se a usar o partido Patriota (ex-Partido Ecológico Nacional – PEN) como seu refúgio para as eleições do ano que vem, depois de conseguir perder o PSL e frustrar-se o tal “partido 38”, o Aliança pelo Brasil.
—”Está quase certo. Estamos negociando. É como um casamento, né? Programado, planejado, para não dar problema, né?”
No PSL, foram para o brejo os negócios com Luciano Bivar, o dono da sigla, alugada ao candidato de 2018.
No “Aliança”, a inacreditável história de que não foi possível reunir assinaturas suficientes para legalizar a legenda daquele calibre. Assinaturas em número que, recordem-se, até Marina Silva e Paulinho da Força conseguiram juntar, e não há dúvida que o “Mito”, que alega ter multidões atrás de si, teria mais facilidade em arrebanhar, se me perdoam o verbo.
Será seu candidato a presidente, vaga que foi ocupada em 2018 pelo Cabo Daciolo, que deixou a legenda.
É claro que um presidente que tem maioria (e folgada) na Câmara dos Deputados possuiria, em tese, um cardápio de partidos e partidecos a escolher no qual filiar-se.
Mas não é bem assim.
Em primeiro lugar, os deputados que controlam suas máquinas partidárias sabem que Bolsonaro lhes entraria como um trator. Uma, duas ou três cadeiras que lhes caberiam seriam abiscoitadas, provavelmente, pelos candidatos das suas falanges e diminuiriam ou anulariam a chance de eles próprios conservarem o mandato.
Depois, numa eleição polarizada, na qual – em especial no Nordeste – sentem que Lula pode se tornar uma onda e, claro, não têm porque remar contra a maré. Como escreve a jornalista Helena Chagas, “querem marchar livres, leves e soltos para 2022. Alguém duvida que, num eventual novo governo do PT, eles estarão lá?”.
Bolsonaro também não se importa muito com um partido – e alianças – que lhe garantam um tempo expressivo de televisão. Aposta que sua campanha seja nas redes, no smartfone, não nos aparelhos de TV.
Robôs valem militantes, fake news valem mais que argumentações. Está no poder, mas faz-se de vítima.
Bolsonaro é o “rei da treta”, tem uma estrutura profissional (e, em parte, clandestina) montada e uma estratégia pronta, que só não vê quem não quer. Ser a vítima, o anti-establishment faz parte do seu show.