Em parte, a decisão está quase tomada, porque nada menos 42% dos norte-americanos já votaram antecipadamente, formando filas enormes, ontem, em diversas cidades dos EUA. E é provável que, até amanhã, quando restará ainda uma semana para o dia limite da escolha do novo presidente já sejam mais de 68 milhões os votos depositados previamente nas urnas, superando a metade dos eleitores de 2016.
Não é só o medo de aglomerações no dia 3 de novembro o que tem levado tantos eleitores às urnas, assim como não é só o desprezo pela segurança sanitária que tem produzido os comícios com que Donald Trump aposta para dar a impressão de que sua candidatura não está na situação de naufrágio em que a colocam as pesquisas de opinião.
Há, por lá e pelo mundo, a sensação óbvia de que se disputa uma batalha planetária decisiva para que se saiba se a maré extremista que nos fez retroceder às fronteiras da barbárie em apenas metade de uma década.
Aqui entre nós, sobretudo, uma derrota ou uma vitória de Donald Trump fazem toda a diferença em nossas disputas políticas e de comportamento social.
Primeiro, porque, desde o lavajatismo das manifestações pró-impeachment a direita não enfrentou um revés tão forte e significativo quanto o que representaria a saída do poder da inacreditável figura que ocupa a Casa Branca.
O quadro de isolamento político do governo Bolsonaro, fora e dentro do país se elevará a um grau imenso e isso terá inevitáveis econômicas sobre um país onde as contas já não fecham e que, mesmo com toda injeção de dinheiro obtido pela via do endividamento público, as atividades apenas e no máximo patinam.
Há um cerrado acúmulo de nuvens nos horizontes próximos, do nosso e no do mundo.
Aqui, a fonte que seca do auxílio emergencial já míngua e secará até o final do ano, o espasmo inflacionário – mesmo aliviado pela queda da demanda pela perda de renda – eleva as pressões dos gastos públicos, a irrealidade cambial se reflete em problemas no preço e no abastecimento de insumos da produção e, na política, teremos de enfrentar uma ofensiva fiscalista que é mais que anunciada, embora pouco explicada.
Lá fora, o recrudescimento da pandemia, que está voltando a fechar a Europa e a possível e quase provável contestação dos resultados eleitorais no caso de um derrota trumpista vão banhar de gasolina a especulação com câmbio e mercados acionários.
A noite ainda não escureceu completamente.