Os coronéis do RP-9

RP-9, como se sabe, é o código orçamentário pelo qual são classificadas as “emendas de relator” no Orçamento da República.

E sua distribuição, como mostra o repórter André Shalders, do Estadão, configuram um caso e clientelismo e nepotismo como nunca antes se viu na história da República.

A cidade mineira de Pouso Alegre, de 154 mil habitantes, que tem como prefeito um cidadão de nome Rafael Simões – cabo eleitoral do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco e condenado pela 1ª instância da Justiça Federal a 10 anos de prisão por peculato, isto é, desvio de bens públicos – foi aquinhoada com R$ 237 milhões ou R$ 1.537 por habitante, enquanto a vizinha Poços de Caldas, por este mesmo tipo de emenda, R$ 9,26 por morador, ou 166 vezes menos.

Já a segunda colocada, com R$ 125 milhões – R$ 350 por habitante – é a terra do líder do Governo, Fernando Bezerra Coelho, que tem seu filho como prefeito. Vizinhos os municípios de Afrânio e de Casa Nova (BA) receberam a metade e um sétimo, respectivamente, deste valor per capita.

Já a pequena Santana, no Macapá, reduto eleitoral de Davi Alcolumbre, teve, para seus 123 mil habitantes a liberação de R$ 146,6 milhões em empenhos em 2020 e 2021, o que dá R$ 1,19 mil por habitante.

Sinceramente, compra o voto ficaria mais barato.

É coisa de fazer Eduardo Cunha parecer criança (e ele só trabalhava com emendas identificadas, que não estão nestes valores).

Não são tostões, são R$ 30,7 bilhões nos últimos dois anos, dos quais R$ 15,7 bilhões já foram sido pagos.

No fim dos anos 40, o ministro do STF – cassado pela ditadura de 64 – Victor Nunes Leal publico um dos livros basilares sobre as estruturas de poder na República Velha sob o título de “Coronelismo, Enxada e Voto”.

Na terceira década do século 21, talvez tenha de ser reescrito, agora como “Coronelismo, Emenda e Voto”, agora tendo que desvendar o manto de sigilo decretado sobre o dinheiro público e com o comando não de uma, mas das duas Casas do Congresso.

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