Como, em março deste ano, o Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, referiu-se a um ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, como alguém que sofreria de “disenteria verbal”, não creio que seja imprudente a memória da propaganda dos anos 60 do tradicional Entero-Viofórmio, que indicava o remédio como solução “quando o seu reizinho não quer sair do troninho”.
Como descrever melhor a última semana na ação do chefe do Ministério Público? Num incontível fluxo acusatório pediu a abertura de inquéritos quase à razão de um por dia, contra quase todos o ex-presidentes vivos – inclusive o já mumificado José Sarney e ainda virá a do vivíssimo Michel Temer – numa incrível sincronia, como num desfile de sua coleção outono-inverno de seu mandato na PGR.
Denúncia criminal é um procedimento jurídico complexo e da maior gravidade, não uma pracinha ou viaduto que se programa para inaugurar em final de mandato e colher os louros da obra. Deve ser apresentada sem afoiteza ou vagar inexplicável, mas à medida em que sua instrução se completa e reúne elementos para um processo.
Já não mais é assim, porém. Agora basta um amontoado de delações de gente encrencada, numa contaminação viral que se se expande à medida em que se vai forçando cada picareta deste país a abrir a boca na direção que se deseja, usando o garrote legal das “alongadas prisões de Curitiba” para obter nas palavras as provas que não têm.
Quanto, por exemplo, influiu na disposição acusatória de Antonio Palocci a decisão protelatória de Edson Fachin de protelar, através da chicana de “submeter ao Plenário” – e não à Turma, como de praxe e onde vários haviam sido concedidos contra seu voto – o pedido de habeas corpus do ex-ministro, pois quatro meses depois não foi julgado? Quatro meses em habeas corpus, com réu preso, talvez só no Quênia seja normal.
E assim, Sérgio Moro vai colhendo, um a um, os fracos e desesperados dispostos a dizer o que se quer que diga, embora no caso de Palocci com a frieza e a naturalidade que só a um canalha podem dominar as faces quando sabe que está ajudando a destruir quem o criou e a quem deve tudo o que foi.
O reizinho Janot, com os fundilhos borrados pelo caso JBS, e o príncipe Moro, com as contraturas que lhe vincam a face sem expressão, estão concluindo suas obras, deixando na vida brasileira um cheiro fétido, que só se dissipará quando pudermos abrir as janelas da democracia, cada vez mais gradeada.