A declaração do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, de que não moverá “um milímetro” para frustar a CPI da Covid, que vai instalar por decisão do Supremo Tribunal Federal – está totalmente fora do horizonte uma anulação da medida de Luís Roberto Barroso pelo plenário da corte – é sinal que o pomposo senador pode desembarcar da proteção a Jair Bolsonaro que o levou ao vexame de ser levado a cumprir sua obrigação por ordem judicial.
Matreiro e esperto, debaixo da cara de sonso inexpressivo que conserva nas entrevistas, sabe que a Comissão será um dos focos da atenção da mídia – já francamente anti-bolsonaro – e que o tema, apesar da placitude com que tem se portado a sociedade, tem um potencial de trabalhar com dramas humanos de alta voltagem, num país que estará, quando ela funcionar, rumo a meio milhão de mortes.
Não haverá, sabe ele, muitos senadores que se disponham a embarcar do “Guerra ao STF” que o zurro presidencial despertou nas redes sociais. Como sabia que, sem o estranho pedido de adiamento da votação dos decretos pró-armas de Jair Bolsonaro, prevista para a semana que vem, haveria francas possibilidades de que eles fossem recusados e, agora, a questão vai para um Judiciário já às turras com o presidente.
No Brasil de hoje, em que dinheiro vale mais que vida, a questão central para Pacheco e para boa parte dos senadores é não perder a “mordida” que deram no Orçamento da República, garantir a sanção das dotações de recursos e, depois, negociar no varejo eventuais modificações, com a preservação de seus interesses paroquiais.
A composição da CPI da Covid, que ainda depende de indicações dos partidos, deixa Bolsonaro pendurado em acertos com o parlamento até maio. Para já é o Orçamento, cujos vetos têm de ser decididos até o dia 22.
Bolsonaro está ficando sem canto para colocar suas costas e poder brigar de frente.