Pequena lição ao General Mourão

Gostaria imensamente de levar esse general Mourão ao topo da fortaleza de Sacsayhuaman, nos Andes, e perguntar-lhe como esse povo indolente levou para lá aquelas enormes pedras, como criou jardins e hortas em patamares num lugar em que chove um mês por ano, em que qualquer um cansa em poucos minutos de esforço e as montanhas são marrons, porque não cresce a grama.

Seria um prazer para mim discorrer sobre um patriota que, mais ou menos na época de Tiradentes, mandou buscar na planície alguns escravos para que cumprissem a sentença de morte de seu amo, porque na cultura deles, os indolentes, cabe ao explorado vingar-se de quem o explora.

Falaria sobre como os indígenas transformaram uma gramínea em milho, cereal tão dependente de cultivo que desaparece se não for plantado; a maravilha dos sistema que mantinha irrigados os platôs nas encostas; o cálculo preciso e o corte exato que fazia a água correr pelos dutos vazados na pedra, sem que escorresse nem um pouquinho, dispensando juntas ou cimento; das instituições sociais, do sistema de aposentadorias, de como o império Inca convivia com as comunidades; ou a qualidade das espadas forjadas nas missões de Sete Povos que, segundo anúncio na imprensa alemã da época, desafiava em duelo qualquer lâmina europeia.

Falaria, também, ao general, do ouro e glória dos impérios africanos, dos faraós negros, da cultura iorubá, da filosofia africana, da magia que alimenta a resistência.

E não deixaria de lembrar-lhe o ousadia do povo europeu de um país pequeno que se fez ao grande oceano em barquinhos para conquistar o mundo.

Diria, enfim, ao general que o que nos fez mais fracos vulneráveis não foram defeitos de nossa natureza ou espécie, mas o fato de que, na História, muitas vezes são os bandidos que vencem.

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