A divulgação da proposta orçamentária, ontem, e dos números do PIB, divulgados hoje pelo IBGE, mostram que o país tem pela frente um longo processo de retração da economia sem que o Estado possa funcionar como indutor da recuperação do progresso econômico.
A queda de 9,7% em relação ao primeiro trimestre de 2020 e de 11,4% em relação aos mesmo período de 2o19 estão longe de autorizar a previsão do governo de uma queda de menos de 5% do PIB do ano, até porque os dois semestres finais do ano passado foram os de melhor desempenho econômico e, portanto, de comparação mais desfavorável.
O acumulado no semestre, que você vê no gráfico ano a ano mostra isso com clareza.
Não há dúvida alguma de que o pagamento do auxílio emergencial evitou um desastre pior, porque o pior desempenho, por na medição do PIB por despesa, foi o do consumo das famílias, que representa 65% do PIB, com queda de 12,5%.
O auxílio, a partir do final de abril, injeto cerca de R$ 160 bilhões, num PIB de R$ 1,653 trilhão de abril a junho.
Esta injeção se manterá quase igual no terceiro trimestre (os pagamentos de R$ 600 ainda estão sendo feitos) e se reduzirá à metade no quarto.
A queda do PIB, salvo por um recrudescimento da pandemia – e com as aglomerações frequentes estamos fazendo tudo para que isso aconteça – não deve ir aos 9% que o FMI projetava para o Brasil, embora vá ficar bem acima dos 4,7 com que teima até agora o governo.
O “nó” vem no ano que vem, quando não só não se poderá culpar a pandemia quanto se deve considerar os índices apenas um reflexo do desastre de 2020. O crescimento previsto pelo governo, de 3,5% para 2021 – há muita gente competente, como a economista Zeina Latiff, prevendo menos, na casa de 2% – não espelha o fato real: ainda será muito mais baixo que em 2019, bem distante do que Jair Bolsonaro e Paulo Guedes chamam de “economia decolando”.
Portanto, não haverá receita para uma distribuição de bolsas como aquela com que sonha o presidente, porque não haverá receita e o endividamento, tal como ocorreu este ano, não pode seguir subindo sem provocar alta nas taxas de juros e, portanto, recessão.
É um círculo maldito que só o desenvolvimento – que para os mercadistas é palavrão – pode romper.