Por que não temos uma campanha política?

sauvage

Jânio de Freitas traça hoje, na Folha,  um desalentado retrato da despolitização da campanha eleitoral.

“A eleição presidencial que está nos jornais não está na vida dos eleitores”, uma frase que abre tanto quanto conclui seu lamento por esta mediocridade que estamos vivendo.

E não está porque, a rigor, a vida dos eleitores não importa para o poder econômico brasileiro e passou a ser vista, também, como um simples resultado “automático” de políticas econômicas que incluíram milhões de brasileiros no mundo do consumo sem, entretanto, fazer com que se sentissem parte de um projeto de país.

O campo popular, a esquerda,  vai vencer estas eleições  apesar de si mesmo. “Malgré lui même”. como era “cult” dizer no meu tempo.

Lembra a frase do falecido Millôr Fernandes: “mais importante que ser brilhante é estar cercado de medíocres”.

A direita brasileira é muito ruim, abaixo da crítica.

Tão ruim que temos de reconhecer que Fernando Henrique Cardoso e José Serra continuam a ser, de longe, seus melhores quadros.

Aécio Neves, embora corra o risco de ser ressuscitado pelas pesquisas de hoje à noite, será um fantasma pálido.

Foi deprimente vê-lo hoje cedo como um menino trêmulo diante da trupe global que se arroga (e não é?) dona da verdade e do Brasil.

Marina Silva é uma brincadeira de mau-gosto: primária, arrogante, sempre pronta a qualquer acordo ou posição que a deixe bem com a elite, à qual tomou gosto de servir como  “bonne sauvage”.

Não é a figura altiva que surge com a força telúrica, mas uma “coitada”, que teve de abandonar seu partido e  seus companheiros para…

Para o quê, mesmo? Ah. sim, para ser candidata e candidata outra vez, agora fazendo de Eduardo Campos o Chico Mendes 2, o novo mártir da santa redentora…

Tudo nela rescende a ódio, rancores, recalques.

Como, então, termos uma campanha eleitoral fundada na verdade, se em tudo é a mentira que prevalece?

Mesmo que se confirme a tendência de vitória de Dilma Rousseff, está claro que o modelo de política sem polêmica que o PT adotou desde sua chegada ao poder em 2002, ressalvados os rápidos intervalos eleitorais, quando este debate o salvou –  está esgotado.

Não é o suficiente para enfrentar os dias difíceis que virão no próximo mandato, que não pode prescindir de mobilização e pressão populares.

Aprendemos, de forma amarga, no ano passado, que quando a abandonamos, é a classe média órfã de ideias e perspectivas que delas se apodera.

 

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20 respostas

  1. Tirando o Tarzan e assemelhados, viver é um ato político, não tem saída. Isto estabelecido, não há vida sem polêmica, sem lado ou sem debate, porra!

  2. A impressão que se tem é de que o povo é alguém que vota, não é exatamente a peça fundamental dos projetos de governo.

  3. O Dia esta tao bom, mas o LIXO do Marco Aurelio estragou!!!
    Com alguns bandidos de toga no PODRE JUDICIARIO, e em especial no TSE, STF, STJ, MPF, PGR, TJ/SP, TRE/SP, MPE/SP……por isso que o PSDB, DEM, PSD, PPS ganham a politica em SP, há mais de 20 anos, caberia um seria investigaçao da POLICIA FEDERAL, mas a parte boa, e de preferencia de outros Estados, duvidas, entao vejam isto, é vergonhoso, mais muito vergonhoso.
    http://www.brasil247.com/pt/247/sp247/154486/STF-relator-vota-por-arquivamento-de-cartel.htm

    1. Justiça do Brasil não liga pra crime algum, a não ser que venha do PT!
      Vergonhoso, vergonhoso, vergonhoso!!

      Brito, fantástico!!

  4. O que voces querem? Marina não tem nada a oferecer e aébrio só tem a beber. Dilma fala sozinha. Ergo, não tem discussão.

  5. Impossível não reconhecer que o Jânio definiu a Marina Silva, pelo menos em seu desempenho nestas eleições: ‘primária, arrogante, sempre pronta a qualquer acordo ou posição que a deixe bem com a elite, à qual tomou gosto de servir como ”bonne sauvage”’.

  6. Realmente esgotou! No novo mandato, para sacudir o Brasil e fazer as necessárias reformas, política, tributária e judiciária, é chegada a hora de chamar o povo, a militância que segura a barra na hora que a turma da repartição com ar condicionado some, e mandar para casa, Mercadantes, Zé Eduardos, Bernardos, Falcões, Suplicios e centenas e centenas de outros bundas flácidas, que apenas decoram os salões de fino trato, e se mexem quando lhes é dada qualquer oportunidade para referenciarem os sobas da mídia familiar, pensando saírem bem na foto das lentes eletrônicas dessa elite do atraso, quando a desigualdade está ai pedindo aos berros, pressa, e eles nada veem, nada falam e nada escutam, sem considerar que em plena reta de chegada da campanha eleitoral, anódinos esfumaçados, desaparecidos no espaço, evaporados do ritmo, não se sabe por onde andam, pois não abrem a boca, nada agitam, nada fazem, nada contraditam e portanto, nada representam.

  7. Muito bem posto. Todos aqueles que você nomeou acima não abrem a boca, não falam, mas estão lá se reelegendo e fazendo parte do poder. Contam com o Lula para salvá – los na hora crítica. Não vão para as ruas lutar pelo ideais políticos, são acomodados e quintas colunas. Vi o Lula se esgoelando no palanque da Dilma e esta tchurma na zona de conforto, batendo palminhas e torcendo que o grande líder virasse o jogo para eles. Não movem uma palha nem mexem o traseiro do lugar.

  8. Quanta bobagem! Se o que acontece nestas eleições não for política o que será? Até parece que o povo vive em Marte, alheio a tudo, e não no Brasil, em seu dia a dia. Para ele este é mais um desafio, de cujo enfrentamento, certo ou errado não se arredará. Quem não enxerga isso sofre devaneios ou está acometido de vanguardismo apenas.

  9. Desde o momento em que Deus escolheu o caminho de Marina (segundo ela, lógico), ficou claro o futuro de Aécio Neves: vai ser o Álvaro Dias de Minas Gerais…

  10. Problema da elite de direita e na divisao dos delicados, nunca encherga desigualdade acha que e’ uma tartaruguinha no aquario quem tem que mudar e ‘ o centro direita ou a tal democracia social sem projeto de Brasil.

  11. Excelente reflexão! Se o PT governar tal qual fez nos últimos 12 anos, o partido perderá as eleições de 2018, apesar dos avanços na distribuição de renda, no emprego, no aumento do poder de paridade de compra, na educação técnica e superior, nas políticas sociais e no combate a pobreza e a fome. É que falta algo a mais… Falta justamente o debate, a polêmica, o conflito de interesses. O governo do PT adotou um caminho de conciliação, que jogou os conflitos para debaixo do tapete, porque quanto mais se busca o consenso, menos o conflito aparece. A verdade é que Lula sempre foi um conciliador. Ele buscou governabilidade cedendo parte do seu programa de governo para ter a cooperação de vários partidos, escrevendo uma “carta ao povo” que nada mais foi do que a busca pelo equilíbrio entre o seu projeto de Estado e o mercado. Lula se calou por 12 anos em relação a reforma política, a reforma tributária, a reforma dos meios de comunicação, e tantas outras, justamente para encontrar um “equilíbrio entre as forças” que lutam pelo poder. Nesse sentido, o ex-presidente é muito mais um diplomata do que alguém que defenderá “operários contra patrões” ou coisas do tipo. Apesar do seu discurso populista, apesar do seu discurso que expressa uma dicotomia entre o povo e a elite, Lula optou por buscar o consenso de interesses. Foi justamente essa característica, saber reunir interesses opostos e construir algo a partir disso, que o permitiu chegar ao poder em 2003 e se manter por 8 anos como presidente da república, realizando um trabalho digno e glorioso. Curiosamente, é justamente essa mesma característica que poderá tirar o PT do poder em 2018… Acontece que o excesso de conciliações esconde justamente o conflito de interesses, e com conflitos de interesses escondidos não há politização possível da sociedade. Sem politização, o PT não conseguirá se manter no governo por mais do que 16 anos.

  12. O grande problema é que saímos recentemente de um sistema autoritário. Além disto vieram Color, FHC que também nada fizeram. Mas estamos progredindo, devagar é verdade, mas tem que ser assim, no passo do elefante.
    Sou mais otimista, a se confirmar a vitória da Dilma, teremos mais de uma década para trabalhar. O povo vai aos pouco assimilando e apreendendo a distinguir aquilo que é bom e o que não é. Os banqueiros, o empresariado e os lá de fora, também vão entender que o Brasil não é uma Síria, um Iraque ou uma Libéria.

  13. Artigo excelente, concordo plenamente, na minha opinião a Dilma vencerá esta eleição, mas o PT terá que mudar de atitude pois todas as reformas prometidas terão ser feitas.

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