Porque os caças suecos? Porque o F-18 vai virar uma SuperKombi aérea

hornet

Um pequeno parágrafo no meio de uma reportagem publicada pela Reuters explica a disposição dos Estados Unidos em “transferir tecnologia” ao Brasil caso este comprasse os F-18 Super Hornet.

“Nos níveis de produção atuais, o Super Hornet sairia de linha em 2016, e os F-15 dois anos depois. A Boeing e seus fornecedores vinham contando com acordos militares no exterior para ampliar a vida dos dois aviões, mas as pressões orçamentárias estão atrasando os fechamentos de contrato em alguns mercados cruciais, além de reduzir compras nos Estados Unidos.”

Claro que os F-18 estão muito longe de serem caças obsoletos. Ao contrário, são aviões poderosos, testados em operação e ofereciam, certamente um nível de confiabilidade.

Mas sua saída de linha em 2016 indica que a Boeing desistiu de qualquer aprimoramento na linhagem de uma família de caças que foi posta em operação, na sua primeira versão, em 1999.

Rarissimamente se lê isso em nossa imprensa.

Na verdade, a produção dos F-18 terminaria em 2015, mas uma encomenda australiana prolongou por um ano a desativação. Os australianos, porém, terão acesso ao F-35A,  sucessor do F-18 e do F-22 Raptor. O F-35A é um avião stealth, invisível aos radares, cuja tecnologia, é obvio, o EUA não estão dispostos a partilhar.

O Conference of Defense Association, um instituto canadense, publica que, como o governo americano recusou as propostas da Boeing em desenvolver atualizações nos Super Hornet para concentrar recursos no aprimoramento e produção do F-35A, a empresa decidiu por cancelar estes planos.

O Navytimes.com diz que a Marinha dos EUA vai retirar de serviço, progressivamente, os F-18 a partir de 2025.

É por isso que você está encontrando matérias dizendo que a perda da concorrência no Brasil preocupou muito os americanos. A venda dos F-18 é importante para que mantenham postos de trabalho em suas linhas de montagem e a cadeia de suprimentos dos quais eles dependem.

Além, é claro, de equipar com um equipamento do qual conhece todas as vulnerabilidades o único país que rivaliza, nas América, com os próprios EUA em matéria de potencial de território e população, embora estejamos a anos-luz em matéria de tecnologia. Mas isso é hoje, não dentro de 30 anos, que é o ciclo de vida útil previsto para a aeronave.

Há 30 anos, a China também era destaque apenas no pingue-pongue.

Por isso, a decisão de optar pelos Grippen NG, um avião ainda em desenvolvimento, cuja adaptação para usos específicos ainda está em aberto, não foi uma imprudência motivadas por razões ideológicas – não comprar dos americanos – mas uma escolha tecnológica.

Não quer dizer que os Grippen NG sejam, hoje, aviões melhores que os Super Hornet. Mas o que podem ser, no horizonte de décadas que equipamentos militares desta natureza têm pela frente.

A Kombi também foi um veículo maravilhoso, confiável, utilíssimo e, em certa época, insuperável para as finalidades para as quais foi concebida.

Quem comprou uma há dez anos já sabia que era uma opção limitada no tempo, embora pudesse ser correta para certos usos.

Mas não para enfrentar diretamente veículos mais modernos e, sobretudo, mais modernizáveis.

Em tecnologia, existe o termo “hi-lo”, para designar o que é ainda atual, testado, mas limitado em desenvolvimento.

O F-18 ainda é high, mas seu futuro é low.

A opção brasileira foi inquestionavelmente movida pelo desejo de dominar e desenvolver tecnologia.

E preparar-se para algo que é inevitável na aviação militar: o desenvolvimento de aeronaves furtivas, de baixíssima detecção ao radar.

Tem riscos maiores do que escolher um caça, como o Super Hornet, testadíssimo e bem-sucedido ao longo de sua vida de avião de combate?

Sim, é claro.

Quem não queria correr riscos comprou uma Kombi.

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12 respostas

  1. Apenas uma correção. O F-22 raptor não será exportado para nenhum aliado e parceiro dos EUA conforme decisão expressa do congresso dos EUA, incluindo Israel.

  2. Pode não ter sido a PIOR escolha, mas foi péssima escolha. Do ponto de vista geopolítico, continuamos na órbita da tecnologia americana, o que fragiliza o Brasil e a América Latina. A única opção plausível para um governo soberano seria uma parceria com russos ou chineses, para fazer frete às futuras ameaças americanas. Decepcionante a escolha dos “suecos” da General Eletric…

  3. Algo muito interessante meu passado por um amigo é que nas duas compras a “transferência” de tecnologia seria dos “zéua”. Explicando, o que será transferido no Grippen será a tecnologia do radar e de materiais (algo que os zéua também estariam dispostos a transferir com o F18).

    Esse mesmo amigo alegou que os Grippen são ótimos caças para países pequenos, porém em um país continental como o Brasil seu alcance seria limitado (apenas um motor e menor capacidade de combustível).

    Outra alegação é que a parte principal do avião (o motor) é de tecnologia estado-unidense e estaria fora do pacote de transferência de tecnologia, e segundo ele, poucos países têm a tecnologia de fabricação de motor à jato (EUA, França e Rússia se não me engano) o que colocaria a França como um caso interessante já que estariam dispostos a transferir toda a tecnologia de fabricação do avião.

    Gostaria de mais comentários sobre isso, pois fiquei seriamente em dúvidas. Olhem a frase com que ele me provocou “O Brasil comprou o melhor caça americano fabricado fora dos Estados Unidos”… E ae? Confere?

    1. Não, não é assim. É verdade que o Grippen tem, sem tanques extras, menor alcance que o Rafale e o F-18. Mas, com tanques extras (que podem ser descartáveis antes da chegadas ao alvo) o alcance é semelhante e até maior que o dos outros dois. Idem a velocidade máxima, em torno de 2.100 km/h. O que ocorre é que o Grippen é um avião muito mais leve, pesando pouco mais metade do Rafale e 40% de um F-18. É verdade que , também, a carga bélica é de 65% da que conduz o rafale e metade do que leva o F-18 – estou usando números arredondados, ok?. Isso é porque os três caças têm concepções diferentes. Enquanto o Rafale e o F-18 são caças ofensivos, que visam estabelecer superioridade aérea e provocar destruição o mais ampla possível em território inimigo, o Grippen, tem uma concepção defensiva definida, quando o que importa é o ataque-e-fuga de um único alvo, como é o caso de uma resposta a uma agressão com poder aeronaval. A ideia de travar combate aéreo com forças superiores (ou muito superiores)é ilusória e a guerra do Golfo mostrou isso: a aviação iraquiana, embora numerosa e com alguns aviões relativamente modernos, foi imobilizada ou destruída ainda em solo. Muito menos a ideia de que se poderia atacar alvos a imensas distâncias, enfrentando sistemas de detecção por satélite e por radares embarcados em aeronaves – que expandem imensamente o horizonte de detecção. A única chance de uma Força Aérea inferior em número e poderia bélico é estar desconcentrada o suficiente para não ser dizimada por um ou dois ataques apenas e poder vibrar ataques rápidos e fulminantes aos vetores navais de suporte a ataques aéreos e balísticos. Neste aspecto, o Grippen tem outra vantage, pelo seu tamanho: sua área de detecção ao radar (conhecida em aviação como RCS, radar cross section)é significativamente menor que a dos dois outros aparelhos.

      1. PASSAMOS OS ÚLTIMOS 10 ANOS VOANDO FERRO VELHO E SUCATA, E AGORA QUEREM CRITICAR OS GRIPPEN…. PELO NEOS NÃO VAMOS FAZER A JOGATINA DE LULA COM A FAMÍLIA DASSAULT….

  4. acho bom a o governo brasileiro, e os politicos de expressao nacional do pais, abrirem o olho. E nos aliarmos de forma efetiva e final aos vizinhos sul americanos, sem sufoca-los mas valorizando-os e respeitando-os.
    Ja hoje a bolivia e a venezuela pra tomar dois exemplos Á mao, fazem acordos de vasto prazo com a potencia chinesa.
    Um acordo atras do outro, que vai do dinheiro a escola, ao satelite de comunicaçoes.
    E a aliança da MATERIA Prima com o capital e a ousadia, e nao tem por enquanto nao tem o imperalismo brutal no bojo…
    É a justificada cautela dos vizinhos e sua esperança em futuro melhor.
    Quando os tontos e / ou os sonhadores subimperialistas dentro de nosso país acordarem será muito tarde.

  5. Vejo o gripen como uma especie de caça guerrilheiro. Diante da dificuldade de voce competir com forças comparaveis a um inimigo poderoso o melhor eh usar forças ageis, furtivas, que atacam e fogem rapidamente para depois atacar novamente mesmo que com menor poderio belico. Gostei da escolha. Nao convencional mas que pode reservar boas surpresas.

  6. A coisa é muito mais complexa que apenas espionagem americana, como muitos comentam. A história desses dois países diz tudo contra a escolha de seus caças. Preço é de menos, afinal, num conflito bélico, o melhor sempre vence não importando se o preço é caro.

    E a FAB, assim como a Polícia Federal, são os ogãos mais confiáveis para o povo brasileiro, sempre estes dois (além das demais forças armadas) longe da política e sempre ao lado do povo e do país. Foi a confiança que a presidente sentiu, agindo muito bem. A FAB sabe de muita coisa a respeito.

    Ocorre que os americanos já tem um passado suspeito sobre venda de caças. No Irã, no domínio dos Xás, os americanos lhes venderam caças F-15. Mas quando os aiatolás assumiram o poder (e ate hoje), radicalmente contra os americanos, surpreendentemente nenhum caças destes mais voô, nunca mais saindo do chão. Como? Via rádio? Controle remoto? Ninguém sabe. O que se sabe é que os americanos querendo instalar bases americanas na Colômbia e ate no Paraguai, na fronteira do Br, imagine se ter os F-18 e não poderem sequer chegar perto dessas bases. Um absurdo para a soberania do Br.

    Já os franceses deram “mancada” feia com seus equipamentos, numa espécie de “traição” a quem os comprou. Isso o mundo todo o sabe e daí ao Rafale ter pouquiíssimas vendas, entre outros armamentos. Na guerra das Malvinas, os argentinos estavam fazendo bonito ao afundarem muitos navios de guerra (moderníssmos, os mais poderosos do mundo), usando os famosos misses Exocet franceses que foram as estrelas dessa guerra marítima. Mais um pouco e a Argentina ganhava a guerra apenas com esses misses, sem contar com as dezenas de Mirages que os argentinos já possuiam, contra os Sea Harrier dos britânicos. É claro que a nível de confronto os Mirages eram superiores pois podiam carregar muito mais armas e ter mais poder de manobra. Mas derrepente os Exocet pararam de funcionar, isto é, não mais explodiam ao atingir os navios. E os Mirages perdiam feio para os Harrier. Derrubaram todos. O que ocorreu realmente? Não sobrou piloto para contar. Mas suspeita-se que os ingleses pressionaram os franceses para darem o código fonte dos Exocet pois estavam perdendo a guerra. Só isso explica do porque não explodiam. Comprar e não funcionar quando mais se precisa…é demais. É verdade que houve embargo europeu aos argentinos, mas traição, não dá.

    Sobrou os Gripen, que ate o momento nada há contra. Confiança é tudo.

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