Esta bobagem hipócrita de que a campanha eleitoral só começa dois meses antes do dia da votação – e que não existe em parte alguma do mundo, inclusive no paradigma libeal de democracia, os EUA – não é capaz de anular a verdade real de que, sim, já estamos em campanha e é isso o que orienta hoje a vida política, econômica e administrativa do país.
Sugere-se, a quem duvidar, que examine os atos do presidente da República, do alto de seu poder cada vez mais imperial, inclusive usando as Forças Armadas como guarda pretoriana para submeter a Justiça Eleitoral ao resultado que deseja.
Portanto, a campanha já começou e é assim que se deve observar a tal “pré-candidatura” de Lula, a ser lançada daqui a pouquinho, em São Paulo: agora é hora, acima de tudo, de ganhar votos, que produzam e legitimem a mudança de rumos do país.
Há limites de validade no raciocínio liberal de que isso se faz movendo a campanha mais para “a esquerda”, ao “centro” ou “à direita”. Até certo ponto, sim, é verdade, pois se trata de fixar balizas diante da população quanto a radicalismos, segurança jurídico-constitucional, relacionamento com partidos e instituições.
Como vimos, porém, na eleição passada, definições ideológicas pesam pouco na escolha eleitoral porque, neste caso, Jair Bolsonaro não teria 55% dos votos dos brasileiros.
O que de fato importa na campanha, quando se trata de estabelecer objetivos e métodos para ganhar votos é saber como manter as simpatias que se possui e conquistar as que ainda não se tem.
Tudo se resume, afinal, em como obter o sentimento de identidade (e o de admiração) entre eleitor e candidato. Quase sempre é isso que define eleições: estar próximo o suficiente para criar empatia e alto o bastante para ser visto como líder capaz de levar ao governo estes sentimentos e metas que partilham.
E a razão é bem simples: quem faz a campanha eleitoral não é o candidato, é o eleitor.
A propaganda, em si, é algo fácil, com técnicas e criatividade que, hoje, a marquetagem oferece de forma ampla, geral e quase irrestrita. E não resolve, se a linha sobre a qual se assentar não tiver sintonia com o sentimento da sociedade e dos grupos que a formam, até porque o povão, em parte, descolou-se dos meios convencionais de comunicação – TV aberta, jornais, revistas, rádio, tudo ainda importa muito, mas não é o único que importa.
O foco da campanha (real, embora não oficial) não deve ser estar nos focos de resistência a Lula, porque ali houve uma fanatização que argumentação racional não dissolve. É tempo e energia gastos à toa e, pior, uma exposição a discussões negativas e, daí, potencialmente violentas, clima em que o bolsonarismo aposta.
É na pobreza, na periferia, no Nordeste, na juventude, entre as mulheres (que muito mais que nós, homens, sabem da dificuldade de alimentar, vestir e fazer estudar os filhos), é ali que está o Lula e são eles os vetores que o transportarão à vitória e, de novo, à Presidência do Brasil. Quem ganha votos é o povo, que é o lugar onde somos muitos sem deixarmos de ser nós mesmos.
Os arrogantes querem moldar um Lula “certinho”, porque acham que é preciso passar no “vestibular da submissão” para ser bem aceito nos salões, como se um líder mundialmente reconhecido precisasse de sua indulgência.
Deixem Lula ser Lula, porque foi isso que deu certo e faz da memória popular a fonte da decisão.