A filha de Cláudia Ferreira da Silva, a mulher duas vezes assassinada – a tiros e ao ser arrastada como um farrapo pelo carro da polícia – por policiais militares no Rio , disse que os PMs a “acusaram” de ter dado um copo de café a “um bandido”.
Sejamos honestos: seu brutal assassinato está chamando a atenção do país porque se filmou a queda de seu corpo do carro dos policiais e a cena dantesca de sua segunda morte.
Porque a primeira morte de Cláudia foi ter sido baleada, essencialmente, por ser moradora de uma favela e negra.
Se não era mãe de traficante – como a própria temia fossem confundidos seus filhos – era tia, amiga, prima, parente ou amiga deles.
Devia ser: afinal era negra e favelada. E seus filhos deveriam ser, também eram negros e favelados.
“Todo os dias, eles [ PMs] chegam atirando e depois vão ver quem é. Ela não deixava a gente ficar na rua com medo de acontecer alguma coisa ou de confundirem a gente com traficantes”.
Como a Cláudia, seus filhos, milhares de Cláudias, Cláudios e Claudinhos.
Bandidos ou não, mas sempre, ou quase sempre, negros e favelados.
Quando morava em Santa Teresa, um bairro envolto por favelas nos morros do Rio, conheci um rapaz que sempre estava no ônibus tardio em que eu voltava para casa – o bondinho ainda circulava, mas só até 21 horas – que andava sempre com uma Bíblia na mão.
Um dia, puxei conversa sobre religião e fiquei surpreso de saber que ele não era evangélico.
A Bíblia era só para estabelecer uma mínima dúvida nas muitas ocasiões em que era parado pela PM. para não ser imediatamente tratado como bandido traficante.
Ele, afinal, era também negro e favelado, do Morro dos Prazeres. Logo, também, deveria ser um bandido.
E se em lugar de D. Cláudia, fosse o negrinho da corrente no pescoço quem ficasse pendurado pela roupa, sendo arrastado?
Aí seria “compreensível”, D. Sheherazade?
Escolhi essa foto do enterro de Dona Cláudia pensando em você, Ali Kamel, e no seu “não somos racistas”.
Olhe bem para ela e veja: há apenas um branco, sofrendo do mesmo jeito que os negros.
A dor tem cor? Tem classe? Tem comprovante de renda e endereço?
A dor deles é menor que seria a minha ou a sua, diante da mãe morta?
A barbárie e seu elogio só trazem mais barbárie.
Ou você acha que aqueles policiais se tornaram monstros, já nasceram assim, desprezando a integridade de um ser humano – bandido ou não bandido – ao ponto de o colocarem, mesmo gravemente ferido, baleado, na caçamba de uma caminhonete?
Quem os açulou ao ponto de animalizá-los assim?
Não adianta apenas dizer que eles agiram como monstros – e agiram – sem tocarmos naquilo que os torna monstros – a eles, policiais e aos bandidos .
Quando este Estado teve um governante que não tolerava isso, Kamel, você, a sua Globo, as elites e as Sheherazades de então, vociferaram contra, porque Brizola “não deixava a polícia trabalhar”.
A foto ao lado mostra o que era a PM antes de sua chegada.
Negros e favelados, tratados como convinha tratar negros e favelados, então.
Eu lembro perfeitamente bem como essa história começou: quando dois policiais subiram o Morro do Chapéu Mangueira, no Leme, atirando contra um ladrão de bolsas.
Mataram uma menina de oito anos, sentada à porta de sua casa, no morro, brincando.
Ela, afinal, era negra e favelada.
Boa coisa não ia dar, não é?
O lobo tem as suas razões, sempre.
15 respostas
Só posso ficar em silencio diante suas palavras bem direcionadas.
Espero que os mesmos ouçam…
Não há representatividade mais na favela, de lá nunca saíra um marco
a não ser que fosse um negro de olhos azuis..só espero que não seja a noite..
Acho que também morreria em vão…Mas algo me conforta, isto vai acabar, com um marco ou sem um marco…
A Serpente engolirá seu rabo…
Quantos policiais são mortos no Brasil no trabalho e a paisana? Quantos parentes de policiais são perseguidos e até mesmo mortos por vingança? Existe alguém nesse país preocupado com isso? Ninguém. Judiciário, Mídia golpista de direita ou esquerda adotaram o seguinte jargão: “Policial Bom é Policial Morto”. Alguém assistiu uma notícia de um policial arriscando a sua vida para salvar uma pessoa? Não. É noticiado apenas o lado podre, uma lavagem cerebral para denegrir a imagem da corporação, extinguir os batalhões e desmilitarizar a polícia. Pra quê? Para fumarem maconha a vontade, bater em suas mulheres, praticarem pedofilia, fazer e proestos passeatas quebrando tudo, ficar até altas horas no buteco e dirigir com a cara cheia de cachaça, pois é isso que 99,99% de nossos jornalistas e juristas brasileiros são: Bêbados.
Lamentável esse seu comentário. Perdeu uma boa oportunidade de ficar quieto e refletir sobre o que acontenceu. Pense como estariam, vc e sua família, se no lugar de Cláudia estivesse alguém que vc ama (se é que é capaz disso).
De fato quando falamos de policiais entra num ouvido e saiu pelo outro. Claro, está com a cabeça feita e só se preocupa com o que acha conveniente. Vamos torcer para que a próxima vítima seja a minha mãe e que morra mais policiais. Ficou melhor agora?
Todo imbecil tem um pouco de Raquel Sherazade dentro do seu coração.
Eu sinto vergonha diante disso. Só por fazer parte desta sociedade, eu me sinto culpada e constrangida diante da família da Claudia. Peço desculpas sinceras. Juro que preferia que isso jamais tivesse acontecido. Que ela descanse em paz.
Preciso agradecer ao Fernando Brito e todos os demais blogueiros que se preocupam em melhorar este país através da política, inclusive, reduzindo a violência. Saiba que após me tornar leitor deste blog (e também de outros blogs e sites: Conversa Afiada, Viomundo, Escrevinhador, Diário do Centro do Mundo, Sul21, Correio do Brasil, Blog da Cidadania, Rede Brasil Atual, O cafezinho e muitos outros) percebo que me tornei uma pessoa melhor. Hoje sei o quanto fui ignorante em minha vida. Quando leio textos como este que escreveu reflito que isso poderia ter acontecido comigo. Eu poderia estar no lugar desta mulher, ou no lugar destes policiais. Eu poderia estar no lugar do jovem acorrentado pelo pescoço, ou poderia estar no lugar dos jovens que o acorrentaram. Somos o resultado do ambiente em que estamos.
Estas notícias me provocam dúvidas angustiantes: Se eu fosse policial, será que agiria diferente? Será que eu ajudaria a dar fim no Amarildo? Se eu tivesse continuado a assistir televisão (Globo, SBT, Band, Record) como seria o meu comportamento nestes casos? Será que eu também iria estragar a minha vida e, talvez, a de outras pessoas, por causa da desinformação?
O que eu tenho a dizer aos que acreditam, ingenuamente, na imprensa é: Nenhum jornalista irá te ajudar se você fizer uma besteira por ter acreditado.
E ai Senhora SHEHERAZADE, Apresentadora de telejornal do SBT, a Paraibana que se deslumbrou com São Paulo, muito embora tenha muita ganância por dinheiro, uma vez que mesmo contratada por quase 200 mil reais mensais, fora outras mordomias, não se desligou das tetas do governo, lá na Paraíba. A Senhora é uma daquelas cheirosas – por acaso usas o tal do Jequiti, tenho minhas duvidas, são fragrâncias usadas pelos mais de 40 mil miseráveis resgatados da miséria pelos Governos LULILMA – Percebo em seus comentários que a Senhora é uma daquelas que faz forte campanha pela redução da maior idade, e tudo que Empresários Ocultos estão a estimular, em busca de Privatizar as Penitenciarias e assim buscar seus subsidios para manterem seus rendimentos sempre crescentes, e também poderem gastar com os mimos aos que por certo não deixarão vaga em aberto nos Presidius, afinal, a mercadoria sera a mais barata, o homem, e como sempre, os Afrosdescendentes, e das periferias, e se o PSDB também conseguir a aprovação da liberação do uso da maconha, então sera o mel na sopa, ou a sopa no mel, contando que não falte a fonte da renda que viabilize o investimento.
Essa é uma situação paradoxal. Há alguns meses, houve um fato em que a polícia, baseando-se no que preconizam as normas do SAMU e dos bombeiros, não atenderam a um ferido que teve de esperar pelo socorro especializado chegar. Veio a falecer. Foi uma grita enorme. O Coronel comandante da PM de então,. baixou instruções para que a PM passasse transportar os feios pra os hospitais. O carro da PM nesse episódio, não era um camburão, mas um, sedan Renault logan. A mala era o único lugar. Abriu-se, pela generalizada de precariedade em que essas viaturas operam. Atribuir isso a um ato proposital, é falta da seriedade.
leia-se feridos, no lugar de feios. Erro xde digitação.
João, acho que não é bem por aí. A causa principal desta lamentável tragédia aconteceu antes da vítima ter sido transportada no carro da polícia (isso só fez o caso aparecer nos jornais sensacionalistas tipo datena) Ela foi socorrida porque levou um tiro da própria polícia. O que se discute no texto é que ela só foi baleada porque era negra e morava na favela.
Certa ocasião estava eu hospedado em um hotel em Copacabana.Resolvi dar uma voltinha pela Avenida N.Sra. de Copacabana quando presenciei um fato que nunca mais saiu da minha memória.Estava observando a vitrine de uma loja quando vi dois policiais do outro lado da avenida baterem violentamente as mãos no peito de dois rapazes que vinham conversando distraidamente.Mandaram eles encostarem na parede,chutando-os nas pernas para que as abrisse para os revistarem.Como não acharam nada de errado os liberaram sem pelo menos pedirem desculpas.Por coincidência os encontrei em um barzinho logo depois e puxando conversa, soube que os dois também eram turistas.Me contaram do susto que levaram quando os policiais bateram nos seus peitos. Agora adivinhem a “cor” de ambos.E aquele pulha capacho dos marinho ainda tem a safadeza de dizer que não existe racismo no Brasil.
Amarildo, dona Cláudia, etc. Não quero ser um histérico adepto das teorias conspiratórias, mas não posso evitar a impressão de que EXISTE COISA por trás disto tudo, que nós sequer imaginamos. O momento é bastante complicado em nosso país, e nestes momentos eu simplesmente desconfio de tudo.
Mas voltando ao solo, porque eu estava voando, há uma questão duramente verdadeira sobre a qual precisamos pensar. Se depois de quase TRINTA ANOS de democracia, e depois de DEZ ANOS de um governo popular, a nossa polícia “TODA” é realmente isso aí, então fica quase impossível acreditar num futuro melhor para no Brasil.
Mas se, ao contrário, ela não é “TODA” assim, então precisamos ir mais fundo neste debate, em vez de cairmos na armadilha da demonização da instituição, o que conduz à inevitável idéia de sua extinção.
Este assunto é extraordinariamente complexo e sinceramente, até agora não vi NINGUÉM mergulhar nele com isenção, profundidade e propor algo de realmente concreto, objetivo e factível dentro da nossa realidade.
Brito, além do aspecto racista e preconceituoso, pode haver um detalhe nesse caso que o torna, ao mesmo tempo, específico e generalizado: a impunidade que cerca a ação dos maus policiais. Li, ontem, em um dos portais da internet, que os três policiais do caso estão envolvidos
em 62(!) outras ações criminosas, inclusive com morte. A ser verdade, esses “agentes da lei” já deveriam estar fora da corporação há muito tempo, pois são mais bandidos que aqueles que eles perseguem, prendem e matam. Essa impunidade odiosa (além dos aspectos racistas e do preconceito contra pobres) os leva a continuar a agir dessa forma.
Respondendo ao Eduardo Rodrigues da Silva:
Por favor, leia o texto novamente e reflita para não se tornar um lobo também.