O Instituto Butantan não é uma espelunca de oportunistas. Tem “só” 120 anos, criado por Emílio Ribas, Adolfo Lutz e Vital Brazil, três grandes personagens da saúde pública brasileira naqueles tempos heroicos em que se lançavam as bases da saúde pública no Brasil.
É o Butantan que está tratando com a China e testando a vacina Sinovac, não o Sr. João Doria.
Seu diretor, Dimas Covas, é médico há 30 anos, mestre e doutor pela USP, autor de centenas de artigos científicos e de pesquisas hematológicas.
Não é alguém que fosse se prestar a molecagens aventureiras de denunciar a retenção para a importação de insumos para a produção da vacina pela Anvisa, como fez hoje, depois que o Governo Federal cortou todos os fios de uma possível cooperação no processo de produção da vacina chinesa, em fase final de testes.
Não sei e creio que ninguém pode afirmar com certeza se a Sinovac, nome comercial do imunizante, vai ter a eficácia desejada, mas o fato de ter apresentado sinais de que pode, sim, tê-la e, sobretudo, não terem sido registrados efeitos colaterais significativos é razão para ter tudo à mão para, sendo referendada por instituições científicas, produzir o que pode salvar milhares de vidas.
A pandemia só tem crescido, embora o noticiário sobre ela se mantenha longe do que foi em seu início.
O mundo está registrando 450 mil casos novos por dia e as mortes chegam perto de seis mil por dia, outra vez.
Aqui, o número de casos novos voltou a superar os 30 mil/dia e isso quer dizer que logo teremos incremento no número de mortes.
O diretor da Anvisa – órgão a quem cabe certificar a segurança e eficácia dos medicamentos – vacinas, inclusive – pode ser bolsonarista, contra-almirante, ativista de atos antidemocráticos mas é, antes disso, médico e servidor público.
Procrastinar os atos que lhe competem porque o presidente não gosta da China ou porque ele acha que essa seria “a vacina chinesa do Dória” configura crime – o de prevaricação – e cabe ao Ministério Público Federal abrir uma apuração sobre a razão da retenção das licenças de importação.
Isso não pode continuar a ser tratado como “brincdeirinha” estúpida de Bolsonaro para agradar seus seguidores no Twitter.