Amor ao Brasil e pratriotadas vazias

garoto

Essa história vem de longe, de antes do Conde Afonso Celso e seu ” Porque me Ufano do Meu País” e do Olavo Bilac do “Criança, jamais verás um país como este!”.

Quando chega época de Copa, Olimpíadas ou campeonato de qualquer coisa, a gente fica confuso entre o que é amor ao Brasil e aos brasileiros com o que é patriotada imbecil trombeteada pela mídia.

Como o Molica, também tenho horror à musiquinha do “eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor”. Detesto frases que não se completam: com muito orgulho de quê; com muito amor a quê?

Mas, sei não, não cravo este “sem orgulho” que ele expõe em seu texto, até porque não é tanto assim.

Porque o Molica sabe que temos orgulho de que ela, estropiada, resista a tanto mal que lhe fazem e que saibamos amar e cuidar de um Brasil que se orgulhe e se ame ao se ver no espelho.

Quando a Rafaela Silva ganhou aquele bendito ouro, quantos comemoraram o feito daquela que, pouco antes, desprezavam como se não fosse uma brasileira como eles.

Era. É. E um dia não precisará de medalha para que o reconheçam.

Que triste que a festa nos encontre assim: um Brasil torcido, envergado pela crise, envergonhado de calar cartazes mudos, de presidente escondido e de brasileiros com camiseta, com bandeira e sem povo.

Mas passa, vai passar.  Porque a vergonha que Molica sente é só  a face visível do orgulho que se escondeu, coo a escuridão é o sol que se deitou, mas amanhecerá.

Com amor, sem orgulho

Fernando Molica

Implico com a musiquinha do muito orgulho e muito amor há muito tempo, desde antes desta espécie de pokemon invertido se alastrar por estádios e ginásios do país, capturar milhões de mentes e gargantas e sacramentar retumbantes derrotas.

Na raiz de tudo há uma questão lógica. Tenho sim amor pelo Brasil, mas não consigo me orgulhar do país que há mais de cinco séculos teima em maltratar seus próprios filhos. Amor não pelo Brasil fodão/potência como aquele alardeado pelos ditadores militares, mas pelo Brasil do chamego, do dengo e do cafuné (palavras lindas de nosso português brasileiro).

Meu amor tem a ver com o profundo carinho pelas pessoas que aqui vivem, criam e tanto ralam. Uma gente que forma um país improvável, grandalhão, meio desajeitado, unido por um idioma e diverso em tantos sotaques, jeitos, formas de conceber e de levar a vida.

Amor que aflora no deslumbre pelo passo do Delegado, que se identifica nas canções que Nelson Cavaquinho escreveu certo por notas tortas, no grito lírico, saudoso e inquisidor de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira, no lamento de Adoniram Barbosa pela maloca querida, nas dores de amores traduzidas por Lupicinio Rodrigues e reveladas por Jamelão, no projeto de país mais bonito, ousado e criativo de Tom, Vinicius e João Gilberto.

Meu Brasil é o Botafogo, o Garrincha, a explosão verde e rosa que marca a chegada da Mangueira, a viola que ressalta a ‘Tristeza do Jeca’, o hino nacional adotado por meu pai. Gosto do Brasil pequeno, íntimo, aquele do ‘Pátria minha’ do Vinicius de Moraes, um Brasil que tanto reza para tantos deuses, que não discrimina qualquer fé, que tem altares amplos e não excludentes. Um Brasil que é como um mosaico dinâmico, sempre em movimento, formado por incontáveis pedrinhas miudinhas, como enfatiza o amigo Luiz Antônio Simas, historiador das ruas e das gentes.

Mas este Brasil – aconchegante, generoso, com cheiro de mato e de mar – é maltratado demais pelo Brasil dos que berram seu orgulho nas arenas padrão Fifa. Aqueles que se orgulham do projeto civilizatório construído com base na espoliação, na escravidão e na exclusão. Aqueles que tentam fingir que o vestir uma camisa amarela é suficente para abafar tantas dores, tantas injustiças, tantas mortes.

Não posso me orgulhar de um país que mata tanto seu próprio povo, que insiste em negar escolas, hospitais e sonhos, que resiste a qualquer ideia de mudança. É duro dizer que me envergonho de um país que tanto amo. Envergonhar-se é talvez a única alternativa de quem ainda não perdeu a esperança de poder se orgulhar de um país mais justo.

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17 respostas

  1. Como o Molica, também tenho HORROR à musiquinha do “eu sou brasileiro com muito orgulho, com muito amor”. – 2

  2. Boa tarde,

    sim! Agora abriremos a nossas janelas e diremos o que sentimos, mas isso perdura a 5 séculos esse desamor ao que impera em nosso sociedade. E mesmo assim nós que dizemos ser de esquerda, que queremos um país mais justo e uma dia melhor ao nosso povo, só olhamos pela janela ou melhor pela net( bradamos ao vento) e ficamos esperando sempre o próximo governo. Cansei de tudo, essa é a verdade, nunca iludir com hino ” sou blá,blá… Isso é para pessoas que querem vender um coisa que não existe, um orgulho de ter um escravo! Quando quiserem mudar esse país só existe uma forma e é cortando a própria carne – precisamos de uma REVOLUÇÃO FRANCESA! o resto e conversa para boi dormi!!

  3. Essa musica ridicula so’ podia mesmo sair da cabeça de coxinhas. O que fizemos, ou deixamos de fazer, para merecer brasileiros tão anti-Brasil, anti-Democracia, anti-Outro, anti-SiMesmos ? Como pode um pais tão rico e diversificado, com pessoas tão cheias de chamegos e de alegria, ser ao mesmo tempo violento, perverso, diabolico e abjeto ? O Brasil tem que ser maior do que isso tudo; precisamos lutar e resistir, sem arrego !

  4. O que temos por aqui é não é patriotismo. É patrioteirismo. É muito diferente. O sujeito berra pela Seleção de qq. modlalidade, mas apoia um governo traidor, corrupto e golpista.

  5. É necessário tirar esta frase positivista Ordem e Progresso da bandeira nacional, principalmente agora que virou estandarte deste governo golpista e corrupto do Temer. O ideal mesmo é mudar a bandeira, porque como símbolo, ela é muito complicada e difícil de desenhar e de ser compreendida pelos brasileiros. A bandeira da França tem três faixas de igual tamanho com três diferentes cores, simplérrima e com um universo simbólico determinante para a cultura ocidental. É necessário perguntar: progresso para que, para quem, a quem serve e o que se esconde por traz desta sugestão? O povo brasileiro se beneficia deste progresso, o país fica mais integro e justo? Está claro que não, com esta mixórdia golpista envolvendo partidos, judiciário e mídia. Vamos daqui para pior sob este lema. Fora progresso não explicitado. O povo é que tem que decidir que progresso quer e não esta excrescência positivista Contiana muitíssimo mal aplicado porque é parte apenas de uma frase, de um conceito.

    1. “Quando chega época de Copa, Olimpíadas ou campeonato de qualquer coisa”, o brasileiro quer ganhar tudo, quer ser o campeão em qualquer disputa, até no jogo de bolita ou do cuspe à distância. Mas é assim também em outros esportes, como a Fórmula 1, por exemplo.

      Se perdemos, é porque teve alguma acochambração. Afinal, como há também uma ideia firmada por boa parte de nós de que somos os melhores, só assim poderemos ser vencidos.

      Infelizmente, esse patriotismo que vemos aflorar nas disputas esportivas e essa convicção de que somos os melhores não vicejam em outras questões de muito maior importância para nossas vidas e nosso país. Vemos isso no que toca à gestão daquilo que é nosso, das nossas riquezas.

      Aí, apesar dos inúmeros exemplos já demonstrados pelos brasileiros, de que têm, sim, capacidade de administrar as coisas suas, o que prevalece é a convicção de que é preciso que entreguemos tudo para entes privados, estrangeiros de preferência, porque não temos a competência para tanto.

      Entre esses tantos exemplos, tivemos um, ocorrido há poucos dias. O governo golpista entregou o petróleo do campo de Carcará por um valor 60%, no mínimo, abaixo do que deveria ter cobrado e qual foi a reação da sociedade, que deveria defender suas riquezas? Praticamente nula.

      Então, para ganhar em coisas de somenos importância, como uma partida de futebol, de tênis, etc, há brasileiros dispostos a trocar socos com estrangeiros. Por outro lado, quando é para defender coisas essenciais, que podem garantir um futuro melhor para todo o povo, como o petróleo, há brasileiros que não dão a mínima.

      1. Nelson, o que me choca mais é ver brasileiros querendo destruir o outro, seu pais e todo um trabalho conjunto para o bem de todos. Normal as pessoas serem de direita ou de esquerda, podemos conversar e aceitar as divergencias, mas querer a todo preço que uma pessoa vire réu sem ter nada concreto contre ele é insuportavel (Lula e Dilma). Enfim, estou estarrecida e nem sei como encarar isso, é muito desproporcional, a realidade dos fatos estão claros mas os trouxinhas continuam obtusos, burros e perversos. Muito estranho mesmo.

  6. “Patriotismo” padrão CBF é assim:
    Sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor;
    Nossa bandeira nunca será vermelha, mas
    Não faz mal que entreguem nosso petróleo, que entreguem a Petrobras para estrangeiros, que paralisem o programa do submarino nuclear, que prendam o Almirante que chefiou o desenvolvimento da melhor beneficiadora de urânio do mundo e entreguem aos EUA os segredos, não faz mal que acabem com direitos sociais, não faz mal que congelem verbas de saúde e educação, etc.
    O “patriota” padrão CBF, que ama o Brasil com muito orgulho, com muito amor, não passa, na verdade, de um completo imbecil que come merda se globo, veja, folha e estadão mandarem.

  7. Recém li,no C.Afiada,artigo de Saturnino Braga ,dando conta de que o Brasil,esta a dever explicações.Centra o articulista,na figura do Almirante Othon,pai do desenvolvimento da energia nuclear no Brasil,para exigir que o Brasil,deve explicações,posto ter sido o Almirante,condenado a 43 anos de prisão.Ora,isso tem muito a ver,com patriotadas e ufanismos, difundidos regra geral,pelos maiores responsáveis por tais crenças.Refiro-me ao PUBLICITÁRIO,PUBLICISTA, e todos aqueles que militam nesse campo da atividade humana,sem opositores,sem contraditório,sem nada que se lhes oponham teses.Eu,quando menino,colhi em livros dedicados à Geografia,que uma das causas do descobrimento do Brasil,tinham como principal razão,AS CALMARIAS DA COSTA DA ÁFRICA.Prontamente,comprei tal argumento,até por que,à época,era comum cantar-se no início das aulas,o DEUS SALVE A AMÉRICA.Passados os anos,me dei conta que toda a publicidade que se faz de forma unilateral,sem contraditório e o devido processo de discussão,passa a se constituir em verdades.Posto isso,quero submeter à apreciação do ilustre articulista,quanto às explicações que o Brasil deve para nós e para si mesmo,algumas lembranças passadas,do tipo.CALABAR,JOAQUIM SILVÉRIO DOS REIS,PEDRO SEGUNDO,DEODORO,DUQUE DE CAXIAS,HERMES DA FONSECA,WASHITON LUIS,PAULISTAS DE 32,TODOS ELES,EURICO GASPAR DUTRA,CARLOS LACERDA E TROUPE,CAFÉ FILHO,CARLOS LUZ,JÂNIO DA SILVA QUADROS,FERNANDO COLLOR DE MELLO,ITAMAR FRANCO, FHC,e troupe inteira,para redundar nos dias atuais,em MORO,J.Barbosa e troupe,M.Temer e troupe, para saber que o Brasil,carece entre tantas coisas mais, de povos esclarecidos para não suportar tantos vexames.Ainda assim,é bom lembrar,que os Estadunidenses, já elegeram e suportaram,Reagans,Kenedys,Bushs, e não duvide-se que elejam um bisão para governa-los,ainda que não sejam muito diferentes,ambos os candidatos.Acho que o Brasil,precisa se explicar para si mesmo e para nós,mas não esquecendo sermos nós,os únicos responsáveis por tudo isso.Temos portanto,que ajudar o BRASIL,a nos explicar tantos males.

    1. Precisamos escrever, ou seja, reescrever a historia segundo a experiencia vivida dos dominados também. Todo o movimento global esta se voltando para isso. Para contrapor o discurso hegêmonico daquele que domina pela força é preciso do contraditorio e da reescritura de muito livros de historia. Enfim, é preciso aprender a pensar e a refletir por si mesmo. Eh essa nossa meta principal se não quisermos continuar “subalternos” pela eternidade. Lula e Dilma abriram as portas, agora precisamos botar a mão na massa e resistir para construir e reconstruir.

  8. Fico indignada de ler comentários de quem não tem apreço por este |País. Que acha que tudo de mal que acontece por aqui , segundo eles tem um único nome. Estão sendo explorados, vendo sair pelos dedos o pouco que se conseguimos em 500 anos de colonização?Este País está sendo entregue e usurpado pelos mesmos de sempre e ainda se ufanam de achar que agora sim , está tudo lindo. Será que estes inuteis não têm cérebro? Será que não enxergam que estão sendo ludibriados por uma globo golpista que se ufana de dizer ” somos todos campeões “!? Se vocês traidores não amam este País o suficiente, peguem o caminho do aeroporto e vão para os USA servirem de bucha de canhão.

    1. Elsa, eu penso sempre no que a Chaui disse sobre a elite brasileira ser uma ABOMINACAO COGNITIVA, ou ainda como Marcia Tiburi diz com todas a letras, SAO BURROS. São claramente acéfalos porque pessoas que não conseguem entender o que leem e não conseguem ter o minimo de critica e de ponderação não deveriam se manifestar de maneira tão violenta e destruidora. Apesar de tudo, consigo ver a gde oportunidade de comerçamos um trabalho solido, de base, etc. Tudo aquilo que o governo do PT não fez por erros, por não ter um Congresso favoravel, por ter mal avaliado o perigo, enfim, devemos fazer, lutar e resistir.

  9. Essa musiquinha do “com muito orgulho e muito amor” é mesmo muito chata; não diz nada e também não se completa. Além de ser do tipo pé frio pois sempre que é cantada a derrota é certa. Na realidade esses arroubos patrióticos de ocasião servem para satisfazer os que se acham donos do país e pouco se lixam para o que aqui acontece. São aqueles que mostram a cara nas poucas vezes em que o país busca alternativas à submissão atávica justamente para recompô-la e manter o status quo. Basta estudar um pouco de nossa história. Isso passará um dia; subimos alguns degraus mas ainda há muito a conquistar. O que nos move é saber que o Brasil é muito maior do que o buraco em que os poderosos e perdedores de eleições tentaram jogá-lo nos 3 últimos anos.

  10. Essas Olimpíadas já são conhecidas como as “olimpíadas das vaias”. Detesto esses brasileiros (elite) que vestem verde e amarelo, cantam essa musiquinha ridícula, vaiam e xingam os adversários.

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