Não pretendia entrar neste assunto, justamente por prezar tanto os meus mais de 20 anos de convívio diário próximo com Leonel Brizola e porque o respeito pessoal e político a alguém com que, para mim, não é uma ferramenta política.
Os leitores deste blog sabem que não crio argumentos do tipo “Brizola faria isso” ou “Brizola faria aquilo” em detalhes que, mais que impossíveis de prever, são uma apropriação indébita de seu legado.
Faço-o, porém, porque aprendi com ele que a política não permite tratar só do que é agradável e devo deixar um pouco de lado a pauta relevante para tratar de algo que interessa a muitos dos leitores brizolistas do Tijolaço.
Conheço os três netos de Leonel Brizola que se lançaram à política – Leonel, Carlos e Juliana – e tenho carinho pessoal por todos eles e por sua dedicação a manterem as lutas do avô, que pertencem não a eles, mas ao povo brasileiro.
Ontem, Leonel Brizola Neto, ex-vereador pelo Psol, encontrou-se com Lula e este publicou uma foto na qual seguravam uma foto de ambos, Brizola e Lula, que havia se encontrado com Leonel, (o ex-deputado federal) Vivaldo Barbosa e outros brizolistas preocupados em preservar a memória desse grande brasileiro com a criação um acervo.
Nenhuma fala eleitoral, portanto, e a justa preocupação com a guarda de milhares de documentos, fotos, vídeos e outros registros de quase 60 anos de vida pública de alguém que marcou toda a segunda metade do século 20.
Se isso caminhar para uma confluência eleitoral, é assunto de Leonel que, como os demais, tem todo o direito a ter opiniões próprias.
Ocorre que a irmã de Leonel, a deputada estadual Juliana Brizola, que permanece no PDT, num gesto que não lhe faz justiça, fez e publicou uma montagem da foto do irmão com Lula segurando, em lugar daquela foto, uma foto de Brizola e Ciro, na campanha de 2002, quado este teve o seu apoio.
Ora, apoio eleitoral vale para uma eleição, não é compromisso para sempre.
Não é assim, também, válido eternamente o apoio de Brizola a Lula e 1989, o fato de ser vice dele em 1998 ou seu apoio ao petista no segundo turno 2002 bastariam para fazer a mesma coisa numa foto de quem ficou no PDT e está com Ciro. Que, aliás, só entrou no PDT 13 anos após aquela eleição e 11 depois da morte de Leonel Brizola.
Não é preciso dizer que a relação entre eles teve aproximações e rusgas, apoios e discórdias, nenhuma delas deixando de representar impeditivos em horas cruciais. Como dizem os gaúchos, e o próprio Brizola, “lenha boa é a que sai faísca”.
Não se trata, nem se poderia tratar, de saber quem é “mais brizolista”. Nem é “mais brizolista” quem ficou ou saiu de um PDT sem Brizola, porque siglas, infelizmente, já não são ideias na política brasileira.
Ninguém tem o direito de se pretender “o candidato do Brizola”, embora seja natural que todo candidato progressista buscar e defender o legado do líder trabalhista.
Não é correto apelar a truques, montagens, artifícios para obter “apoio eleitoral” de alguém que, morto, não é cabo eleitoral de ninguém.
Se é propriedade de alguém, é das lutas sociais do povo brasileiro.
Portanto, trazer Brizola para “tretas” e baixarias eleitorais, francamente, é algo que não se pode deixar de criticar e pedir, em nome dos brizolistas, que não se faça, nem em família.