Daqui a exato um ano, na noite de domingo, 2 de outubro de 2022, teremos o resultado do primeiro turno – e, talvez, único – da eleição presidencial.
Tudo indica que será uma festa, um reencontro do Brasil com a caminhada que se fez dos anos 90 até há pouco tempo: a liberdade política, a lenta, insuficiente, mas contínua inclusão social, o crescimento – em igual trajetória modesta, mas segura – e uma nova presença do país no mundo, compatível com nosso tamanho, riqueza e potencial humano.
Mas na política, como em tudo na vida, nada é preciso, como diz o poeta, exceto navegar.
E como tocar o barco ao longo destes 12 longos meses que nos separam daquela noite que esperamos festiva?
A demonstrações de rua, importantes e revivificadoras da oposição há seis meses, já não podem seguir crescendo sem uma liderança, sem um objetivo palpável e viável.
O impeachment de Bolsonaro, cuja chave única está com a Câmara do Deputados, trancada nas mãos do seu cúmplice Arthur Lira, deixou de ser esta possibilidade, é preciso ter coragem de dizer que passou o seu tempo.
Ainda que fosse admitido por Lira e aprovado por dois terços dos deputados, o que é uma impossibilidade, os prazos legais levariam um impedimento para a véspera das eleições e, portanto, não caberia sustituir o julgamento político pelo parlamentar.
A campanha política, portanto, agora se metamorfoseia em campanha eleitoral.
É para ela que devemos nos preparar.
Nelas, os grandes atos, os de multidões, ficam para o período final, os apoteóticos, que ficam imensos porque são a confluência de muitos que, antes, se fazem localmente.
É preciso levar a presença de uma representação política para os bairros, as periferias, como sempre se fez.
Lula sabe disso e ansia pelo fim das restrições sanitárias para retomar suas “caravanas”, que são, para ele, um carisma de integração e diálogo com o povão. Relação carismática, para desespero dos “intelectuais orgânicos”, são a renovação e solidificação dos laços que uma liderança política precisa ter com a população para ser fiel a ela.
À esquerda, que lhe siga ao exemplo.
Hoje, a caminho do ato público, (revi)vi um exemplo do que fomos uma vez. No vagão do metrô, uma moça de fala inflamada, dizia que o os brasileiros iriam retormar tudo o que perdemos. Falou, falou, sem que houvessse qualquer manifestação. Mas falou e falou e, ao final, toda a platéia, até então silente, a aplaudiu.
Quem não semeia, ainda que em solo fértil, não colhe.