Uma criança barra o caminho da barbárie

É doído e triste que vivamos o paradoxo de que só o pequeno corpo de uma criança tenha tido forças para deter a escalada da barbárie estatal.

Os valentões se calaram.

O presidente da República não fará, por um bom tempo, “arminha” com as mãos.

Os Ratinhos e Datenas vão segurar os “senta o dedo” que proliferaram na televisão.

A estupidez voltou – quase – a ter vergonha de exibir-se nua.

O projeto que dava “licença para matar”, obra da dupla Jair Bolsonaro-Sergio Moro, cambaleia sob o “medo, surpresa e violenta emoção” da sociedade que vê as suas consequências macabramente antecipadas.

Exceção feita aos imbecis rematados, dá para sentir no silêncio pesado a angústia que sucede aos ataques de fúria, durante os quais a razão foge da sala.

O processo social é, mesmo, insondável.

Ághata, escrevi ainda na manhã de sábado, não foi a primeira nem será – que pena! – a última vítima desta guerra insana.

Mas virou um marco, um símbolo, um aterrador sinal de que não queremos – sim, a maioria não quer – ser um Vietnam, administrado a bala por uma projeção milicana das classes dominantes.

A menina Ágatha não morreu à toa.

Fernando Brito:

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  • Witzel e Bolsonaro ganharam de lavada naquela região da cidade. Num protesto na mesma região, no sábado, uma evangélica fez discurso colocando a culpa em Lula e Dilma. As mortes destas crianças se somarão à morte do músico e tantas outras que já vimos ao longo dos anos. O brazil está muito doente. A semente de emburrecimento plantada há mais de 50 anos germinou. Regada com ignorâcia programada e religiosidade equivocada ou mal intencionada, tornou-se árvore forte. E assim seguimos em marcha firme e forte rumo a cumprir o destino de nos tornarmos republiqueta africana. Como disse aquele sujeito sobre o Vietnã: aqui a vida é abundante e barata.

  • Gostaria de ter a mesma esperança de que a menina Agatha não morreu a toa...

  • Só ontem a noite (domingo) eu vi o que aconteceu no Rio com a Ághata.
    Sou avô, meu neto tem 8 anos. Chorei muito vendo o sofrimento do avô, a indignação como fratura exposta em seu rosto, nas suas palavras.
    A diferença entre nós, é que foi possível viabilizar a mudança do meu neto para morar no Canadá, tão logo ocorreu a eleição do "FASCISTA".
    Já não aguentávamos mais os tucanos de São Paulo transmitirem tanto ódio e imbecilidade para o resto do Brasil através da mídia, tendo na Globo uma parceira nesse crime.
    Meu neto está longe de seus amiguinhos, das visitas aos avós paternos em Santos, onde curtia tomar banho e brincar na praia.
    Foi com uma tristeza muito grande ter que explicar agora pela manhã a pergunta que ele me fez ontem à noite quando me  viu chorando. Usei o símbolismo da troca, da oportunidade de conhecer uma outra cultura, viver a experiência de poder caminhar 400 metros sozinho, indo em segurança para a escola.
    Acho que a saudade e tristeza não passam nunca quando se tem humanidade, elas mudam de forma, reduz todo um sentimento num quadro emoldurado na parede de nossas melhores memórias.
    Desejo muito a família da Ághata, especialmente na figura do avô, que rejeitem o ódio que os fascistas do governo federal, estadual e municipal transmitem em nome de DEUS. Permanecam com a indignação, pois ela será transformada em CONSCIÊNCIA e servirá como vacina para que a religião não seja o apartheid dos ricos e brancos contra os pretos e pobres.

    • Também imaginei a dor dos avós. E passou-me um frio na barriga ao imaginar minha dor se isso houvesse acontecido com o meu netinho. Tenho muita saudade dele, agora vivendo na Austrália, mas sei que está seguro. Também mudou-se após a eleição da besta. O Brasil não é mais um lugar para criar filhos e netos.

  • "Chamem o ladrão, chamem o ladrão!", diria o nosso grande Chico Buarque de Hollanda.

    Estamos nesse nível!

  • "A menina Ágatha não morreu à toa."
    Tomara que vocês esteja certo, Brito.

    • infelizmente morreu como outros antes e como outras crianças inocentes morrerão depois. Uma sociedade canalha, escravocrata, pervertida. É o nosso retrato.

  • Tomara para quem crer que ela vire um anjo protetor, das crianças das periferias do nosso país, pois viveremos ainda mais um segregação racial, onde brancos e ricos pensam que se combatem a violência contra o genocídio contra os jovens e as crianças pobres do nosso país.

  • BALA PERDIDA
    Sou bala rotulada de perdida,
    Tenho o destino estranho de encontrar
    Um ser humano e ceifar-lhe a vida
    Dentro de casa ou em qualquer lugar.

    Meus vitimados são os inocentes,
    Quer nas favelas, quer nos bairros nobres,
    Porém as mortes são bem mais frequentes
    Nos tiroteios das zonas dos pobres.

    Sou meio de desgraças repetidas
    Nas guerras de hoje ou dantes revividas,
    Todas cruéis e de furor letal;

    Aqui, nessas batalhas fratricidas,
    Geradas pelas drogas e homicidas,
    Virei vedete do caos social.
    Tarcísio Arruda
    03/05/15

  • Infelizmente morreu a toa sim. Mais uma tristeza imensa. Parece que um deputado federal até elogiou a ação...

  • ... soco a ativista pro direitos humanos no funeral da menina. Filho de presidente mostrou arminha ... nada mudou ...

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