Uma prova é um exame de saber. E respeito ao ser humano é um saber

Pessoas – sim, são pessoas, embora irritantes – que vêm aos comentários desta página argumentam que a decisão de Cármem Lúcia de impedir o o zero nas provas de redação  que violentem abertamente os direitos humanos é, simplesmente, a defesa da liberdade de expressão.

Na Alemanha do pós-guerra, não conheço quem diga ser censura absurda a proibição de edições do Mein Kampf, de Adolf Hitler, mas não espero convencê-los assim.

O que está em jogo é outra coisa, não é ideologia. Defender que alguém seja espancado até a morte,  sugerir que alguém seja mutilado propositalmente, professar a convicção de que negros ou índios são seres inferiores ou que se pode manter relações sexuais forçadas com alguém, sobretudo uma criança não é pretender ser que esta pessoa seja “de direita” ou “de esquerda”, ou minha carola avó seria uma “bolivariana”.

Significa que esta pessoa, ao menos razoavelmente, completou aprendizado do mínimo de habilidades sociais para ser considerado um adulto merecedor  de ter seus estudos universitários, direta ou indiretamente, pagos ou subsidiados pela sociedade, através do Estado, porque mesmo as faculdades privadas o são, por isenções fiscais, renúncia tributária (desconto do IR) ou até financiamento estudantil.

Significa que se tenta fazer do ambiente universitário um lugar de encontro e confronto de ideias onde os argumentos não sejam “você merecia morrer”, “eu deveria estuprar você”, “crioulo é sub-raça”, ou, quem sabe, “lugar de judeu é no forno”.

Nos critérios da Justiça brasileira, ao que parece, isso importa menos que saber de cor a fórmula de Bháskara, aquele inesquecível b²-4ac. Quem tiver um “branco” de memória pode levar zero, quem tiver a escuridão na mente, não.

Não há proibição ou ameaça ao aluno que quiser, ainda que absurdo, pensar ou expressar-se assim. Haverá, sim, uma sanção: a instituição educacional pública, representada pelo professor-corretor, o afastará de um grupo que tem regras mínimas de convívio. Se admitirmos que isso é um atentado à liberdade de expressão, teremos de admitir, então, que um aluno pode xingar genericamente seus professores e colegas porque “tia” Cármem Lúcia lhe garante a “liberdade de expressão”.

É irônico pensar que, como há redações em concurso para juiz, as mesmas regras devam valer, pela jurisprudência que firma, para escolher os homens e mulheres que terão poder sobre a minha e a sua vida e liberdade.

Se o Direito, aliás, é a defesa da supremacia da simples técnica, do mérito em decorar Códigos e leis, porque mesmo não transformar a magistratura em atividade da qual se exige apenas o “2° grau”?

Assim, evitar-se-ia o Enem e o constrangimento de, por tecnicamente bem escrita, dar nota dez para um texto que se encerrasse com o fecho do fascio: “o que eu desejo para o Brasil é o dia em que possa gritar na rua, cara al sol à procura do futuro glorioso”.

– Heil, Mito!”

 

Fernando Brito:

View Comments (57)

  • FB, excelente análise, como de costume. Vou dar um desconto pata seu branco na memória sobre a clássica equação de Bhaskara, pois vc é brilhante nas análises.

    • Para esses idiotas do Escola sem partido, direitos humanos é coisa de esquerdista.
      Será que é porque a direita geralmente foi e é historicamente a classe opressora?

    • eu também notei a mancada na equação... brito é excelente mas pisou ao mencionar (com erro) a equação e parecer minimizar a importância dela. mas o teor do artigo é excelente.

  • Adagio En Mí Pais
    Alfredo Zitarrosa
    exibições
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    En mi país, que tristeza,
    La pobreza y el rencor.
    Dice mi padre que ya llegará
    Desde el fondo del tiempo otro tiempo
    Y me dice que el sol brillará
    Sobre un pueblo que él sueña
    Labrando su verde solar.
    En mi país que tristeza,
    La pobreza y el rencor.

    Tú no pediste la guerra,
    Madre tierra, yo lo sé.
    Dice mi padre que un solo traidor
    Puede con mil valientes;
    Él siente que el pueblo, en su inmenso dolor,
    Hoy se niega a beber en la fuente
    Clara del honor.
    Tú no pediste la guerra,
    Madre tierra, yo lo sé.

    En mi país somos duros:
    El futuro lo dirá.
    Canta mi pueblo una canción de paz.
    Detrás de cada puerta
    Está alerta mi pueblo;
    Y ya nadie podrá
    Silenciar su canción
    Y mañana también cantará.
    En mi país somos duros:
    El futuro lo dirá.

    En mi país, que tibieza,
    Cuando empieza a amanecer.
    Dice mi pueblo que puede leer
    En su mano de obrero el destino
    Y que no hay adivino ni rey
    Que le pueda marcar el camino
    Que va a recorrer.
    En mi país, que tibieza,
    Cuando empieza a amanecer.

    Coro:

    En mi país somos miles y miles
    De lágrimas y de fusiles,
    Un puño y un canto vibrante,
    Una llama encendida, un gigante
    Que grita: ¡adelante... adelante!

  • Na frieza das decisões judiciais, poderá muito bem, um corretor de redações aplicar uma nota 0,1 para àqueles que, encorajados pela decisão de nossa ilustre Ministra, enveredar por essa trilha. Tudo estará dentro da lei, do jeito que o STF ordenou.

    • e aí estará, sim, instalado o arbítrio ideológico - porque pode ir de 0,1 a 10 - e não a regra, clara, que a todos obriga. E a lei e a justiça serão uma decisão apenas de quem julga, e este terá todo o poder.

  • As regras civilizatórias mínimas de convivência exigem que, pelo menos, os Direitos Humanos fundamentais sejam respeitados e isso está anos-luz acima de uma eventual "liberdade de expressão". Assim como a Alemanha atual proíbe o nazismo, as sociedades civilizadas têm sim que proibir as manifestações explícitas de ódio mútuo, os preconceitos, a incitação à violência entre seres humanos, a defesa do estupro e da pedofilia, etc. e penalizar pesadamente esses crimes contra a humanidade. O que seria do mundo se tudo fosse liberado? Provavelmente os terroristas nos governariam e sairiam degolando a torto e a direito, queimando pessoas vivas como na Inquisição Espanhola, empalando os inimigos como Vlad, o Empalador e defendendo e praticando as mais inomináveis crueldades e sabemos que o ser humano, infelizmente, é capaz das piores maldades e por isso é necessário algum tipo de controle sobre os psicopatas, assassinos, pedófilos, estupradores, comerciantes de armas, etc. Quem defende a liberdade para incitá-los a praticar seus hediondos crimes revela, inconscientemente, uma vontade contida de fazer o mesmo, se tivesse coragem ou oportunidade para tanto.

  • Engano seu, Fernando! A universidade não é lugar de todas as ideias e ideologias. É só defender o contrário da agenda esquerdista lá e você verá como a universidade se torna um ambiente hostil.

    • Varinha
      Sua mulherzinha já chegou ? Você deveria estar tomando conta dela CORNO .
      Você é um XIBUNGO tentando se passar por erudito.
      CORNO FILHO DA PUTA !

    • Tissó,
      falta o respeito ao contraditório, às diversidades.
      A direita prega o ódio e depois reclama de ambiente hostil.

      • Ódio? Tem certeza? Lembra quando Yoani Sanchez tentou (o verbo é esse mesmo) palestrar no Brasil?

        • O tijolófilo Sergio é um exemplo de respeito ao contraditório..

    • Em terceiro lugar, salvo raras exceções, eu duvido que apareçam redações defendendo a matança de judeus ou coisa similar. Em segundo lugar, impedir o aluno de escrever algo para não ser reprovado não impede que ele continue a pensar daquele modo. Em primeiro lugar, o "ofensivo a grupos sociais" recorda o "análogo à escravidão". Num caso e noutro, gera-se uma indefinição que obriga o sujeito a depender da opinião subjetiva de alguém e a internalizar essa repressão, preocupando-se em evitar qualquer coisa que o poderoso fiscal possa considerar errada. Troque "fiscal" por "partido" e você já terá o estado mental de quem vive sob as ditaduras defendidas pela nossa extrema-esquerda. Propagá-lo sob o disfarce de ideais humanistas é o verdadeiro objetivo dessa turminha de índole autoritária.

      • Acrescentaria ao seu rol de conceitos ditos abstratos e subjetivos uma tal de "cognição sumária" fartamente usada por um certo "bessias das araucárias" para promover uma outra coisa tbm sumária, algo que não combina ou não deveria combinar com a civilização, o julgamento.

    • Tissó, Bronco e Ernesto.

      1. Os "Três Patetas". ( )

      2. Múltiplas personalidades. ( )

      Façam as suas escolhas!

  • Parabéns pelo texto, FB! Excelente análise. Lamentável a decisão do STF... o que podemos esperar com mais essa porta aberta...

  • a uma democracia
    Milonga triste
    Homero Manzi
    exibições
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    Llegabas por el sendero
    delantal y trenzas sueltas.
    Brillaban tus ojos negros
    claridad de luna llena.
    Mis labios te hicieron daño
    al besar tu boca fresca.
    Castigo me dio tu mano
    pero más golpeó tu ausencia. ¡Ay!...

    Volví por caminos blancos,
    volví sin poder llegar.
    Grité con mi grito largo,
    canté sin saber cantar.

    Cerraste los ojos negros.
    Se volvió tu cara blanca.
    Y llevamos tu silencio
    al sonar de las campanas.
    La luna cayó en el agua.
    El dolor golpeó mi pecho.
    Con cuerdas de cien guitarras
    me trencé remordimientos. ¡Ay!...

    Volví por caminos viejos,
    volví sin poder llegar.
    Grité con tu nombre muerto
    recé sin saber rezar.

    Tristeza de haber querido
    tu rubor en un sendero.
    Tristeza de los caminos
    que después ya no te vieron.
    Silencio del camposanto.
    Soledad de las estrellas.
    Recuerdos que duelen tanto.
    Delantal y trenzas negras. ¡Ay!...

    Volví por caminos muertos
    volví sin poder llegar.
    Grité con tu nombre bueno,
    lloré sin saber llorar.

  • O "brog"tem tecla SAP ???

    LULA E BOLSONARO SERÃO JULGADOS PELO TSE POR ANTECIPAR 2018

  • O tijolófilo Sergio é um exemplo de respeito ao contraditório...

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