Uma revolução nem tão silenciosa

A partir de uma entrevista-desabafo de Boechat contra os vícios do jornalismo brasileiro, Castilho faz uma análise instigante sobre o novo olhar que a sociedade vem desenvolvendo em relação à mídia. Eu acrescentaria apenas que esta é uma tendência mundial. Há alguns anos, o ensaísta Eric Alternan publicou um artigo na New Yorker (que logo se tornou viral nas redes sociais), analisando o declínio da imprensa tradicional. Ele dizia o seguinte (tradução minha):

“Enquanto isso, a confiança do público nos jornais tem caído rapidamente.(…) mais americanos acreditam em discos voadores e teorias conspiratórias do 11 de setembro do que na grande imprensa escrita. Mais de 9 em 10 americanos, segundo o estudo da Sacred Heart, afirmaram que a mídia procura, deliberadamente, exercer influência sobre as políticas públicas (…)”

No Brasil de hoje, com a mídia que temos, esse declínio da confiança das pessoas nos jornais talvez seja uma das melhores coisas que tem acontecido: o início de uma consciência mais crítica. Uma revolução silenciosa. Quer dizer, diante dos protestos cada vez mais barulhentos contra a mídia, que agora estão deixando de ser virtuais e ganhando as ruas, não é sequer mais tão silenciosa assim.

Castilho analisa o comportamento do leitor e constata o seguinte: a cada dia que passa encontro mais pessoas que deixaram de ler jornais, viram a cara para as capas de revistas semanais e evitam os telejornais tentando evitar acessos de irritabilidade.

O jornalista poderia se estender muito mais sobre as causas desse afastamento, e o porque da “irritabilidade”.

Todo mundo sabe porque fica irritado com a mídia: a velha e famosa técnica do New York Times, de pensar o leitor como um garoto meio idiota de 16 anos, não está colando mais.

Cada vez mais gente percebe que, por trás da notícia, há interesses corporativos, políticos e/ou ideológicos obscuros. Não se percebe, na imprensa, nenhum compromisso autêntico com o cidadão, e sim com o anunciante e com o grupo político aliado ao dono do jornal.

E a crise financeira vivida pela mídia tradicional apenas reforça essa dependência. Enfraquecidos financeiramente, os jornais correm o risco de encerrar a carreira em opóbrio, prostituindo-se a baixo custo ao interesse de especuladores imobiliários e políticos fisiológicos. Não é o que está acontecendo?

Sobre desabafos e o jornalismo do ‘faz de conta’

Por Carlos Castilho, no Observatorio da Imprensa

Está circulando na internet um vídeo com uma entrevista do jornalista Ricardo Boechat na qual ele faz um desabafo, sem papas na língua, que bem poderia ser uma espécie de manifesto contra o jornalismo “faz de conta” que nos é servido diariamente pela maioria dos jornais, revistas e emissoras de rádio ou televisão do país.

“Faz de conta” porque tem muito pouca coisa a ver com a realidade e procura nos passar a imagem de que se trata de informação isenta e objetiva. Não sei se a minha experiência pode ser generalizada, mas a cada dia que passa encontro mais pessoas que deixaram de ler jornais, viram a cara para as capas de revistas semanais e evitam os telejornais tentando evitar acessos de irritabilidade.

É muito preocupante ver como as pessoas estão se afastando da imprensa depois de terem sido contaminadas pelo vírus da dúvida sobre a fidedignidade e isenção das notícias publicadas nos principais veículos de comunicação jornalística do país. Mais preocupante ainda é perceber que ainda é grande o número de profissionais que não se deram conta do papel que lhes está sendo imposto pelas empresas jornalísticas.

Boechat, no auge de seu desabafo, diz que mudou sua maneira de ver a ética pública depois de constatar que as redações checam a credibilidade de declarações de cidadãos comuns, mas aceitam sem restrições afirmações de políticos que, segundo o âncora do Jornal da Band, são quase sempre mentirosas porque defendem algum interesse oculto.

A docilidade com que a imprensa aceita o jogo dos participantes do poder político no Brasil é provavelmente a maior responsável pelo desencanto da opinião pública não só em relação aos jornais, mas em relação a quase tudo o que tem a ver com governos.

O jornalismo que nos é oferecido diariamente ganha cada vez mais ares de um grande “faz de conta” em que a imprensa “faz de conta que informa” e nós, o público, “fazemos de conta” que acreditamos no que nos é passado como verdade. É cada vez maior o número de leitores e telespectadores que se preocupam mais em tentar captar o que está nas entrelinhas do que aquilo que é impresso ou dito por jornalistas profissionais.

É claro que a complexidade dos fatos, dados e eventos dificulta enormemente o desafio de informar o público, nos tempos pós-avalancha informativa. Há dezenas de percepções, posicionamentos, vieses e interesses embutidos até mesmo nas notícias mais corriqueiras. São poucos os leitores e telespectadores cientes desta dificuldade. A grande massa do público culpa os jornalistas pelo “faz de conta”.

Mas em nome da preservação do emprego e do status social, a atitude mais comum nas redações é também fazer de conta, agarrando-se ao discurso corporativo que associa críticas e agressividade contra jornalistas à ameaças contra a liberdade de imprensa. Na verdade, muitas pessoas querem dizer apenas que não aguentam mais o jornalismo “faz de conta”.

A saturação com a hipocrisia está dando origem a uma onda de desabafos de todo o tipo de pessoas. Parece que nossa quota de tolerância chegou ao limite, como mostram as explosões de descontentamento popular materializadas nos protestos de rua desde junho. A sobrevivência de Ricardo Boechat na bancada do Jornal da Band ainda é uma incógnita porque o desabafo de seu principal âncora coloca TV Bandeirantes num dilema: se tolera as duras afirmações do jornalista, coloca-se em rota de colisão com o establishment politico de Brasília; mas, se afastar Boechat do seu posto, passa um recibo de autenticidade para tudo aquilo que ele botou na boca do trombone.

*

Vídeo de Boechat (o trecho em que ele fala de jornalismo foi editado, mas me parece que o vídeo é este mesmo):

PS: não concordo com as opiniões de Boechat. Acho que ele identifica bem os problemas, mas sua reação é tipicamente udenista: agressiva, moralista, atribuindo sempre a culpa ao outro, desqualificando o processo democrático e romantizando tolamente truculência.

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9 respostas

  1. Vamos organizar um MEGA PROTESTO em TODO o País num único dia e por fim de vez nessa palhaçada de MÍDIA manipuladora? Vamos DESCREDIBILIZAR DE VEZ quem não dá crédito a nossa Inteligência!? Ou vamos ficar PARADOS, com querem que fiquemos? Prefiro LUTAR!

  2. A análise do comentarista dos observatório da imprensa está cheio de problemas sérios. No último parágrafo ele pisa no tomate totalmente, desde quando só se faz política em Brasília ? E porque o Boechat perderia o emprego ? Ele sempre fala mal dos políticos, principalmente dos políticos que a empresa que ele trabalha não gosta. O principal problema é a seletividade de informações de acordo com o interesse do patrão.

  3. A análise do comentarista dos observatório da imprensa está cheio de problemas sérios. No último parágrafo ele pisa no tomate totalmente, desde quando só se faz política em Brasília ? E porque o Boechat perderia o emprego ? Ele sempre fala mal dos políticos, principalmente dos políticos que a empresa que ele trabalha não gosta. O principal problema é a seletividade de informações de acordo com o interesse do patrão.

  4. A análise do comentarista dos observatório da imprensa está cheio de problemas sérios. No último parágrafo ele pisa no tomate totalmente, desde quando só se faz política em Brasília ? E porque o Boechat perderia o emprego ? Ele sempre fala mal dos políticos, principalmente dos políticos que a empresa que ele trabalha não gosta. O principal problema é a seletividade de informações de acordo com o interesse do patrão.

  5. O Boechat é um dos ideólogos do vandalismo. Sem credibilidade para respaldar qualquer análise crítica da mídia. Há dias em que ele está simplesmente insuportável “capachando” o patrão. Quase não ouço mais a Band news por causa dele e de outros capachos.

  6. O Boechat é um dos ideólogos do vandalismo. Sem credibilidade para respaldar qualquer análise crítica da mídia. Há dias em que ele está simplesmente insuportável “capachando” o patrão. Quase não ouço mais a Band news por causa dele e de outros capachos.

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