Confirmou-se aquilo que, apesar de toda a capacidade técnico-científica da Fundação Oswaldo Cruz, este blog vem levantando há semanas: a vacina da Astrazêneca – conhecida como “de Oxford” – só estará pronta para aplicação nos brasileiros em março.
E isso se o IFA – ingrediente farmacêutico ativo – for entregue até o dia 23 deste mês, o próximo sábado, o que é altamente improvável, por tratar-se de uma importação que virá da China.
O grave é que esta informação foi ocultada da opinião pública, por ordem do Governo Federal, para esconder o fato de que, há muito tempo, se sabia que, sem a vacina chinesa Butantan/Sinovac o Brasil teria de passar mais dois meses sem começar a vacinar sua população.
Apareceu somente agora, quando a Fiocruz teve de responder a uma inquirição do Ministério Público e, candidamente, diz em ofício que:
“Estima-se que as primeiras doses da vacina sejam disponibilizadas ao Ministério da Saúde em início de março de 2021, partindo da premissa de que o produto final e o IFA apresentarão resultados de controle de qualidade satisfatórios, inclusive pelo INCQS (Instituto Nacional de Controle da Qualidade em Saúde). Importa mencionar que o período de testes, relativos ao controle de qualidade, está estimado em 17 dias, contados da finalização da respectiva etapa produtiva, acrescidos de mais 2 dias de análise pelo INCQS”.
Era por isso que Eduardo Pazuello colocava março como data provável do início da vacinação: todos estes prazos eram sabidos e foram sonegados não só à sociedade, mas também ao próprio corpo técnico da Fundação.
É pior, porém.
Como mostra o documento ao lado, datado do dia 8 de janeiro, a compra das vacinas produzidas na Índia tem um prazo contratual de entrega de “90 dias após o pagamento” e, portanto, a entrega imediata das vacinas, com direito a todo o teatro do avião adesivado, era um mero acerto “de boca” com o laboratório indiano ou, na pior das hipóteses, simples teatro.
Diga-se que há toda a evidência de fraude conduzida desde o Palácio do Planalto, porque deu-se apenas um dia após a decretação da Medida Provisória n°1.026, que prevê “o eventual pagamento antecipado, inclusive com a possibilidade de perda do valor antecipado” e “hipóteses de não penalização da contratada” no caso de descumprimento do contrato, que pode ainda conter “cláusulas de confidencialidade”, algo impensável num mero contrato de compra e venda, no qual não se incluem informações resguardáveis, como as de transferência de tecnologia.
O documento oferecido pela Fiocruz ao MP desperta dúvidas sérias sobre o ritmo de produção que é anunciado para a população. Serão, diz o texto, 30 entregas quinzenais de IFA. perfazendo um total de 100,4 milhões de doses. Portanto, a cada quinzena, corresponderia a produção de 3, 37 milhões de doses ou 239 mil vacinas/dia nos sete meses de importação Como são duas doses, isso permitiria a imunização de apenas 119,5 mil pessoas por dia, durante 210 dias até agosto, último mês de entrega destes lotes.
Ou seja, 50 milhões de pessoas em sete meses. 24% da população brasileira, apenas. Se forem contadas as 46 milhões doses da Sinovac (imunizando 23 milhões de pessoas, com duas aplicações em cada um delas), a vacinação alcançaria um total de 36% dos brasileiros, cota absolutamente insuficiente para bloquear uma epidemia.
A Fiocruz não pode se deixar levar pelas manobras de um governo mentiroso e incompetente. Ela é uma instituição secular , com um currículo de serviços ao Brasil e um dever de lealdade ao povo brasileiro que não pode permitir que se aceite que ela seja levada a se tornar cúmplice de manipulações.
Isso quer dizer que deve gritar, aos quatro ventos, que se vai fazer tudo o que é possível contra a pandemia, que não pode fazer o suficiente e que precisaremos de outras vacinas, inclusive para não desacreditarmos uma população que, depois de meses de vacinação, ainda veja as pessoas morrendo como moscas e, por isso, desacredite da proteção que elas podem dar.