Viver de bico, a “modernidade” cruel do Brasil

Manchete de hoje do Estadão, um estudo da consultoria IDados – a partir de dados do IBGE – revela que mais da metade (55,6%) dos trabalhadores brasileiros está “por conta própria” e, destes, 43% ganham um salário mínimo mensal, ou menos que isso.

Não tendo vínculo empregatício, não têm férias, nem 13°, nem Fundo de Garantia nem auxílios por doença ou por desemprego, em caso de necessidade.

Vivem, como se diz popularmente, “de bico”, ciscando por trabalho e aceitando o que for possível achar, como galinhas em um terreiro.

A cantilena dos “especialistas” é sempre a mesma: falta de qualificação, o que empurra a “culpa” para o empregado, este ignorante e despreparado.

Curioso é que os exemplos citados na reportagem mostram justamente o contrário: mulheres, com formação universitária, que fazem bico em edição de vídeo e em confecção de máscaras, por falta de oportunidades no mercado formal de trabalho.

E olhe que a formalidade já foi, desde Michel Temer, tornada uma espécie de “informal chique”, com trabalho intermitente e sem parte das garantias.

Antes de Temer, os informais eram 36,4%, no início de 2016. Quando Bolsonaro assumiu, já eram 48%.

A solução é chamá-los por nomes bonitos: empreendedores (de entregar lanches) ou “freelances” de assentar azulejos.

Não há solução para isso num país com a economia parada e com salários em queda, em valor real.

A retomada do processo gradual de elevação do salário mínimo também se reflete na elevação da renda do trabalho informal, porque aquele segue servindo como “indexador “, na prática, do seu valor.

Não tem mistério, já foi feito e funcionou.

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