Não pode existir democracia quando não há polêmica. E polêmica é o elemento mais ausente na política brasileira.
A mídia, em nosso país, converteu-se numa espécie de partido único, onde – lembrando as palavras de Leonel Brizola sobre o poder de Roberto Marinho e da Globo – aqueles que ousam dissentir são mandados para “a Sibéria do esquecimento”, do silêncio e da ridicularização.
Foi assim que a ele próprio, Brizola, fizeram logo que conseguiram dobrá-lo ao infortúnio eleitoral de 1989.
Foi assim que fizeram –é preciso ter a coragem de reconhecer – a Fernando Collor quando este, eleito pelo baronato da mídia (e está aí a inesquecível manipulação do Jornal Nacional no segundo turno daquelas eleições), achou que, de fato, era o Presidente da República quem detinha o poder no Brasil.
Lula, quase foi derrubado em seu primeiro mandato pela CPI dos Correios, de olho, todos sabem, nas eleições de 2006.
Salvou-o a clareza de “colar” a privatização tucana em Geraldo Alckmin. No segundo mandato Lula soube protagonizar a recuperação dos valores nacionalistas e trabalhistas, que bem se poderiam traduzir em duas expressões: Petrobras e elevação do valor do salário-mínimo.
Já Governo Dilma Rousseff, em que pesam as inquestionáveis austeridade e autoridade da Presidenta, não tem a marca da polêmica.
De tal maneira foi incontestável, na campanha e nos primeiros meses de seu mandato a qualidade política e moral da Presidenta que pouco se tentou atacá-la pessoalmente, preferindo-se tentar criar, em relação a ela, uma tática de desgaste periférica, com as sucessivas crises que levaram à demissão de diversos ministros.
Isso não os impediu de tentar atacar a honradez de Lula e do núcleo que historicamente o acompanhou.
Nesta segunda metade do mandato de Dilma e com a aproximação das eleições, as campanhas de mídia recrudescerão.
A direita sabe que é improbabilíssimo que 2013 e 2014 repitam o baixo crescimento econômico do biênio 2011/12. Se não teremos um “pibão” como o de 2010 – até porque este partia dos danosos efeitos da crise de 2009, a recuperação da economia se solidificará e tornará impossível o discurso do “recobrar o crescimento”.
A aposta do conservadorismo é dupla.
A primeira é tentar retirar partidos e eleitores da base governista. É o que fazem, agora, com o PSB, o PDT e outros, além de ajudar a “inflar” setores do PMDB mais afeitos a vantagens que a alianças. E, embora num raciocínio primário quando se levam em conta a origem e o prestígio eleitoral de Lula, ”abanar” uma candidatura nordestina, como a de Eduardo Campos, para enfraquecer a candidatura Dilma-Lula na área onde sempre foi maior seu favoritismo.
É, diga-se, uma tática de eficácia mais que limitada, duvidosa: quem mais tem tido prejuízos com ela é Aécio Neves, que não consegue espaço para nada mais que não seja um chororô sobre a herança de FHC. O que, francamente, nem com a benevolência da mídia, impressiona sequer o tucano mais empedernido.
A segunda aposta é contar com a inapetência das forças políticas de esquerda pelo enfrentamento. E não se diga que ela não existe, porque dez anos de poder “amansam” muitos, que começam a acreditar que o silêncio e, pior, a pusilanimidade, são a melhor maneira de preservarem suas posições e conveniências políticas.
Aliás, na campanha de 2010 esta apatia se manifestou e não fosse o próprio Lula assumir o discurso de confronto – apesar das restrições que, agora se vê, eram comandadas pelo procurador-geral Roberto Gurgel – estaríamos todos nos desculpando com os senhores da mídia pelo lançamento de um petardo mortífero na cabeça de José Serra. Reflitam: quem da direção do PT teria coragem de compará-lo ao goleiro Rojas e à farsa famosa da “fogueteira” como fez o então Presidente?
Uma comparação que, não fosse a blogosfera, não teria repercutido como repercutiu, embora não lhes faltassem “peritos” para comparar o “projétil” ao meteorito que despencou sobre a Rússia, dias atrás.
Agora, outra vez, é ele, Lula, quem pressente que a comunicação independente que se faz via blogs será imprescindível no novo embate que já se aproxima.
Se está além de nós, blogueiros progressistas, sem recursos e meios, fazer isso em ponto grande – embora, creio, já fosse tempo de uma experiência assim – isso não nos desobriga, a cada um de nós, de fazermos a nossa parte.
Escrevendo, comentando, dando repercussão a fatos, visões e verdades que teimam em ocultar, esquecer, camuflar.
Travando a democrática e esclarecedora atividade de polemizar com o coro uníssono da grande mídia empresarial.
E é ela, a polêmica, que modesta, mas permanentemente, faremos, com a volta, já tardia, do Tijolaço.