O dia foi de anticlímax na vacina.
No meio da tarde, o governo de São Paulo anunciou o adiamento, por 15 adias, da apresentação dos resultados dos ensaios de fase 3 da Coronavac, da farmacêutica chinesa Sinovac, envasada aqui pelo Instituto Butantan. É o segundo adiamento dos resultados, previstos antes para o dia 15, depois para hoje e, agora, para até o dia 7 de janeiro.
Oficialmente, a explicação é a mesma: a apresentação de dados completos, para permitir o registro tanto aqui quanto na China, o que, pela lei, daria à Anvisa um máximo de 72 horas para se posicionar sobre o uso no Brasil. Na prática, porém, sabe-se que há um jogo de más-vontades entre João Dória e Jair Bolsonaro, com o primeiro fazendo de tudo para escapar de um eventual veto federal ao uso de vacinas.
Ao mesmo tempo, anuncia-se na Inglaterra que a Astrazêneca teria apresentado hoje cedo à Medicines and Healthcare Regulatory Agency, o equivalente à Anvisa no Reino Unido, a documentação necessária para uma decisão sobre sua liberação. Jornais ingleses dizem que ela ocorreria entre 28 e 29 de dezembro, mas não se sabe o quanto os problemas havidos em sua fase de testes, reconhecidos pela própria farmacêutica, que encomendou novas testagens, vai interferir nisso. Nos Estados Unidos interferiu e a FDA exigiu resultados de um novo ensaio, que ainda está em curso.
Seja como for, isso não deve alterar as perspectivas de que, no Brasil, a vacinação com ela comece antes do final de fevereiro ou início de março, porque o acordo com a Astrazêneca dá à empresa até o final de janeiro para enviar à Fiocruz o ingrediente farmacêutico ativo (conhecido pela sigla IFA) que compõe a vacina, para ser separado em doses, envasado e rotulado, além de passar por um complicado processo de controle de qualidade.
A previsão de que haja doses prontas em meados de fevereiro é otimista e depende de muitos fatores, entre eles um que não está sendo levado em conta: a disparada do número de casos no Reino Unido, uma das sedes da Astrazêneca (a outra é a Suécia) e, com isso, se instalado um desespero entre eles por quantidades maiores de vacina, pois em duas semanas o número de inoculações passou pouco de meio milhão.
Tanto é assim que, no desespero, o ex-primeiro-ministro Tony Blair sugeriu, num programa de rádio, que se aplique uma única dose da vacina – a prescrição correta são duas doses – para trocar um maior número de vacinados por uma proteção menor, dada a gravidade da situação.
Numa situação destas, certamente mandar 15 milhões de doses para o Brasil não deve ser uma das prioridades da empresa.