Volta e meia é preciso que alguém nos lembre que somos – ou deveríamos ser – um país soberano.
Mauro Santayana faz isso, em artigo publicado em seu blog, indignado com a submissão brasileira aos Estados Unidos, vista como algo normal e até positivo – “civilizado”, eu diria – para uma eterna vocação de colônia.
Ele pergunta se é possível imaginar promotores norte-americanos vindo ao Brasil para serem premiados por investigações nas estatais dos EUA – sim, eles as têm, sabia? Ou se a nossa polícia, com sua expertise, iria ser chamada para abrir um escritório antidrogas em Nova York.
Não é novo, claro, que há muitos aqui que nos vendem. Aos portugueses, como Silvério dos Reis, depois aos ingleses e, há um século, aos americanos.
O novo é que há, agora, os que não nos vendem. Dão-nos de graça, por simples submissão mental, cultural, sabuja.
Yes, nós temos bananas.
Brasil-EUA: A submissão, a “cooperação” e a soberania
Mauro Santayana
A vocação para submissão de parcelas do Judiciário e da área de segurança brasileiras às autoridades norte-americanas é impressionante.
Como exemplo, temos a “colaboração” prestada pelo Ministério Público e pela Operação Lava-a-jato a procuradores norte-americanos que estão recolhendo provas contra a Petrobras e oferecendo acordos de delação premiada a presos brasileiros submetendo-se colonizada, e alegremente – nas barbas do Ministério da Justiça – às autoridades de um país estrangeiro, como se elas tivessem jurisdição em território nacional, em uma causa que envolve uma empresa de controle estatal que pertence não apenas aos seus “investidores” diretos, mas a todos os cidadãos brasileiros.
Depois, temos a romaria de procuradores e juízes aos EUA, para receber “homenagens” relacionadas a assuntos internos nacionais, e a recente presença de ministros da Suprema Corte em reuniões do Diálogo Interamericano – uma espécie de Foro de São Paulo às avessas – nos EUA. Já imaginaram um procurador norte-americano se deslocando para o Brasil para ser premiado por sua atuação, na investigação, digamos, de corrupção na General Motors, ou na AMTRAK, uma das maiores empresas estatais dos EUA – tradicionalmente deficitária – com mais de 20.000 funcionários, e presente nos 48 estados da Federação?
Como se não bastasse, agora, chega a vez do Rio de Janeiro tomar a iniciativa de anunciar a próxima abertura de um escritório da agência norte-americana de controle de drogas no Estado, a pretexto de prestar, às autoridades fluminenses, “consultoria” no combate ao tráfico e ao contrabando de armas.
Perguntar não ofende.
Considerando-se que as áreas de defesa e de relações internacionais são prerrogativa da União, e o fato de a agência norte-americana ser federal e não estadual, não seria o caso desses convênios e acordos passarem antes pelo crivo e aprovação do Itamaraty, do Ministério da Defesa, do Ministério da Justiça e da Comissão de Defesa e Relações Externas da Câmara dos Deputados?
Quando é que o Brasil vai começar a impedir ou a controlar as atividades de agentes norte-americanos de inteligência – espiões, leia-se, porque de outra coisa não se trata – em nosso território?
Essas áreas, tão solícitas em implorar o prestimoso “auxílio” norte-americano, e em aparecer nos Estados Unidos, em eventos mais “sociais” do que outra coisa, já ouviram ou conhecem o significado do termo reciprocidade, aplicado à relação entre estados soberanos?
Já se imaginou a Polícia Federal brasileira abrindo um escritório nos EUA, para prestar “consultoria” à polícia nova-iorquina no combate ao tráfico de armas?
Isso nunca ocorreria, pelo simples fato de que a população, a imprensa, o Judiciário e o Congresso dos EUA não o aceitariam, porque, ao menos nesse aspecto, eles têm vergonha na cara.
Vergonha, em nosso lugar, com esse tipo de atitude, não é outra coisa que países latino-americanos – com exceção do México, cada vez mais um estado norte-americano – vão sentir ao saber dessa notícia.
Vergonha, em nosso lugar e não outro sentimento, é o que vão ter nossos parceiros do BRICS, ao saber dessa notícia, já que todo o mundo sabe como os EUA agem: primeiro abrem um escritório em uma determinada área, depois um monte de escritórios de “cooperação” em várias outras áreas, e, depois, dificilmente dão o fora, sem criar problemas, a não ser que sejam derrotados e escorraçados, como ocorreu ao fim da guerra do Vietnam.
Ou alguém aqui imagina a Rússia, a Índia e a China convidando a polícia e os órgãos de inteligência norte-americanos a instalar escritórios e operar em seus respectivos territórios?
Não.
Eles não fazem isso, assim como não admitem que imbecis, em seus comentários de internet, em portais russos, indianos ou chineses, preguem a entrega de suas empresas ou de seu país aos EUA, ou encaminhem petições de intervenção à Casa Branca, como comumente ocorre, nestes tempos vergonhosos que vivemos, em portais e sites brasileiros.
Talvez por isso, a Rússia, a China e a Índia, sejam potências espaciais, militares e atômicas, enquanto nós estamos nos transformando, cada vez mais, em um ridículo simulacro de província norte-americana, apesar de sermos, com mais de 250 bilhões de dólares emprestados, o terceiro maior credor individual externo dos EUA.
Em tempo: em sua comunicação com a imprensa, o governo do Rio de Janeiro conclui dizendo que não pode dizer quando vai começar a operar o escritório norte-americano em território fluminense.
O anúncio oficial da instalação não será feito por nenhuma autoridade brasileira.
Ele será feito – incrível e absurdamente – como se estivesse ocorrendo em território norte-americano, pelo próprio governo dos EUA.
Nesta toada, conviria começar a pensar, com urgência, na realização de um plebiscito para a entrega do Brasil aos Estados Unidos.
Com isso, os bajuladores poderiam exercer seu amor aos gringos sem precisar de visto, ou de se deslocar para Miami ou Nova Iorque.
Aprenderíamos o inglês como primeira língua, sem necessidade de pagar as mensalidades do curso de idiomas.
E todos nós receberíamos em dólares, trabalhando e descansando quando Deus nos permitisse, já que nos EUA não existe sequer a obrigação de pagar férias remuneradas, por exemplo.
A questão é saber, se, juntamente com as riquezas e o território brasileiros, os EUA, tão ciosos de sua nacionalidade – aceitariam receber, sob sua bandeira, a “estirpe” de invertebrados morais, hipócritas, entreguistas, submissos e antipatrióticos em que estamos nos transformando.
37 respostas
Tá aí uma boa questão a se discutir, a soberania do Brasil. Mas eu quero aqui lembrar que nos últimos 13 anos não foram os EUA que desrespeitaram essa soberania, mas o Foro de São Paulo. Observem que Lula e Dilma levaram o nosso suado dinheiro (do BNDES) para financiar praticamente toda a América Latina, e tudo isso em prol de uma AL unificada através se Governos Esquerdistas. Muitos desses empréstimos se deram com juros de mãe e desrespeitaram regras aplicadas pelo referido banco de fomento a pequenos e médios empresários brasileiros. A meu ver, já que o dinheiro era nosso, o Brasil deveria ter assumido uma posição imperialista dentro da América Latina, ou seja deveria ter se tornado credora (de verdade) de países como Argentina, Uruguai e Venezuela. Vejam o prejuízo financeiro que uma utopia (uma AL vermelha) trouxe ao Brasil. Imaginem o quanto poderíamos ter exigido das nações amigas latinas e não o fizemos por causa do Foro de São Paulo. Agora me respondam: quem mácula mais a soberania brasileira, os EUA ou o Foro de São Paulo?
Se tivéssemos sido imperialistas com nossos vizinhos, o quanto teríamos enriquecido como nação nesses últimos 13 anos? O Governo Federal não teria precisado pedalar e não estaria falando em CPMF. O problema é que o PT gere nosso dinheiro como se estivesse gerindo algo pessoal; os interesses pessoais se sobrepõem aos interesses da nação.
Bem se vê que seu problema é de compreensão e não simplesmente de má-fé. Soberania e imperialismo não são sinônimos; por isso você não aceita os questionamentos de Santayana e de Brito. Só tome cuidado para não entrar nas espécies de jabuticabas nativas, tipo os skinheads tropicais ou os liberais funcionários públicos, porque aí vira piada de Bento Carneiro, vampiro brasileiro.
Não precisamos explorar ninguém, nem deixar que nos explorem. Somos uma nação gigantesca que pode andar com suas próprias pernas.
Emprestar com juros internacionais é “explorar” dentro da legalidade. Emprestar com juros de mãe é nos lesar. O BNDES e o Brasil não tem obrigação nenhuma com os sonhos do Foro de São Paulo.
É justamente de gente como vc, Alisson Souza, que Mauro Santayana está falando quando diz:
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“Eles não fazem isso, assim como não admitem que imbecis, em seus comentários de internet, em portais russos, indianos ou chineses, preguem a entrega de suas empresas ou de seu país aos EUA, ou encaminhem petições de intervenção à Casa Branca, como comumente ocorre, nestes tempos vergonhosos que vivemos, em portais e sites brasileiros.”
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A demonização do PT através de intensa e prolongada perseguição midiática/jurídica é uma estratégia de ataque, que é utilizada para minar e submeter qualquer força política (e econômica) que vise a soberania nacional, neste momento é o PT…Partido de centro/esquerda.
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Más se eventualmente chegar ao poder um partido de direita, que busque independência e soberania, será igualmente atacado…
O problema é que, infelizmente, a atual direita brasileira é sinônimo de lambeção de botas yankees e entreguismo desvairado.
O PT nunca visou a soberania nacional. O Foro de São Paulo é prova viva disso.
“Prova viva ” é você criatura, prova de ignorância abissal…
De fato, o PT não quer soberania nacional. O PT nunca protegeu a indústria naval, deixada à míngua (junto com o projeto do submarino nuclear) pelo seu sociólogo favorito, éfe agá. O PT não turbinou a Petrobrás, que se tornou uma das maiores empresas petroleiras do mundo (seria uma das Sete Irmãs, sem ser imperialista). O PT não garantiu que as instituições de vigilância tivessem liberdade para atuar, e investigar até mesmo o próprio PT (veja se isso aconteceria no governo éfe agá… Agora os tucanos o MP e a PF não investigam porque não querem). O PT não emplacou que a Copa e as Olimpíadas se passassem em território nacional. O PT não transformou o país num grande canteiro de obras de infra-estrutura. Realmente, ele nunca se importou com a soberania do Brasil. Bom mesmo é o éfe agá, da Petrobrax, da venda da propriedade do Estado em troca de aumento na dívida externa. O teólogo da dependência associada. Da diplomacia de pés descalços. Esse sim é o grande defensor dos interesses do País.
Vamos ver se em inglês você entende: “Will you shut the fuck up about communist yet? This is the twenty-first century, for crying out loud.” Fazem vinte e seis anos que caiu o Muro de Berlim. Pouco menos do fim formal da URSS. Acorda pra vida, neguinho, conspiração comunista é o bordão dos seus avós, não o seu. A menos que você tenha idade pra ser avô, porque otário o suficiente pra acreditar em golpe comunista você obviamente é.
Mais um analfabeto político a comentar algo dizendo nulidades, não sabe ele que até um diretor da FIESP considerou os empréstimos e as obras que o Brasil financiou como algo favorável para a geração de empregos e para o nosso balanço de pagamentos???? Céus, tanta idiotice e desinformação é um pesadelo!!!!!!
DILMA perdi a paciência e tolerância…acho que NÃO somente eu…fale-nos nas grandes mídias…VOCÊ está sendo CHANTAGEADA…e por quem??? fale agor…pois NÃO aguentamos essa passividade em manter esse ZÉ RUELA…enquanto a nossa soberania está indo para o RALO…PORTA DÁ UM GRITO!!!!!
O Foro de São Paulo jogou nossa soberania no ralo há muito tempo.
Contente-se com o Instituto Millenium, seu entreguista de m…..
O negócio desses coxinhas é o Partido Novo
Digo PORRA DÁ UM GRITO
essas “parcelas do Judiciário e da área de segurança brasileiras” que sabujamente, se entregam aos ianques, são os mesmo que “visitam a disneylandia” pelo menos 2 vezes ao ano.
o que vão fazer lá?
….
existe uma norma em que transferências internacionais em dólar devem “pernoitar” 1 dia em solo americano.
isso talvez explique essa atração daquelas tais “parcelas” por passeios na disneylandia ou comprar ternos em miami.
Fernando, quando é que tu vais bloquear os comentários de coxinhas analfabetos no Tijolaço? Acho que o contraditório é sempre válido quando bem argumentado e educado. Sem citar nomes, não é o caso dos que aqui tem participado.
Chega de ‘republicanismo’.
Não gostou de minhas considerações sobre nossa soberania?
Allison, você é agressivo e repetidor. O BNDS já fez a comunicação que responde a suas ilações. E mais: você posta em outros sites como esquerdista roxo, mas estamos de olho. Falso.
Engano seu! Sou comentarista exclusivo do Tijolaço.
Maria, é capaz de vcs já terem todas as informaçôes a meu respeito. Então, se vocês conseguirem venezuelizar o Brasil eu estou fudido, porque o red-DOPS vem bater aqui na minha porta. Kkkkkk #sqn
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: * * * * 04:13 * * * * Ouvindo As Vozes do Bra**S**il e postando: A propósito dessa incrível “vocação” para colonizados que alguns brasileiros (?) têm, atente para a Dica de (BOA) leitura:
Além de “O 4º Poder”, de autoria do ansioso blogueiro Paulo Henrique Amorim, recomendo também o igualmente excelente livro A INVASÃO CULTURAL NORTE-AMERICANA [ estadunidense ], de autoria de Júlia Falivene Alves, Editora Moderna. Algo sobre é o seguinte:
“O modelo cultural imposto pelo dominador pode destruir a identidade do povo dominado?
Esta é a questão central analisada por Júlia Falivene Alves, formada em Ciências Sociais e professora de História. A partir da análise do nosso cotidiano, a autora denuncia a condição do Brasil de colônia cultural dos Estados Unidos e o resultado da destruição da nossa identidade nacional em favor da adoção do estilo de vida norte-americano [ estadunidense ].
Um espaço significativo é dedicado aos meios de comunicação de massa e aos brinquedos infantis. São resgatados importantes capítulos da história do rádio, da música, do cinema e da televisão no Brasil. A principal preocupação da autora é com a análise dos conteúdos ideológicos veiculados pela cultura importada.
Através de questionamentos a respeito de quem éramos antes do processo de invasão, em que nos transformamos e a serviço de que e de quem atua o colonialismo cultural, são denunciadas, sem xenofobia, mas de forma contundente, a infiltração de modelos norte-americanos [ estadunidenses ] e as perigosas consequências que isso pode representar para nossa identidade nacional.”…
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Ley de Medios Já ! ! ! ! Lula 2018 neles ! ! ! !
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A Constituição está sendo desrespeitada. Onde está ao menos o Ministério Público para Iniciar a Ação e pedir punição dos servidores que desrespeitam a lei maior ?
O mais triste é que a classe média sem leitura acha que terá seu quinhão com os americanos. No maximo uma meia dúzia de fegacês. A classe média é bia para ser usada pelos ixxperrtos. Sempre foi.
Os que têm leitura são os que pensam pelos benefícios que recebem?
Quem observa o que USA fazem no Oriente Médio, além da sua intervenção desestabilizando governos como ocorreu recentemente no Iraque , Síria e Afeganistão e dezenas de outros países, pensaria duas vezes p/ não terem o mesmo destino daquelas populações. Em relação ao BNDS não há país do mundo que utilize mais seus governantes , políticos e embaixadores , financiando subsídio com objetivo vender os seus produtos que os USA, ter postura contraria é de uma ingenuidade sem limite.
Penso que p/ entendermos o desamor ao Brasil por parcela da população seria interessante estudarmos a história do Brasil. Como fomos colonizados. Portugal nunca viu nessa terra um lugar p/ construir uma nação, mas sim uma colonia p/ abastecer o seu reino. Os que aqui herdaram as terras o faziam p/auferir a maior riqueza na sua extração. O Brasil para sua elite nunca foi uma nação mas um lugar vendável. Com o advento de Holywood houve imediata identificação com o novo colonizador e o sonho da burguesia era e é ter o green card. Talvez seja isso que certos políticos e parcela do nosso judiciário, que vão lá entregar a Petrobras, almejam.
Tens razão, Renato. Conheço uma pessoa que fez uma tese de doutorado na qual comparou as cartas dos portugueses sobre o Brasil e dos ingleses sobre as colônias norte-americanas. Um dos verbos utilizados pelo portugueses para descrever suas intenções na nova terra foi estuprar. Já os ingleses, expressavam o desejo de desposar a nova terra e com ela constituir família. É pouca coisa, mas diz muito das intenções e dos projetos. Não é uma explicação determinista para o que vemos hoje, mas o Brasil é um país estranho, onde sua elite não quer ser brasileira e seu povo não é bem acolhido, de forma que vivemos em permanente relação de amor e ódio.
A cara desta idiota de verde e amarelo na frente da faixa é a perfeita definição do sentido desta faixa.
Engraçado! Quando Evo Morales desrespeitou a soberania brasileira com aquela “desapropriação sem indenização”, não vi nenhum blogueiro estatizado falar contra. Talvez porque o Evo não tenha desrespeitado a soberania do Foro de São Paulo.
E desde quando os EUA venceram a guerra contra as drogas para ensinar alguma coisa? Se ainda fosse Holanda, vá lá.
Exatamente! As drogas permanecem circulando por causa dos usuários abastados. Então podemos concluir que o maior responsável pelo tráfico de drogas seja o próprio governo estadunidense através de suas bem azeitadas agências de inteligência (CIA; DEA; FBI).
O episódio Irã-Contras ilustra bem esse fato.
ter consciencia de coisas de tipo da um desanimo grande e a sensaçao de impotencia diante dos fatos.
É a “Teoria da Dependência” defendida por FHC e Enzo Faletto.
Isso é inacreditável!!
Caros amigos, certamente voces leram esta matéria publicada hoje na Carta Capital. Lhes envio por via das dúvidas. Daqui da França, espero que os organismos sociais, sindicatos agrícolas (MST, via campesina) blogueiros lancem uma campanha nacional contra esta lei que a Camara de deputados e deputados corrompidos financiados pelo multinacionais do agronegócio tentarão fazer aprovar. Espero que a presidente Dilma vetara. Não é possível que esta lei seja aprovada. A ministra da Agricultura Katia Abreu não é confiável. Vamos a luta companheiros
Aqui na Europa a semente Terminator foi proibida.
Um abraço a todos
Paulo de Rezende
6, cour Saint Nicolas
67000 Strasbourg – France
[email protected]
Brasil pode ser o primeiro País a liberar semente Terminator
Projeto de lei avança no Congresso e pode disseminar sementes propositalmente estéreis produzidas por multinacionais
por Sue Branford* — publicado 09/11/2015
* Jornalista inglesa Sue Branford foi editora para a América Latina da BBC é correspondente do Guardian em São Paulo.
sementes
As Terminator são sementes modificadas geneticamente para ficarem estéreis a partir da 2ª geração. A nova semente pode trazer custos ao agricultor, que teria de comprar grãos para o plantio a cada safra
grãos
Grupos de lobby costumam se aproveitar de governos enfraquecidos, e o Brasil não é exceção. Em meio à atual crise política, a bancada ruralista no Congresso se movimenta para aprovar um projeto de lei que modificaria a Lei de Biossegurança. Se aprovado, o PL 1117 fará do Brasil o primeiro país no mundo a legislar em favor do cultivo comercial de plantas propositalmente estéreis, afrouxando a proibição às chamadas sementes Terminator.
Ambientalistas acreditam que o PL, hoje avançando no Congresso com pouca discussão, representa uma das maiores ameaças de todos os tempos à biodiversidade brasileira.
A intenção da bancada ruralista não é nova. Desde a aprovação da Lei de Biossegurança em 2005 esses parlamentares tentam liberar o cultivo de plantas Terminator. A diferença desta terceira tentativa é que nunca as chances de aprovação foram tão grandes.
O filho da ministra de Agricultura, Kátia Abreu, Irajá Abreu (PSD-TO) apresentou o primeiro projeto de lei em 2005 e hoje comanda a Comissão de Agricultura da Câmara dos Deputados. É nesta comissão que Alceu Moreira (PMDB-RS) apresentou o novo texto.
Gerson Teixeira, especialista em desenvolvimento agrícola e crítico da iniciativa, vê poucas chances de obstruir a aprovação: “a bancada ruralista tem um céu de brigadeiro à sua frente”.
Muito parecido com os dois anteriores, o novo PL reduz a proibição das Tecnologias Genéticas de Restrições de Uso, as GURTs, comumente chamadas de Terminator. Tratam-se de sementes transgênicas modificadas para se tornarem estéreis a partir da segunda geração.
O projeto libera essas sementes nos casos de “plantas biorreatoras” ou plantas que possam ser “multiplicadas vegetativamente”. Plantas biorreatoras incluem qualquer planta modificada geneticamente para uso industrial — por exemplo, para a indústria farmacêutica ou para a produção de biocombustíveis.
Plantas “multiplicadas vegetativamente” são aquelas que se reproduzem assexualmente. Essas exceções irão permitir o uso de espécies estéreis no cultivo de algumas das lavouras principais no Brasil, como cana-de-açúcar e eucalipto.
As sementes seriam também liberadas para o cultivo de plantas consideradas “benéficas para a biossegurança”. Essa linguagem vaga introduz outra brecha interessante aos produtores das sementes transgênicas. Caberia a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), onde a bancada ruralista goza de boa influência, a decisão sobre o que é “benéfico para a biossegurança”.
Ambientalistas preocupados
Os defensores dizem que essas sementes são seguras, porque as suas próprias caraterísticas, sobretudo a sua esterilidade, impediriam a sua disseminação. Os ambientalistas não concordam.
Segundo Silvia Ribeiro, diretora para América Latina do ECT (Grupo de Ação sobre Erosão, Tecnologia e Concentração), uma organização internacional de estudos ambientais e socioeconômicos, “existem relatórios científicos indicando que as GURTs não funcionarão como prometido e implicam em novos riscos”.
A EcoNexus, instituição britânica que investiga esse tipo de sementes desde 1998, não está convencida de que as Terminators não causarão contaminação.
O fato de estas sementes terem passado por modificações genéticas para serem estéreis traz preocupação quanto às consequências de uma introdução no ecossistema. Em um cenário ruim, o gene Terminator poderia se espalhar de forma imprevisível pelo Brasil, ameaçando inclusive biomas como o da Amazônia
Teixeira é pessimista quando ao possível efeito: “essas sementes podem levar a um Armagedom da agricultura brasileira”.
Mais gastos para agricultores
Se a esterilidade das plantas se generalizar, haverá ainda consequências econômicas para os agricultores brasileiros, particularmente os pequenos. No momento, os produtores guardam sementes de quase dois-terços dos seus cultivos para plantar no ano seguinte, reduzindo consideravelmente os seus custos.
Com o uso de sementes estéreis, há a obrigação de se comprar novas sementes todo ano.
Citando o exemplo do milho, Teixeira calcula que os agricultores brasileiros teriam que pagar R$ 1,17 bilhões por ano na compra de novas sementes, comparado ao desembolso atual de R$ 162 milhões.
Quem ganha com esse extra é o mercado de sementes, hoje dominado por multinacionais. Segundo Darci Frigo, advogado da organização socioambiental Terra de Direitos, “as multinacionais compraram praticamente todas as pequenas e médias empresas de sementes. Elas dominam a cadeia alimentar desde a produção de sementes, fertilizantes e pesticidas até a logística, transporte e exportação. Os agricultores são totalmente subordinados a esses grupos.”
Os chamados “big six” – Monsanto, Dupont e Dow (EUA), Syngenta (Suíça) e as alemãs Basf e Bayer – introduziram todos os transgênicos autorizados para cultivo comercial no Brasil. A única empresa brasileira no setor é a estatal Embrapa.
Gerson Teixeira acredita que as multinacionais estão por trás do movimento em prol da aprovação do PL, uma vez que elas ganhariam uma espécie de “patente biológica” impedindo os agricultores de guardar as suas sementes – forçando as novas compras a cada ano.
COP 21
Em 2000, os 192 países signatários da Convenção sobre Diversidade Biológica – um tratado internacional que reconhece que a conservação da diversidade biológica é uma “preocupação comum da humanidade” – impuseram uma moratória sobre as Terminator. As empresas de biotecnologia se comprometeram a não comercializá-las.
A aprovação na Comissão de Agricultura é só o primeiro passo. O que pode dificultar o lobby da bancada ruralista é a Conferência do Clima em Paris em dezembro. O Brasil deve apresentar seu sucesso em reduzir o desmatamento na Amazônia. O prestígio internacional vindo com este avanço, no entanto, poderia ser ofuscado pela eventual censura internacional caso o País se torne o primeiro do mundo a dar o sinal verdade para as Terminator.