2019: entre o Tiririca e o “prendo e arrebento”

Começa amanhã um novo governo, em relação ao qual o eventual otimismo de parte da população tem duas vertentes.

A primeira, depois de Michel Temer, é a “Tiririca”: pior do que está, não fica.

Como, porém, o slogan do dito cujo foi criado em 2010, é evidente que sim, fica.

Quando o ano que se encerra começava também eram grandes as expectativas de melhoria. O PIB subiria 2,7% e, afinal, ficará na metade disso. Os relativos sucessos na inflação baixa e nos juros que, com isso, ficam baixos também, foram, nas palavras do competente analista de economia José Paulo Kupfer, ancorados pela demanda comprimida pelo “desemprego,  subutilização de mão de obra e informalidade crescente “.

Não se vê nada para sugerir aumento de renda e emprego, ao contrário.

No resto, sabe-se muito sobre o que vão fazer, mas as desonerações fiscais que se anunciam costumam ir parar no bolso nos empresários, não nos preços ao povo e em investimento nas fábricas. Foi o caminho, aliás, ruinoso do segundo mandato Dilma.

Se ocorrer como nos cortes de impostos de Trump, como mostram os números, o grosso do dinheiro que deixará de ser recolhido irá para o jogo financeiro das empresas (recompra de dívidas e de ações) e para os segmentos mais ricos da população.

Como isso não gera consumo e impostos senão marginalmente, o resultado é maior dificuldade de lidar com o defict público e, portanto, menor disponibilidade de recursos para serviços à população. De novo, nos EUA, o ano fiscal de 2018 encerrou-se (lá, no final de setembro) com um deficit orçamentário de  3,9% do PIB, ante 3,5% no ano fiscal de 2017.

Diverge-se em que velocidade e em que profundidade, mas os analistas econômicos têm quase como uma unanimidade em esperar uma crise econômica severa em 2019. A implementação de decisões econômicas postergadas pela mudança de governo e acomodações na máquina fiscal podem até levar a bons resultados iniciais, mas não têm fôlego para substituir um projeto econômico que, até agora, não deu as caras.

A segunda fonte do otimismo de parte do eleitorado pode ter, com o sinal contrário, o famoso “Eu prendo e arrebento” com que o general João Figueiredo disse fazer àqueles que não queriam a abertura política iniciada por Ernesto Geisel. Agora, porém, o “prendo e arrebento” ganhou tons de “fechadura”: supressão de liberdade e perseguição policial-judicial sobre todos os que alguém se interessar em apontar como “corruptos”, mereçam ou não as aspas.

Só que há pouco ou nada previsível de bom se prenuncia naquilo que alimenta o sentimento punitivista, insuflado pela mídia: a falência dos serviços públicos, a ruína das administrações estaduais, a violência generalizada não dão sinais de mudança. E estas batatas, muito quentes, agora cabem ao vencedor das eleições.

Agora some a estes dados objetivos da realidade os subjetivos – e imponderáveis – que vêm do fato de que o poder vai ser ocupado, nas áreas que não coube aos militares, por gente com pouca experiência e muito apetite, nenhum espírito público e toda a arrogância.

Sob a batuta de um regente que, ao contrário de sugerir um tom grave e pausado, segue açulando sua turma como fez hoje, culpando “o marxismo” pelas deficiências da educação brasileira. É claro que coisas assim só vão gerar conflitos, com a turma de oportunistas de dedo duro querendo usa-los para subir nas estruturas do serviço público.

2019 será, para o Brasil, um ano terrível. Mas não fatal, porque este país é imensamente maior que as mentes miúdas e mesquinhas que amanhã se entronizam no poder, que têm tudo para superar, em pequenez, a corja que subiu com o golpe de 2016.

Ter dúvidas de que se está implantando um governo obscurantista, autoritário, com estruturas crescentemente fascistas e de aniquilamento do pouco que temos de estado social e de soberania é o pior que nos pode esperar em 2019.

Se não as tivermos, sobreviveremos.

Facebook
Twitter
WhatsApp
Email

15 respostas

  1. Só discordo de que “não será fatal”. O que vem por aí, creio eu, é pior do que se imagina, porque não se trata apenas da questão interna. Estamos prestes a entrar num circuito de conflitos com outras nações, como nunca o Brasil viveu. E isto pode sim ser fatal, para um país que não conta sequer com o amor de seus filhos.

    1. Fatalidade não pressupõe destruição total. Por isso, concordo com você. Os zumbis são mortos vivos…

  2. Sem dúvida, vamos sobreviver. Quando olho para a diversidade do Brasil não posso acreditar que meia dúzia de desequilibrados possa nos afundar.

  3. Obrigado por tudo Brito, que tenhas muita saúde em 2019, para continuar a luta ardua em favor da Funasa democracia.

  4. Sim, será fatal. Senão não nos atirar definitivamente numa vala profunda será fatal pelo menos para a minha geração que jamais verá esse país e seu povo resplandecerem em sua grandeza. Meu sonho foi definitivamente soterrado, não só pelo violento e energúmeno Bolsonaro, mas principalmente pelo povo do meu país que é mais preconceituoso, violento, arrogante e estúpido do que jamais pensei.

    1. Concordo em letra e música. Se 2018 foi um ano de comédia dos erros, o meu maior foi também ter ignorado que, diante do insofismável dilema: “mas você vai preferir votar em um nazista?” houvessem tantos compatriotas que nem hesitariam em fazê-lo. Conhecer melhor o povo do meu país não foi, certamente, um prazer. E vê-lo e ouvi-lo nas ruas, menos ainda. Agora entendi como algo tão anormal como o lema franquista “abaixo a inteligência, viva a morte” pudesse ter alguma valia como lema. E, se houver alistamento para uma espécie de “Bolsojügend”, acredito que as filas serão tristemente longas. Não era pra ser assim…

    2. Compreendo sua amargura (devemos ser da mesma geração) mas você tem que ver que além de toda a manipulação midiática e geral na grotesca “campanha” essas eleições foram FRAUDADAS na maquininha caixa preta do TSE e ninguém contestou… porque, “espertamente”, o canalha FDP Bolsonazi adiantou-se e fez todo aquele jogo de cena apontando para desconfianças quanto à urna eletrônica, pois sabia que assim depois dele ninguém mais (principalmente as esquerdas) iria(m) colocar sob suspeita a apuração dessa palhaçada toda que foram essas eleições 2018. A esquerda não iria fazer o mesmo que os canalhas patifes pilantras de direita fizeram e fazem (quando é conveniente para tais), colocando em dúvida as eleições… Tinha que se ter contestado desde o primeiro minuto da totalização, de qualquer maneira, mas as esquerdas do Brasil como sempre, querendo ficar bem na foto da “democracia republicana”, vazou momentaneamente (mas num vacilo imperdoável num instante decisivo) do seu compromisso com o povo brasileiro.

  5. O estrago será imenso. Quanto a sobrevivemos estou pessimista, principalmente pelos pobres.
    Vamos passar do nível de pobreza para o de miséria absoluta.
    A guerra nos morros cariocas vai ser sangrenta.

  6. No dia do resultado das eleições – diga-se de passagem com a vitória do mito – tive que suportar um inferno de fogos aqui no meu bairro. Pois hoje por aqui
    não tivemos fogos na passagem desse ano de 2018 para 2019 nem para assustar cachorros. Não sei quanto ao resto do país, mas ao menos no meu bairro não houve nem os fogos costumeiros. Fiquei impressionada com o marasmo. A impressão que eu tive é que as pessoas por aqui que votaram e festejaram a vitória do mito já perceberam a burrada que fizeram.

    1. aconteceu aqui em brasília também. mas os imbecis já votaram pelo apocalipse do país. nunca imaginei que houvesse tanta gente burra ignorante mesquinha ruim e estúpida no Brasil. Esses imbecis subiram no banquinho e puseram a corda no próprio pescoço. agora percebem a verdade do ditado que diz que, para quem faz isso, O Todo-Poderoso encontra quem chute o banquinho.

  7. :
    : * * * * 04:13 * * * * * Próprio para esta época, de povUSS_$$ e genteSS ma$$ificadA$$ no individualismo hedonista inconsciente, inconsequente e egoísta pela midiotização globalizante/globalizada, o poema a seguir está sendo CENSURADO por uma editora carioca (CBJE), que não o publica “on-line”, por razões obscuras, numa das seletivas de poemas de dezembro de 2018, para livro a vir a lume em março de 2019 :

    Elles (Ou Mal lutar é lutar mal)

    Dedicado ao eleiTORADO brasileño, no pós-eleições de 2018…

    Nunca se viu povo tão idiota
    militando contra a própria sorte!…
    Mesmo toda paciência se esgota
    quando os “fracos” idolatram o “forte”.

    E ainda esperam alguma cota…
    Coitados! Que o tempo não lhes corte
    a memória em meio à tal rota
    da vida indo ainda mais para a morte…

    ……………………………. Cláudio Carvalho Fernandes
    ……………………………. (Poeta (anarcoexistencialista))

  8. O governo que toma posse hoje deverá calibrar as receitas apenas para custear as despesas do judiciário, forças armadas, legislativo e a si próprio. O resto deverá ser entregue à iniciativa privada nacional ou internacional. Os Estados serão pressionados, através das respectivas dívidas, a agirem da mesma forma. É como se a elite do país se recusasse a administrar os destinos da nação. Observa-se esse comportamento da elite através de seu consumo. Não consomem praticamente nada aqui fabricado, só importados. Turismo por aqui, nem pensar. E não esperem reação do povo, pois esse será contido pelas forças de segurança caso necessário.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *