Janio de Freitas, com muito mais talento, observa hoje, na Folha, aquilo que ontem se abordou aqui: a inércia cúmplice da Justiça e da imprensa ante a pregação da barbárie feita por jair Bolsonaro.
Inércia, digo eu? É pouco, o que há é uma solidariedade ativa – ainda que indireta – para acentuar o clima de divisão primário a que, desde há tempos, levou-se este país.
A apologia do ódio – e, agora, a do crime – feita por este senhor passou de todos os limites do tolerável.
Mas isso não vem ao caso, não é?
A voz da violência
Janio de Freitas, na Folha
Os limites legais e os limites dos costumes caem no Brasil sem cessar e sem obstáculos. Mas Jair Bolsonaro, contribuinte para os dois ramos da ceifa, avançou demais a pretexto da pré-candidatura à Presidência. Sua pregação da violência, mesmo que criminosa como a das milícias, passou a fazer o incentivo explícito e público aos assassinatos.
Ei-lo, depois de vestir uma faixa presidencial, no sul do Pará, uma das duas regiões rurais de maior criminalidade: “Esses marginais que cometeram esse crime [morte de um açambarcador de terras] não merecem lei, não. Merecem é bala.” E foi por aí.
Um defensor de menos injustiça social não precisaria chegar a tanto para que estivesse atolado em processos criminais. E preso.
Bolsonaro jamais correu tal risco, nem qualquer outro decorrente de leis. Desde o início como agitador da violência, quando usou a então mulher para ameaçar com o corte explosivo da água para o Rio, caso sua turma de tenentes não recebesse aumento, Bolsonaro aplica à vontade a sua vocação. Para ele não há Procuradoria-Geral da República, Ministério Público, Judiciário, como não houve Justiça Militar. Há pouco, o comandante do Exército posou com o pré-candidato para foto logo incluída na campanha eleitoral.
Bolsonaro está levando pelo país afora, com maior presença nas áreas mais conturbadas, a sua pregação da violência e da arma como “um direito dos cidadãos”, em detrimento das condutas legais. É propaganda contra a Constituição. E não só. Também se contrapõe às ansiedades da população e aos esforços, tantas vezes fatais, pela contenção da violência.
Bolsonaro mobiliza o que há de pior no Brasil. Sob os olhares viciados dos que deveriam agir sem distinções na proteção do Estado de Direito.
Um exemplo pelo avesso desse vício faccioso está na repercussão da sentença que absolveu Lula (e mais seis) de “obstrução à Justiça”.
A absolvição ressaltou-se por fugir ao esperado, interrompendo uma sequência de fatos similares já no quarto ano. Solução reveladora para um caso revelador: o próprio juiz federal Ricardo Soares Leite refere-se à sua percepção de uma montagem suspeita. A do encontro em que o então senador Delcídio do Amaral insiste em fantasiosa fuga de Nestor Cerveró, cuja anomalia facial bastaria para repeli-la.
O Ministério Público não esteve alheio a esse episódio. E muito menos à segunda montagem, em que o nome de Lula entrou no depoimento de um Delcídio do Amaral desesperado por obter dos procuradores da Lava Jato, a qualquer custo, o prêmio da liberdade. Recebeu-o sem demoras.
Se estava dito todo o desejado, para que as provas de repente exigidas pelo juiz de Brasília? Não foram apresentadas, nem existiam. Os procuradores estavam, e continuam, habituados com Curitiba. Assim como o deputado Bolsonaro com a ética da Câmara, com a Justiça Eleitoral e com o Ministério Público.
9 respostas
Vejo que os golpistas estão brincando de roleta russa. A diferença aqui é que hora apontam a arma para a cabeça da Democracia, e na outra apontam para o povo brasileiro. Se a arma disparar contra a Democracia teremos o Caos e a Miséria, se disparar contra o povo teremos Miséria e Caos. E quando isso acontecer – não trnham dúvidas que tem um projetil naquele tambor – os golpistas vão para Miami, viver suas vidas de corruptos bem-sucedidos, depois de vender a massa falida – nós – aos abutres.
BOSÓNARO (BOSÓ + IGNARO) NÃO É DE TODO RUIM…
ELE ESTÁ AGLUTINANDO TODO O LIXO FASCISTA DO BRASIL EM UMA VOTAÇÃO SEM EXPRESSÃO…
FICA ALI… NA PRAIA DA DEMOCRACIA, AFOGADINHO COM A FADINHA DA FLORESTA, A MARINA SILVA, A FUNDAMENTALISTA EVANGÉLICA ANTI-AMBIENTAL…
O Fanatismo é a expressão máxima da falta de crítica, aliada à uma identidade de grupo. Odeio o que é diferente e esse diferente deve morrer. Eis a face do autoritarismo, do Fascismo! E se ele recebe apoio, é porque a horda que o apoia se identifica e pensa da mesma forma!
Alguma dúvida de que estamos, desde a deposição de Dilma, vivendo uma ditadura?
Mais assustador que esse senhor continue pregando pelo Brasil asa suas estutices, é perceber que ninguém faz nada para detê-lo. Quando acordarem será tarde, estarão num tribunal de execuções.
Desde que o diabo sabe mais por velho que por diabo (Martín Fierro), posso assegurar que no
mínimo 80% dos mil colegas médicos de Santa Maria-RS votam no boçalnaro em segundo T.
Além de tudo que se fala sobre o Bolsonaro, pouco se fala do apoio por ele recebido de várias igrejas. Aqui no sertão norte baiano, por exemplo,boa parte dos pastores instruem abertamente seus fieis a votarem no Bolsonaro. Junte isto a uma rede de rádios extremamente conservadoras – uma unanimidade em minha região – e podemos imaginar o resultado.
PARABÉNS À MISCIGENAÇÃO
“Por meio de seu perfil oficial no Twitter, o ex-presidente Lula falou a respeito da final da Copa do Mundo da Rússia, vencida pela França. Ele fez alusão ao multiculturalismo representado pela seleção francesa.
‘Espero que depois da Copa todos tenham apreendido uma lição: o ódio e o preconceito não levam a lugar algum. O amor ao próximo e a tolerância com a diversidade é que vão construir um país democrático, generoso e mais justo. #RecadoDoLula’, diz a mensagem.
Mais cedo, a pré-candidata à Presidência pelo PCdoB, Manuela D’Ávila, também comentou sobre a vitória dos franceses.
‘Parabéns à França, Campeã da Copa do Mundo 2018. Uma seleção multicultural, com raízes em 17 países, e muitos jogadores imigrantes ou filhos de imigrantes. Tema importante para pensarmos nesses tempos de xenofobia que estamos vivendo.'”
http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2018/07/para-lula-final-da-copa-mostra-que-odio-e-o-preconceito-nao-levam-a-lugar-algum
O Brasil nunca passou a limpo seu recente passado com a ditadura civil-militar de 1964. Prova disso são as inúmeras manifestações favoráveis a uma nova intervenção militar, expressas por altos oficiais da ativa e da reserva das nossas Forças Armadas, o próprio golpe de 2016 e toda a inversão civilizatória que vivenciamos, o apoio midiático dominante somados à candidatura do patológico ex-capitão Jair Bolsonaro à Presidência da República. Pensávamos que a Constituição Cidadã de 1988 fosse aruptura com esse passado. Ledo engano. Os fatos recentes evidenciam tal postulado. A razão de tudo isso chama-se impunidade! O Brasil, diferentemente dos demais países latino-americanos, deixou-se levar pelo canto de sereia da Lei da Anistia. Como tratar desiguais como iguais se um dos lados possuía a máquina institucionalizada da guerra, do terror, da opressão, as forças da destruição e da morte? A verdade começa a emergir dos porões da ditadura pelas manchetes mais recentes, sobre crimes de lesa humanidade perpetrados pelos agentes da ditatura de 64, envolvendo a alta cúpula. A questão não é revanchismo. Nem tampouco o
predomínio da Justiça. Mas, encerrar de vez a impunidade, porque ela é um convite para que tudo se repita, como se fosse algo normal. Por que os militares na Argentina nem no Chile não se comportam como os brasileiros? Porque foram exemplarmente punidos! Recentemente um ex-coronel do exército chileno do ciclo das ditaduras no continente foi preso em Buenos Aires e deportado para julgamento. Vários generais argentinos foram condenados a prisão perpétua e alguns já morreram nos presídios. A própria Constituição Argentina, reformada em 1997, prevê sanções severíssimas para novos golpes de Estado. Do exposto, é
preciso o Brasil rever todo esse quadro e se ajustar ao Direito Internacional. Revogar a famigerada Lei da Anistia é o primeiro passo. Não podemos mais conviver com o fantasma da tortura, com a cultura da violência, do armamentismo, do militarismo, com os bolsões do autoritarismo. Bolsonaro representa esse passado. É o símbolo da impunidade.