O populismo barato de Marina sobre o BNDES

lucro

Marinafaia, no twitter:

ScreenHunter_4904 Sep. 20 13.55


 

É uma falácia sem tamanho.

Um populismo barato de candidato a vereador.

O BNDES existe para emprestar. É a sua função social. Marina Silva iria usar o BNDES para quê? Para trocar figuras com o Itaú?

As grandes empresas, naturalmente, pegam mais dinheiro. Nas gestões Lula/Dilma, porém, a quantidade de pequenas e médais empresas que obtiveram acesso a financiamentos do BNDES multiplicou-se por várias vezes, se comparada à gestão anterior.

O BNDES não “dá” dinheiro para ninguém. Ele financia e recebe de volta. E lucra com isso. No primeiro semestre de 2014, registrou o maior lucro de sua história.

Reproduzo abaixo um trecho de texto publicado no site do BNDES, e um gráfico.

*

BNDES tem lucro recorde em 2014

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) registrou lucro líquido de R$ 5,471 bilhões no primeiro semestre de 2014. O resultado é o maior já apresentado para o período e 67,8% superior aos R$ 3,261 bilhões obtidos no mesmo semestre de 2013. O lucro foi influenciado pelo bom desempenho da BNDESPAR, empresa de participações do BNDES, que registrou lucro de R$ 2,148 bilhões, superando em 236,4% o valor do primeiro semestre do ano passado.

Os demais indicadores do período também foram muito positivos. A rentabilidade sobre o patrimônio líquido médio do Sistema BNDES alcançou 8,53%, acima dos 6,73% do mesmo semestre de 2013; e o índice de Basileia atingiu 18,4%, situação confortável diante dos 11,0% exigidos pelo Banco Central e superior aos 17,1% de março deste ano e dos 15,8% apurados em junho de 2013.

Além do desempenho da BNDESPAR, o lucro do Sistema BNDES foi composto pelos resultados do Banco e da Finame, respectivamente, de R$ 2,994 bilhões (R$ 1,969 bilhão em junho de 2013) e R$ 330,9 milhões (R$ 443,9 milhões em junho de 2013).

O principal impacto positivo sobre o lucro do Sistema BNDES veio do crescimento de 108,2% do resultado com participações societárias, que passou de R$ 1,779 bilhão no primeiro semestre de 2013 para R$ 3,703 bilhões no mesmo período deste ano. Historicamente, o desempenho obtido por meio da boa gestão das operações da carteira da BNDESPAR tem permitido ao BNDES reduzir ao máximo os custos de seus créditos em renda fixa.

O aumento do lucro líquido consolidado do BNDES foi decorrente, basicamente, de três fatores: alta de 31,8% da receita com dividendos e juros sobre capital próprio, que saiu de R$ 1,999 bilhão em 2013 para R$ 2,634 bilhões em 2014; melhora do resultado com derivativos, que passou de R$ 187 milhões no primeiro semestre de 2013 para R$ 657 milhões no mesmo semestre de 2014; e redução de 57,7% da despesa com provisão para perdas em investimentos no montante de R$ 795 milhões, ante R$ 336 milhões no semestre corrente.

Outro fator que influenciou positivamente o lucro de junho foi o aumento de 19,3% do resultado de intermediação financeira, que passou de R$ 5,025 bilhões no primeiro semestre de 2013 para R$ 5,994 bilhões em igual período de 2014. A expansão foi consequência do crescimento da carteira de crédito e repasses, da gestão dos recursos de tesouraria e da melhora do resultado com provisão para risco de crédito.

O patrimônio de referência (PR), que determina a capacidade de financiamento do Banco, atingiu R$ 110,458 bilhões em junho de 2014, superior aos R$ 108,669 bilhões registrados em dezembro de 2013 e dos R$ 96,021 bilhões de junho do ano passado.

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11 respostas

  1. Esse tipo de numero serviria para Dilma na sua tradicional coletiva de domingo dar uma estocada na Marina e mostrar o quanto ela é contra os bancos públicos e o apoio que eles dão as empresas brasileiras.

    Poderia perguntar por que ela é contra os bancos publicos?

    Por que ela é contra financiar milhares de empresas brasileiras?

    Que tirar financiamento das empresas é gerar desemprego.

    Essa declaração dela pode se voltar contra ela.

  2. Atraves do CARTAO BNDES, milhares de micro empresarios tivram acesso pela primeira vez, a credito a taxas economicamente viaveis. Cito, meu caso que utilizei um Cartao com credito de R$ 100.000,00, a taxas de 0,94% a.m.
    A contratação também é desburocratiazada, o micro empresario faz a solicitação e cadastro pela internet, indica o banco conveniado, e uma semana depois o cartão esta no banco.

    1. Vellinha, pela “lógica! da “nova política” o BNDES lhe deu 100 mil reais!

      Agora, falando sério, 0,94 é perto do que os bancos privados cobram pra consignado de funcionário público ou do INSS. Por isso que Robertinho (ser´ele um “educador” tb?) Setúbal reclama das taxas subsidiadas do BNDES

      1. É isso! E muito mais. O que esses novos barões pretendem mesmo é a paralisação total de toda e qualquer estratégia de superação do sistema Casa Grande-Brasil-Eterna Senzala. O que querem é a perpetuação do subdesenvolvimentismo capitalista e o alijamento perpétuo de aproximadamente 50% do povo dos benefícios do progresso social. O que querem mesmo é o Brasil como eterna reserva de valor para os abutres de sempre.
        Para a elite mais submissa mundo, testa de ferro dos USA, cavalo-de-troia e laboratório neoliberal de interesses alienígenas: Brasil bom é Brasil morto!

  3. Com a Marina, poderemos amanhecer o dia 06 de outubro de 2014 na República dos Estados Unidos do Brasil, para a felicidade geral dos banqueiros e da imprensa marrom brasileira.

  4. É muita falácia!
    Com essa, a candidata acaba de consolidar a minha “rejeição”. Até ontem, se eu fosse pesquisado naquele mais improvável cenário de 2° turno: Marina X Aécio, eu diria que votaria na ex-senadora. Agora eu votaria nulo.

    Trabalho no setor financeiro. A falácia que mais me irrita em política é comparar empréstimo com custo a fundo perdido. “Deu dinheiro pro porto em Cuba”, “Deu dinheiro pros estádios particulares”… se vc tem uma casa financiada pelo banco X, então o banco LHE DEU a casa? Metade das pessoas que eu conheço “ganharam” um carro de um banco…rsrsrs

    Acho que mais que falácia, essa afirmação é uma vigarice! Ainda tenho respeito e admiração pela história de vida de Marina Silva, mas como candidata não votaria mais nela nem se fosse contra Serra.

    O BNDS podia soltar uma nota dizendo o quento “deu” pra agricultura familiar e pra construção de moradia (MCMV), o quanto “deu” pra transposição do Rio São Francisco, o quanto “deu” pro metrô e obras de infraestrutura, etc.

  5. Marina não sabe como funciona o BNDES. Merece análise o fato de Marina Silva ter pretensões de governar o Brasil sem conhecer as instituições brasileiras. A última pérola da candidata pessebista em seu Twitter é a seguinte: “O BNDES deu R$ 500 bi p/ ½ dúzia de empresários. O orçamento do Bolsa Família é R$ 24 bi. R$ 500 bi equivale a 20 anos de Bolsa Família”. Se Marina lesse o Muda Mais, saberia que o Banco Nacional de Desenvolvimento Social (BNDES) não financia pessoas e, sim, empresas. De acordo com o próprio site do Banco, o apoio do BNDES se dá por meio de financiamentos a projetos de investimentos, aquisição de equipamentos e exportação de bens e serviços. Além disso, o Banco atua no fortalecimento da estrutura de capital das empresas privadas. Ou seja, o Banco não dá dinheiro para as empresas, oferece financiamento, recebendo os recursos de volta, com os devidos juros. Porém, juros justos e não que inviabilizem o negócio das empresas. Falando em Bolsa Família, criado por Lula e expandido por Dilma Rousseff, os investimentos do governo federal no programa, de acordo com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), batem os R$ 24 bilhões ao ano. Isso não é pouco e Marina sabe. De seu lado, os investimentos do BNDES para as empresas movimentam a economia do Brasil e têm impacto em outras áreas, como geração de empregos. Todos esses pontos fazem parte de uma engrenagem que faz o Brasil se movimentar e crescer. Com o comentário que fez, Marina também parece desconhecer esse aspecto do funcionamento do nosso país. Mas parece que esse tuite é mais uma dica do que Marina pretende fazer com o BNDES e outros bancos públicos, caso seja eleita. Não custa lembrar que a mesma Marina defende uma participação menor dos bancos públicos na economia. Seu programa de governo diz “Acesso a recursos subsidiados pelo Tesouro Nacional, por meio dos bancos públicos, não pode ser o fator principal de sucesso das nossas empresas”. Essa medida, que sinaliza positivamente ao mercado financeiro, tem sido duramente criticada por Dilma que se preocupa com a possibilidade de ver inviabilizados programas como o Minha Casa Minha Vida e financiamentos populares. Agora, parece que também o apoio aos empresários brasileiros pelo financiamento do BNDES está em risco. Veja em http://mudamais.com/divulgue-verdade/marina-nao-sabe-como-funciona-o-bndes

  6. O BNDES é ferramenta valorizadíssima na estratégia de dinamização da economia, sem a qual não há geração de riquezas; não há política de inclusão social e não há possibilidades reais/concretas de superação do subdesenvolvimentismo capitalista que há séculos injustificavelmente nos assola e humilha.

    Mas, claro, uma estratégia desta não interessa em nada à política entreguista do novo PSB, barriga de aluguel.

  7. Uma das boas qualidades que se espera do ser humano é a honestidade. Certas atitudes que tomamos, demonstra muito do caráter que possuímos. Quando um banco de desenvolvimento empresta dinheiro, empresta para aumentar o nível de desenvolvimento do País. Seria inadmissível comparar os valores empregados no Bolsa Família com os recursos emprestados pelo BNDES; são coisas de natureza completamente diferente uma da outra. Não se pode misturar as coisas com intenção puramente eleitoral, mesmo porque você sabe que está falando para públicos totalmente diferentes na sua capacidade de compreensão. Existe uma parte do público que sabe se tratar de situações diferentes, e uma outra parte que não sabe. O que poderia dar a entender que se teve a intenção de explorar a ignorância e a boa fé da parte que não sabe essa diferença.
    O BNDES é uma parte importante ao desenvolvimento do Brasil, oferece crédito para empresas e projetos que poderão trazer ganhos ao País. Os valores emprestados terão que ser pagos e voltarão aos cofres públicos de diferentes maneiras. Com os tributos oriundos dos negócios financiados, com a geração de empregos e renda, com o fortalecimento da economia nacional, com a melhoria da infraestrutura nacional aumentando a competitividade do País entre tantos outros benefícios. O País só tem a ganhar, tanto com o Bolsa Família quanto com o BNDES e não dá pra ficar fazendo esse tipo de comparação que não tem o menor cabimento.

  8. Leiam…. Interessante artigo

    Por Palmério Doria, especial para o 247

    Nos Estados Unidos o respeitado Riggs Bank, de Washington, conhecido pela tradição de ser o banco oficial de todos os presidentes, sucumbiu ao ser descoberto numa indesculpável travessura: abrigava contas milionárias de Augusto Pinochet, o ditador chileno, abertas com passaportes e nomes falsos. Obviamente o dinheiro sujo do genocida andino chegou aos seus cofres com a conivência da diretoria. Deixaram, assim, os banqueiros do Riggs de frequentar o Salão Oval para o amargor de depoimentos em chefaturas policiais e audiências nos tribunais de justiça.

    Na Argentina, dois bancos mantiveram relações carnais com os milicos golpistas pós-1976, o ano da derrubada da viúva de Perón e instauração do regime cruel que sequestrou, matou e desapareceu com cerca de 30 mil pessoas. O Banco de Intercâmbio Regional (BIR) e o Banco Oddone tinham tentáculos dentro dos quartéis e passe livre na Casa Rosada, ocupada alternadamente por generais ladrões e assassinos. Mas suas contabilidades – escondidas pela profusão de patrocínios culturais, badalações no society platino e eventos no exclusivo Jockey Club portenho – estavam podres. Nem os militares ousaram salvar os banqueiros falidos quando Jose Alfredo Martinez de Hóz, o czar da economia, decretou as quebras.

    Enquanto milhares de correntistas iam do escândalo nas portas (cerradas) das agências ao “simples” suicídio, os banqueiros fugiram para o exterior ou acabaram nos calabouços do regime. A influência política de nada valeu diante da revolta popular e da comoção causada pela debacle sistêmica provocada pela quebra do BIR e do Oddone. E eram todos bancos presumivelmente “sadios” e com forte proteção política.

    José Rafael Trozzo, o presidente do BIR, era a voz de apoio ao regime entre o empresariado mais saliente, e Luis Alberto Oddone, dono do banco que levava seu sobrenome, chegou mesmo a custear do próprio bolso a fortuna de US$ 700 mil (valores de 1976) pagos à agências internacionais de relações públicas e lobby para que propagandeassem os feitos do novo regime argentino. Trozzo, avisado por um general camarada, fugiu para Miami. Oddone resolver peitar Martinez de Hóz e passou longa temporada numa masmorra nos arredores de Buenos Aires.

    Mais curioso foi o final do banqueiro Ruben Beraja, do Banco Mayo, presidente da DAIA (Delegación de Asociaciones Israelitas Argentinas) e destacado membro da corte de Menem, nos anos infames do neoliberalismo platino. Diante de uma fraude monstruosa, um rombo que atravessava a casa das centenas de milhões de dólares, o BCRA (o Banco Central de lá) simplesmente decretou a liquidação do Mayo. Beraja se encontrava em Washington, como feliz e prestigiado integrante da comitiva do presidente Carlos Menem. No hall do hotel, a caminho da Casa Branca, Carlos Korach, mafioso chefe-de-gabinete da Casa Rosada, o desconvida na frente dos presentes e lhe dá com crueza a notícia do estouro de seu banco: “Te jodeste, hermano”. Nem sempre a proximidade com o poder e a intimidade com os poderosos consegue segurar um banco quebrado. Dinheiro é coisa séria.

    Ricardo Espirito Santo Salgado comandou por muitos com mão-de-ferro o banco que leva o sobrenome da família materna. Ganhou o popular apelido de “o-dono-disto-tudo” e recebia presidentes, primeiros-ministros e autoridades monetárias em sua deslumbrante casa nos arredores de Lisboa, talvez uma das mais lindas da Europa. Elegante e arrogante, impôs-se na política portuguesa, na de Moçambique, na de Angola e, também, recebeu Marcos Valério e uns sôfregos emissários do delator Roberto Jefferson, então influente dono do PTB, para negociações mirabolantes acerca de aplicações das reservas do tesouro brasileiro. Que, é claro, jamais foram feitas.

    O sólido banco de Ricardo E. S. Salgado não era tão sólido quanto parecia, e seu espírito como banqueiro estava longe de ser santo. Hoje, depois de apeado da presidência do antigo colosso lusitano, espera em prisão domiciliar a decisão da Justiça sobre propinas pagas, propinas recebidas, desvios de fundos e balancetes dignos de Ionesco. Não sem antes ter deixado nas burras do tesouro a bagatela de três milhões de euros – valor arbitrado como fiança pelo direito de não ir (por enquanto) mofar num cárcere lisboeta qualquer. Sabe o que aconteceu ao ex-dono-disto-tudo? Encontrou pela frente um primeiro-ministro corajoso, um ministro da Fazenda sério e um juiz imparcial. O futuro do ex-banqueiro que comandou governos e tratava dignatários por “tu” não é nada alvissareiro.

    Voltemos ao patropi.

    Ângelo Calmon de Sá despachava em histórico edifício na Cidade Baixa, em Salvador, sede do então centenário Banco Econômico. Não fitava as pessoas, mal as cumprimentava e um dos seis elevadores estava permanentemente interditado. Só o “doutor Ângelo” podia usá-lo. Estava em Paris, numa suíte do George V, tomando champanhe Cristal Rosé Brut Imperial com dona Ana Maria, mas o “seu” elevador, lá no centro histórico lindo e fétido de nossa primeira capital, estava fechado aos mortais. Ele era uma semidivindade baiana. Não estava entronizado no altar da Igreja do Bonfim nem flutuava entre os imensos Orixás do genial escultor Tati Moreno nas águas escuras do Dique do Tororó.

    Os governadores da Bahia passavam pela opulenta casa, majestosamente plantada entre mangueiras frondosas, lá no alto de um dos vales rasgados no ventre soteropolitano, prestando-lhe vassalagem e os salamaleques de praxe. Muitas e muitas vezes o “doutor Ângelo” viajava ao Rio, São Paulo ou Brasília, sozinho, aboletado em um de seus dois jatos Falcon, enquanto seus assessores diretos, velhos diretores e gerentes fiéis o seguiam como mortais que eram em voos comerciais. Ministro da ditadura militar e de Collor, presidente do Banco do Brasil, nome sempre lembrado para concorrer ao governo da Bahia, industrial com várias fábricas da Coca-Cola, imenso plantador de cacau, criador de gado da melhor raça, latifundiário de terras que se perdiam no horizonte. Financiou pesadamente todos os partidos, com preferência pela Arena, PDS e PFL, sem se esquecer de encher os cofres de FHC em 94. Pois meses depois – e com dezenas de deputados e senadores comandados pelo inefável ACM atravessando a rua e invadindo o Palácio do Planalto para pressionar em favor do “doutor Ângelo” e do seu agonizante bancão – o mesmo FHC foi obrigado a decretar o fim do Econômico. Estava podre.

    Do “doutor Ângelo” sobrou uma dívida imensa, recordações cinzentas e uma pasta rosa, providencialmente deixada em sua mesa na presidência do Econômico, com a contabilidade paralela onde constavam generosos aportes aos políticos de suas relações, de ACM a FHC, passeando por todo o abecedário.

    José Eduardo Andrade Vieira era o quarto dos filhos do velho Avelino, o mais destacado banqueiro paranaense. Dois irmãos morreram no mesmo acidente aéreo. O terceiro, de enfarte fulminante. Sobrou ele, a quem não estava destinada a tarefa de comandar o império iniciado pelo pai. Como o J. Pinto Fernandes, do poema do mestre Drummond, “Zé do Banco” não tinha entrado na história, mas com o Bamerindus ficou.

    Com muito trabalho e muita simpatia o patriarca havia feito de um tamborete (o Banco Mercantil e Agrícola do Norte do Paraná) nascido em Tomazina, uma pobre cidadezinha, o portentoso Bamerindus, um dos maiores bancos do Brasil nas décadas de 50, 60, 70, 80 até sua quebra na metade dos anos 90. Zé Eduardo até que se saiu bem. Liberal, generoso, recrutou executivos respeitados no mercado, jamais teve seu nome envolvido em negociatas ou corrupção, investiu no marketing e fez de seu Bamerindus uma marca moderna, simpática. Surpreendeu os que dele pouco esperavam. Mas se meteu na maldita da política, comprou um partido, o PTB, comprou um mandato de senador pelo Paraná, virou ministro de Itamar Franco, financiou pesadamente FHC (que fez sua campanha nos jatinhos do banco), virou ministro do governo do tucano e quebrou bonito.

    De uma casa bancária, o extinto Banco Nacional, Paulo Henrique Cardoso sacou a herdeira, Ana Lúcia Magalhães Pinto, com quem manteve casamento de 17 anos, do qual nasceram filhas gêmeas. Viajavam Brasil e mundo afora num jatinho da Líder mantido à disposição, mantendo imensa distância de qualquer coisa que lembrasse trabalho. Os cunhados pagavam as contas e ajudaram o pai do cunhado diletante a eleger-se presidente, sendo um de seus maiores doadores. Até que em 1994, com milhares de empréstimos a clientes fictícios gerados pelo contador Clarimundo Sant’Anna na tentativa de salvar a casa já em escombros, o Banco Nacional já dava mostras de sua precariedade.

    No réveillon de 1994, véspera de assumir o Palácio do Planalto, o recém-eleito presidente aparece ao lado de Marcos Magalhães Pinto, presidente do Nacional e irmão de sua nora Ana Lúcia, risonhos numa opípara festança de réveillon da família. Eles, os discretos banqueiros de Minas Gerais, já viviam o outono de uma antiga opulência. Em 1995, ainda no primeiro mandato de FHC, o Banco Central decreta a liquidação do Nacional (o Unibanco, hoje Itaú, pegou o filé da massa falida, deixando a “banda podre” para o contribuinte). Nem o futuro das netas, nem o farto dinheiro recebido pelo PSDB na campanha, conseguiram impedir a ação saneadora do Banco Central. Contrafeito, a FHC só restou assinar a sentença de morte.

    Dois meses depois, PHC deixa Ana Lúcia e suas gêmeas e se instala num hotel da grã-finíssima Avenida Vieira Souto, de frente para o mar de Ipanema. O rombo bilionário, que extinguiu o Banco Nacional – do qual a mulher de PHC era herdeira e acionista igualzinho a “educadora” Neca Setúbal – é tido como a maior fraude financeira da história do Brasil, pois, ao que se sabe, atingiu quase um terço do dinheiro circulante. Sejamos mais didáticos: o rombo deixado pelos então parentes de FHC equivalia a mais de R$ 3,00 de cada R$ 10,00 em circulação no país!

    Vamos passear de novo pelo mundo.

    Nélson Mezerhane é um judeu venezuelano, elegante e simpático. Homem de coragem, financiou a oposição e resolveu enfrentar o regime do coronel Hugo Chávez. Seu Banco Federal não era o maior da Venezuela, mas estava entre os melhores, com centenas de milhares de clientes e uma rede de agências espalhadas por todo o país, investimentos em outras empresas e boa fama no mercado. A colônia judaica local não entendeu o que achou ser “loucura” do seu mais destacado integrante e benfeitor. O problema é que a carta-patente, aquela autorização de funcionamento de uma instituição financeira, é dada pelo Banco Central, a autoridade monetária do país. Preciso contar o resto da história? Mezerhane teve sorte. Sorte e um jatinho. Está em Miami, sem banco, porém livre de uma série de “boletos de captura”, as temidas ordens de prisão.

    Outros banqueiros já se envolveram na política e são testemunhos do que, sempre e inevitavelmente, acontece aos que confundem o ronco da história com o tilintar das moedas. Quando financiam candidatos, pagam contas de campanha, participam diretamente do movimento eleitoral, é sinal de que estão com algum grave problema, algo muito sério a ser escondido. Quando se imiscuem na vida pública e no processo eleitoral o fazem em busca de proteção política e salvação imediata. Ou são autores de rombos colossais ainda não revelados ao “mercado” ou pressentem o estouro próximo da boiada, por conta de multas, sonegações, contabilidades paralelas, perdas maquiadas em balanços fictícios, negócios mal feitos, fusões ou incorporações que não geraram o ganho de competitividade e de caixa esperados.

    O espanhol Mário Conde, do Banesto (Banco Español de Crédito), era locomotiva da alta sociedade madrilena e banqueiro da família real. Na lista dos 10 homens mais elegantes da Espanha, dos 10 homens mais admirados da Espanha, dos 10 homens mais respeitados da Espanha, dos 10 homens mais influentes da Espanha, dos 10 maiores filantropos da Espanha, dos 10 maiores mecenas da Espanha, dos 10 maiores financiadores de partidos e políticos da Espanha. E o seu banco, um dos 10 maiores da Espanha, não tinha caixa 2, mas tantas contabilidades paralelas a esconderem sua situação pré-falimentar, que passavam das 10. Quebrado em 1993, preso e condenado, pegou 10 anos de cadeia.

    Mas, também, há banqueiro que fica bem na história.

    O embaixador Walther Moreira Salles foi um dos grandes brasileiros do seu tempo. Iniciador de grandes negócios, visionário, serviu aos governos de Getúlio, JK e Jango. Foi ministro da Fazenda, duas vezes embaixador em Washington, negociador de nossa dívida externa (na melhor das negociações que já fizemos). Angariou imenso prestígio e multiplicou a fortuna iniciada pelo pai no sul de Minas Gerais, na cidade de Poços de Caldas, com um armazém de secos e molhados. Mas nunca foi político, tendo até rechaçado um convite de JK para ser o candidato do PSD ao governo de seu Estado. Apesar disso, atuou com desenvoltura nos bastidores do poder, sem jamais tornar-se um operador político ou o impulsionador de candidaturas ou candidatos.

    O ditador Costa e Silva lhe devotava verdadeiro horror. O motivo era prosaico: levou um chá-de-cadeira de Jânio Quadros (a quem mandou cassar em 64 para depois assumir a autoria da violência às gargalhadas) e, incomodado, viu que era Moreira Salles quem saia da sala do então presidente eleito. Em 68, com o AI-5, resolveu cassar o elegantíssimo e educadíssimo banqueiro. Delfim Netto, consultado acerca da estultice já transformada em ato prestes a ser assinado, fez o chefe mudar de idéia: “Tudo bem, presidente. Mas o Walther tem mais crédito que o Brasil”.

    Olavo Setúbal, um engenheiro cartesiano e formal, conhecido pela aplicação nos negócios e pela inegável inteligência, construiu um império baseado no trabalho e em golpes da boa sorte. Herdou do tio um banco sem maior expressão, o Federal de Crédito, e o fez crescer à custa de fusões e incorporações, dezenas delas, particularmente ao longo das décadas de 50, 60 e 70. Com o regime militar seus negócios floresceram. Contou com o apoio da ditadura para assumir outro grande banco, o Banco União Comercial (BUC), de propriedade da família do milionário Soares Sampaio, à beira da quebra por conta de uma desastrada gestão de Roberto Campos, seu presidente e verdadeiro mito do liberalismo econômico brasileiro. O genro de Soares Sampaio, o industrial Paulo Geyer, não aceitou as condições de-pai-para-filho com que o Banco Central doava o BUC a Setúbal, e resolver não assinar a transferência de suas ações. “Perguntem ao Geyer se ele vai assinar logo ou se eu vou precisar mandar dois sargentos irem buscá-lo em casa?”, foi a reação do general Ernesto Geisel.

    Além do BUC, a ditadura presenteou Setúbal com a prefeitura de São Paulo, onde ele se saiu bem. Deu conta do recado e protagonizou um episódio decente: recusou-se a demitir o secretário de Cultura, o respeitado dramaturgo Sábato Magaldi, apontado como “comunista” pelo execrável general Silvio Frota, um monstrengo da linha mais que dura.

    Picado pela mosca azul, “Olavão” foi preterido pelos milicos na sucessão de Paulo Egydio ao governo de São Paulo e se preparou para disputar o Palácio dos Bandeirantes pelo PFL em 1986. Na convenção do partido, um grupo de malandros tirou o tapete do dono do Itaú e impediu sua candidatura, substituída pela de Paulo Maluf. Desiludido, Olavo nunca mais confundiu as urnas eleitorais com os caixas do Itaú.

    Recordo essas histórias, ao alcance de qualquer um, para declarar meu espanto com a participação ativa e exótica de bancos e banqueiros – a começar pelo Itaú de Roberto Setúbal e Pedro Moreira Salles – no financiamento e sustentação da candidatura de Marina Silva à presidência da República. Custo a crer que essa aventura surpreendente, atentatória aos bons manejos bancários, às boas práticas empresariais, seja um biombo desesperado para evitar o pagamento de multa no valor impressionante de R$ 18 bilhões e 700 milhões devidos à Receita Federal em impostos não recolhidos na fusão Itaú-Unibanco. Mas, também, não creio que tais banqueiros sejam ingênuos, inocentes ou desavisados. Creio que a arrogância e o desespero, quem sabe, formaram um caldo de cultura que os fará se arrepender mais cedo que tarde da aventura em que se meteram, fazendo de uma despreparada evidente uma candidata com um Itaú de vantagens para eles, os banqueiros, e de desvantagens, para o país.

    A ingerência de um colosso bancário na vida pública do país protagonizou até uma festa-fraude. A dos 90 anos de fundação do Itaú-Unibanco. Ora, quem completaria 90 anos não existe mais, o banco dos Moreira Salles. O Itaú foi fundado em 1945, com outro nome, e veio crescendo como já se relatou aqui. Mas esse pretexto serviu para colocar centenas de alegres convivas do society paulistano, gente do mercado financeiro e alguns empresários ligados à oposição num regabofe onde o presidente executivo do Itaú fez um pavoroso discurso político-eleitoral, atacando o governo e deixando claro o seu apoio à mutante candidata acreana, claramente desqualificada para a missão de comandar um país como o Brasil. Da dívida bilionária, não se falou nada. Sem trocadilho, necas.

    Não é preciso ser futurólogo. O suave embaixador Walther e o objetivo Olavo não ousaram tanto e, no entanto, não saíram incólumes.

  9. Sem falar que um dos formuladores da política econômica dela, Alexandre Rands, pegou dinheiro emprestado do BNDES para a empresa dele.

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