Existem torturadores “mais humanos” que outros?

tortura

Enquanto aqui no Brasil assistimos à divulgação do relatório da Comissão da Verdade, que produziu, com todas as dificuldades que criam as quatro décadas de distância dos fatos apurados, um relato imprescindível para nossa história e para a educação política deste país, o mundo vive, na questão da tortura, uma situação sui generis.

Algo que serve para mostrar como, muito além da penumbra de delegacias de polícia, a tortura sobrevive como instrumento de Estado.

O curioso é que os EUA se arvoram no direito de perseguir seus objetivos porque seus adversários a praticam, como eles próprios também o fazem.

É como se um torturador fosse “do bem” e outro “do mal”.pew

Não é surpreendente  que a tortura siga existindo, embora ela sempre seja inaceitável.

O que é relevante é que haja uma máquina de comunicação que torne, pela ideologia, a tortura uma prática tolerável, se condizente com alguns dos seus objetivos e simpatias políticas.

Uma pesquisa recente do Pew Research Center mostra que, mesmo com todos os traumas de Guantánamo, cresceu entre os americanos o apoio à prática da tortura como método de interrogatório de terroristas.

O resultado está aí ao lado.

E isso se alimenta e alimenta mais com isso a barbárie.

Seguem  sempre construindo “demônios” em série: os comunistas, os xiitas, a Al-Qaeda, os talibãs e, agora, o Exército Islâmico.

E de cada “campanha exorcista”, novos monstros surgem.

Nada a ver com acabar com as atrocidades, mas de justificar com elas outras atrocidades, o que ocorre, inevitavelmente, quando se extrapola os limites das ações legítimas do Estado.

Hoje, tem-se a cena que seria cômica, se não fosse trágica, de a Coreia do Norte dizer na ONU que o caso expõe a “moral ambivalente” da ONU na hora de julgar as violações de direitos humanos do regime daquele país.

Há exatos 150 anos, a primeira das Convenções de Genebra (22 de agosto de 1864)  estabeleceu que militares inimigos doentes ou feridos deveria ser tratados com humanidade e respeito pelas tropas em combate.

Como se vê, nem o “estado de guerra” era reconhecido como razão para monstruosidades.

Parece que o mundo perdeu um século e meio de oportunidades de avançar.

 

 

 

 

 

 

 

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14 respostas

  1. Os criminosos de Guantâmano foram anistiados? Não? Então nada tem a ver como caso dos criminosos brasileiros.

  2. a totura existe desde quando o mundo é mundo e quando o homem passou a existir. infelizmente essa coisa nefasta nao vai acabar e todo usa desse meio em todo mundo. vamos deixar de hipocria , a tortura nunca deixou de existir, e infelizmente ela tai em todo lugar fazendo vitimas. o pior é nao punir quem tortura , é o caso dessa republica de bananas. pais que faz acordo com ditador é o pais mais sem vergonha do mundo. infelizmente o brasil é um deles.

  3. Pelo visto, além da “corrupção do bem”, ainda há a “a tortura do bem”, “o “terrorismo do bem”, o “sequestro do bem” e provavelmente vai aparecer a “sonegação do bem”.
    “Assassinato do bem” já sabíamos que existia. A execução do Bin Laden mostrou isso em rede mundial.

    1. A direita criou o conceito do: bandido do bem, estuprador do bem (bosalnaro que o diga), estelionatário do bem, corrupto do bem, assassino do bem, ladrão do bem…..

  4. A tortura física é um instrumento do Poder de Fato, e como tal sempre extrapola e se sobrepõe ao Poder de Direito.

    Através dela é possível desestruturar-se até o espírito. Não à toa um religioso preso nos porões da ditadura e após ser brutalmente torturado suicidou-se. Pasmem! um religioso, alguém cujo espírito teoricamente seria dos mais fortes.

    E o que é ainda mais grave: a tortura não se resume a isso. Tal instrumento de poder é sobretudo e por si só uma das mais terríveis armas contra a defesa dos Direitos Humanos. É coerção tão violenta que acaba por inibir qualquer manifestação contrária ao regime que a institui. Sua intensidade de uso é diretamente proporcional à cultura e/ou ao estágio de evolução espiritual de um povo.

    Quanto mais bruto um povo, ainda que não o admita, e viva inconscientemente sob uma capa de verniz de civilizado, tanto mais tolerante e propenso à desumanidades este povo será. Muito dessa propensão e dessa progressiva ou potencial desumanidade deve ser debitado na conta de alguns aparatos do Poder de Fato. As corporações midiáticas totalitárias, também chamadas de IV Poder, representam o pior deles.

  5. Na minha modesta opinião há muita maldade neste mundo e os EUA estão por trás de 80% delas. Vendem armas aos montes, financiam ditadores e extremistas, ignoram acordos multilaterais quando lhes convém (vide Bush e a invasão do Iraque), detém o poder midiático do planeta, os sites mais utilizados, invadem o país que lhes convier sob o pretexto de “combate ao terrorismo”, prejudicam a própria população com sua política preconceituosa, enfim, espalha a desgraça pelo mundo.

    Aqui se faz, aqui se paga!

  6. A tortura é o ato mais COVARDE que um ser humano pode praticar!

    Presume-se que um torturador tenha sempre a vítima em pode de cárcere pois, se não, ela não ia se submeter a tais atos.

    O torturador, imagina-se, não teria o poder de torturar se estivesse “mano à mano” com o torturado.

    Os torturadores são, acredito, na maioria das vezes, perdedores naturais seja fisicamente (bundas moles que apanharam a vida toda na escola e resolvem descontar em outras pessoas quando arranjam o empreguinho de merda que tem), ou intelectualmente (pessoas frustradas com sua própria condição subordinada ou financeiramente inferior) pessoas muito pequenas pra aceitar o trabalho sujíssimo que a maioria de pessoas de bem não aceitaria nem por muito dinheiro.

    Imagino o que deve ser pra esses velhos gagás ter que explicar pros seus netos o que fez de trabalho durante a vida! Muito constrangedor!

    “Filho, eu pegava moças desarmadas e metia a porrada, choque e etc”…

    “Eu era o bicho”…

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