Financiamento privado de campanha começa a morrer antes da emenda que o legaliza?

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Mauro Santayana, hoje, faz uma pergunta intrigante em seu blog: que empresário vai doar legalmente dinheiro para campanhas eleitorais  quando vê alguns dos “elefantes” da vida empresarial indo para a cadeia por ter doado dinheiro aos políticos?

Não faz um mês que Eduardo Cunha capitaneou a “constitucionalização” dos financiamentos privados às campanhas eleitorais, cuja ilegalidade não se decretou graças ao providencial “sentar em cima” de Gilmar Mendes a uma decisão do Supremo de declará-lo ilegal.

Ao que tudo indica, porém, arranjaram guarda-chuvas no início do período de seca:

“Ao ver alguns de seus principais colegas sendo algemados, e confinados indefinidamente na cadeia, independentemente do pretexto ou da legislação, grandes empresários já admitem que fugirão, doravante, do envolvimento com campanhas políticas como o diabo da cruz, mantendo delas a mesma distância de  uma multidão se afastando, apavorada, em polvorosa, de um bando de leprosos nos tempos de Jesus.”

Sou menos otimista que Santayana, porém.

O setor financeiro, beneficiário de decisões de Governo que não se dão em licitações ou obras, mas na política de juros e no fantástico jogo de capitais que envolve as “decisões de investimento” onde se ganha fortunas sem produzir um parafuso ou levantar uma parede vai encontrar formas sempre de exppresar sua sonante gratidão aos governos a ele dóceis – quase todos – e às oposições que ainda lhes prometem muito mais açúcar.

Numa coisa, porém, concordo com ele: acabou o tempo em que essa era – e só os hipócritas o negam – a regra geral das campanhas eleitorais, que se tornaram doentiamente faustosas no Brasil.

Recordo que a campanha de Brizola à Presidência, em 1989, custou tanto quanto declarou oficialmente – oficialmente, friso – a simples campanha de deputado de Eduardo Cunha ou  a de Leonardo Picciani, aqui no Rio de Janeiro, algo em torno de US$ 2 milhões.

Muito? As últimas tiveram esse gasto multiplicado por 70 vezes.

Hoje, não há mais campanha do “tostão contra o milhão”, pela inviabilidade dos tostões.

A eleição tornou-se um empreendimento individual, descolada da coletividade dos partidos e, aí, o que manda em tudo é o dinheiro.

A memória, os elefantes e o
financiamento empresarial das campanhas

Os segmentos que hoje comemoram as dificuldades do governo – e do país – decorrentes, no plano econômico e institucional, da Operação Lava-Jato, que não se iludam. O alto empresariado brasileiro tem memória de elefante e da forma como estão sendo tratadas suas empresas e seus dirigentes – na maioria das vezes sem nenhuma prova real – dificilmente companhias de qualquer área de atividade, principalmente  as de construção, engenharia e infraestrutura, voltarão a reservar um centavo de seu dinheiro para apoiar candidatos ou partidos políticos no Brasil, por mais que a cínica “reforma” política em andamento o permita, com a previsão de elástico patamar de gastos, para o qual, na verdade, não há mais do que o céu como limite. 

 Já se provou, na prática, que não existe mais doação legal de campanha em nosso país. Os critérios de legalidade ou ilegalidade desse mecanismo podem ser mutantes, subjetivos ou seletivos e dependem, basicamente, da eventual interpretação de quem estiver investigando algo em um determinado momento.

  Ao ver alguns de seus principais colegas sendo algemados, e confinados indefinidamente na cadeia, independentemente do pretexto ou da legislação, grandes empresários já admitem que fugirão, doravante, do envolvimento com campanhas políticas como o diabo da cruz, mantendo delas a mesma distância de  uma multidão se afastando, apavorada, em polvorosa, de um bando de leprosos nos tempos de Jesus. 

O fechamento, que, pelo menos nos próximos anos, tende a ser praticamente definitivo, das torneiras do financiamento empresarial, deverá privilegiar, individualmente, os candidatos mais ricos, mas também levará, paradoxalmente, mais água para o moinho – e mais votos – para os partidos que tiverem maior penetração junto às chamadas organizações populares, e por meio delas, junto às camadas menos favorecidas da população.  

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11 respostas

  1. Mais um ganho da Dilma: conseguiu que o psdb e o aécio, na tentativa de atacar a Dilma, fizesse o que fez com os empresários. O gilmar nem precisa devover o processo dos 6×1. E o cumha na próxima eleição (se chegar lá, por falar nisso a globo ainda paoia o cunha, será porque?) E o aécio, que vai financiar seu futuroo?

  2. O grande mestre Santayana teve a percepção singular e correta desta tal “operação lava jato” que retirou do Brasil o Estado Democrático de Direito, independemente de haver ou não alguma prova real contra os presos ilegalmente. Diante desta arguta análise de Santayana, me pergunto se gilmar mendes continuará retendo o processo que tornará ilegal as doações privadas, pois agora não são apenas o voto dos demais ministros a favor, é a posição dominante da nação brasileira.

  3. .
    Não é apenas o setor financeiro que vai continuar “oferecendo” seu dízimo de gratidão aos políticos que lhes representam.
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    As empresas estrangeiras também continuarão dando o leitinho das suas crianças mamadoras nos parlamento, nos governos, nas cortes e em tantas outras “instituições” ditas brasileiras.
    .
    E o leitinho pode inclusive ser negro como o petróleo do pré-sal. Quantos litros valerá para seus autores, por exemplo, um projeto de lei que satisfaça a Chevron?
    .
    Aqueles que, muitos deles paulistas, têm o know-hou de tratarem com multinacionais, como a Alstom e a Siemens, desde a década de 1990, certamente não ficaram nas técnicas daquela época de ouro, flagradas no exterior, mesmo que engavetadas e sem efeitos por aqui. Esta turma certamente fez pós-doutorado em como continuar roubando impunemente.
    .

  4. Concordo com vc, Sergio Navas. A prova disto é que, nenhum político da oposição teve qualquer de suas doações contestadas pela justiça. O mecânica é simples. Basta não investigar. Vc pode acusá-los a vontade. Quando são investigados, o fazem de uma forma rasteira de forma a nunca se chegar a lugar algum ou, simplesmente, sentam em cima do processo.

    Apenas um exemplo:
    “A paralisação por três anos de uma ação penal contra o deputado estadual Barros de Munhoz (PSDB), no Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), está sob a investigação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O órgão quer saber por que o desembargador Armando Sérgio Prado de Toledo segurou a ação até que os crimes apontados contra Munhoz prescrevessem”.

    Esta é a regra. Se a doação for para o PT e aliados é corrupção. Doação para a oposição é simpatia ideológica. Logo, haverá muita doação para o PSDB/DEM.

    Vamos cair na real!!

  5. Sem palavras, mas o doadores passam por um período sabático.
    Quem vai querer financiar isso que está por aí. O PT, PP PMDB, PSDB, PSB, DEM, todos fazem parte desse baile.
    Doação eleitoral de empresa agora só diante de um tabelião, lavrada em escritura pública em que a manifestação de vontade do empresário seja livre e não condicionada a qualquer futuro “negócio”.
    Fora isso somos o país de piada pronta mesmo. Em razão da reportagem de O Globo envolvendo o ex-Presidente Lula com negócios com a Odebrecht em Portugal, com a ciência Primeiro Ministro de Portugal, Passos Coelho, declarou que: Lula, não me veio meter nenhuma cunha. É piada pronta ou não é?
    Eis o link:http://www.rtp.pt/noticias/politica/lula-nao-me-veio-meter-nenhuma-cunha-afirma-passos_v845924

  6. O problema é justamente isso não vao doar ao PT mas vao doar ao PSDB. pro PSDB nao tem risco. Alguem por mais inocente que sja acredita que a justiça a polícia federal e o MP vâo continuar assim se tucanos assumirem o Planalto….

  7. Desculpem-me o cinismo: mas eles não vão fugir de doar para políticos; eles vãos é fugir de doar para petistas, isso sim.
    Na seletiva Justiça brasileira, é isso que pega.

  8. Faltou falar sobre a grana dos banqueiros e dos especuladores (internos e externos), que somente ganham e nada produzem…!!

  9. Claro que empresários vão continuar a dar dinheiro a bandidos que se enfiam na política procurando ficar ricos de modo fácil. Gente de classe média também vai continuar a contratar pistoleiro para matar o cônjuge. É uma questão de adrenalina.

  10. KKKKKkkk Deus escreve certo em linhas tortas. Dentre os maiores doadores das campanhas dos mais bem colocados nas pesquisas e depois, nas urnas, vários estão na cadeia.

    Aliás, alguém já descobriu quem é JS? Seria João da Silva? Seria Jô Soares?

    Seria Joaquim Silvério? Ou João Serra ou José Serrano?

    Alguém aí já desnudou o documento?

  11. Acho que deveríamos fazer uma campanha: “seja uma empresa que não deixa dúvidas, não doe dinheiro para campanhas eleitorais”, não que a doação seja um pecado, mas por via das dúvidas…

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