Toledo: Alckmin estabacou-se ao falar de Lula

chuchusave

José Roberto de Toledo, a meu ver o melhor analista de pesquisas eleitorais do país, escreve na Piauí, publicada pela Folha, o diagnóstico mais arrasador sobre a tentativa de Geraldo Alckmin de pegar carona do movimento pistoleiro de extrema direita.  O chuchu queimou-se, como cedo se disse  aqui.

Lula, Alckmin e dois canos fumegantes

José Roberto de Toledo

Fora o solitário 1% de intenção de voto espontânea no Datafolha, até que a corrida presidencial estava bem armada para Geraldo Alckmin. O tucano superara o risco de disputar votos com um antipolítico popular tipo Luciano Huck; o rival Jair Bolsonaro havia sido contido pela onda de opinião pública que se seguiu ao assassinato de Marielle Franco; e o favorito da disputa estava prestes a levar a culpa pelo desmonte da Lava Jato e ainda ter a candidatura cassada pela Justiça Eleitoral. Bastava jogar parado e ganhar por falta de oponente, mas Alckmin arriscou dar um pique. Estabacou-se.

Quatro tiros acertaram dois ônibus da caravana de Luiz Inácio Lula Silva enquanto o petista e sua entourage percorriam estradas paranaenses, na terça-feira. Esses quatro tiros não tiveram a mesma precisão dos que mataram Marielle. Nem talvez a mesma intenção assassina. Acertaram apenas as carrocerias – em lados diferentes e ao mesmo tempo, sugerindo que havia dois atiradores. Para azar deles, num dos ônibus atingidos viajavam repórteres que cobrem a caravana. Por isso, a narrativa prevalente do ataque foi ditada sob o ponto de vista dos alvos, e não de quem só colhe aspas, como sói acontecer no império do jornalismo declaratório.

Assim, os primeiros títulos genéricos e que deixam espaço para dúvida – como “tiros atingem ônibus de caravana de Lula, dizem petistas” – logo viraram afirmações categóricas: “Caravana de Lula sofre ataque a tiros no Paraná.” Havia os estampidos, havia os buracos de bala e havia o depoimento dos próprios repórteres.

Entrevistado sobre o ataque logo antes de assistir à pré-estreia da cinebiografia do bispo Edir Macedo – dono da TV Record e da Igreja Universal do Reino de Deus –, Alckmin pareceu ignorar a gravidade de um candidato a presidente da República como ele entrar literalmente na linha de tiro. Atribuiu a culpa aos alvos: “Estão colhendo o que plantaram”, afirmou o tucano sobre os petistas. À repórter Anna Virginia Balloussier, da Folha, acusou o PT de tentar rachar o Brasil. “Acabaram sendo vítimas”, concluiu. Exatamente. Acabaram sendo vítimas. O melhor papel em uma trama eleitoral tão radicalizada quanto a de 2018.

O nome do filme a que Alckmin tinha ido assistir é Nada a Perder. O candidato do PSDB tem pouco a ganhar fazendo uma declaração duplamente desastrada sobre o que a polícia do Paraná (governado pelo tucano Beto Richa) ainda investiga, mas já classifica como tentativa de assassinato. É o contrário de Lula. Ao passar ao papel de vítima – como reconheceu Alckmin –, o petista fica na mesma situação do bispo Macedo na tela. Lula já tinha perdido. Agora, ganhou a chance de recuperar alguma coisa.

Como pode o líder disparado nas pesquisas de intenção de voto (17% na espontânea, e de 34% a 37% nos cenários estimulados pelo Datafolha) não ter nada a perder? Intenção é fumacinha. Lula não pode perder votos que só existiriam se ele conseguisse chegar à urna. Dificilmente chegará. Condenado e sem mais chance de recurso à segunda instância, o ex-presidente caiu no rol dos que a Lei da Ficha Limpa proíbe de disputar eleições. Sua candidatura tem tudo para ser indeferida pelo Tribunal Superior Eleitoral, o TSE. Não só.

Do jeito que o Supremo Tribunal Federal encaminhou a revisão da jurisprudência que determina a prisão imediata dos condenados em segunda instância ficou parecendo que o desmantelamento iminente da Lava Jato é obra de Lula e de mais ninguém.

Presidente do tribunal, Cármen Lúcia pautou o julgamento do habeas corpus em favor do ex-presidente antes da apreciação da ação direta de inconstitucionalidade que pretende derrubar a prisão após a segunda instância. Tivesse sido o inverso, todos os condenados como Lula seriam beneficiados e, juntos, escapariam da cadeia. Mas seria o julgamento de uma ideia e, portanto, despersonalizado. Não teria barba.

Não foi o que aconteceu. Cármen Lúcia não pautou a ação que mudaria a jurisprudência sobre o assunto (prevalecia a estimativa de que, por maioria de 6 a 5, os ministros reverteriam decisão anterior do próprio tribunal). Ao colocar na frente o HC a favor de Lula, o Supremo personificou o julgamento. Se o petista não for preso, quem está na cadeia após condenação em segunda instância será libertado por efeito indireto do habeas corpus que o tribunal vier a conceder a ele. Seria mais um desastre de opinião pública para o PT.

Aí vieram os ataques verbais, depois os ovos, seguidos das pedras e, por fim, as balas. O PT, de acusado, virou acusador. De algoz, vítima. Só falta o Supremo não conceder o habeas corpus e Lula ir parar na cadeia. Seria o fecho de ouro para o processo de vitimização. Nesse cenário, se Alckmin não mudar seu discurso sobre o ataque, correrá risco crescente de seguir patinando e virar uma espécie de candidato a vice de Bolsonaro.

Facebook
Twitter
WhatsApp
Email

18 respostas

  1. Depois que FHC disse: “esqueçam o que escrevi”, virou moda mudar o discurso. Se isso ganha eleição é outra história.

  2. O desastre para o PT seria a prisão de Lula. Se ele não for preso e condenados em segunda instância forem soltos, o PT perderá pouco para a opinião pública. Quem está com Lula, está; quem não está, não está. A opinião pública já está formada, pela opinião publicada.

  3. Ora, o senhor alckmin (minúsculo mesmo) faz questão de não lembrar que quem rachou o Brasil foi um político minúsculo chamado aécio neves (minúsculo mesmo), já na última campanha eleitoral, pertencente ao partido igualmente minúsculo ao qual o senhor alckmin é filiado.

  4. Fala aí para esse Tolete que nós queremos Lula Presidente 2018. O Lula está condenado por um crime que não cometeu! Mostre-nos as provas! Eles querem nos tratar como bobos e idiotas mortos de fome por mortadela e sem conhecimento e não querem desmentir as tramóias feitas até agora apoiadas e disseminadas por eles.

    1. Ressalte, com ajuda prestimosa da famigerada globo, aquela que prega o que nunca teve, HONESTIDADE. Corrupta, fala da corrupção dos outros. Condena o tráfego de influencia mas mantém um escritório em Brasília pra “comprar” deputados, senadores e até togados cretinos tanto quanto ela.

  5. Caraca, quanta má fé num artigo de jornal. só podia ser na folha.
    Nem uma palavra de que Lula foi condenado em uma fraude judiciária.
    Toledo, porque a folha não investiga de onde vem as ordens para a lava jato? Quem foi o maior beneficiário da lava jato até o momento? Porque os integrantes da lava jato no judiciário e MPF estão a toda hora nos EUA se reunindo com órgãos de espionagem e do departamento de estado de lá?
    Porque o nosso governo paralisou nossas refinarias, construídas nos governos petistas, para importar combustíveis dos EUA?
    Porque o nosso governo vendeu a nossa ÚNICA empresa de alta tecnologia para os americanos?
    Porque o nosso governo insiste em entregar o pré sal para as petroleiras americanas?
    Investigue isto Tolodo.

  6. Típico jornalista do PIG, argumentar contra a Constituição e a favor da aspiração publicada no punitivismo contra Lula. Atinge Alckmin na ingenuidade demonstrada através da palavra do governador e acima de tudo, defende posição contrária a Lula, se abstém em marcar posição sobre o ocorrido no Paraná. A prisão, segundo a Carta Magna do Brasil, conhecida como Constituição, determina que ela ocorra somente quando forem esgotados todos os recursos, portanto, a segunda instância, por não ser a instância final, não pode ser determinante para a prisão. Toledo sabe disso ?

  7. realmente lula tem que ser condenado,condenado a ser o maior presidente que este país ja viu,

  8. Caro, Brito. Não só leio como respeito suas publicações. O que me faz ter espanto por duas publicações neste blog, ambas referidas ao mais grave episódio político envolvendo Lula. Lula foi vítima de atentado político! Como você mesmo indica no post de Marcelo Auler, premeditado e organizado. Como foi atentado político o bárbaro assassinato da vereadora Marielle. Meu 1º espanto quando li que o atentado de milicianos do PR, foi um ‘aperitivo'( você depois se corrigiu). E agora, para novo espanto, publicar como ‘diagnóstico’ preciso da fala capsiosa de Alckmin, essa matéria da antipetista Piauí. Dizer, como fez esse sr. Toledo, que o erro do Alckmin é que ‘ajuda’ Lula porque contribui com sua ‘vitimização’? Ora, isso é a própria narrativa da direita de que a vítima é culpada pelo crime! O mesmo discurso que sucedeu ao atentado da vereadora! Tsc,tsc…

    1. Não penso como Toledo, mas seu raciocínio tem muitas coisas válidas. Ele, sobretudo – e como destaquei – é bom analista de pesquisas e registra, com razão a meu ver, a busca (confusa e infrutífera) de Geraldo Alckimin pelo eleitorado de Bolsonaro.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *