Foi um espetáculo de incompetência política.
A inversão de pauta desejada pelo “Centrão” poderia ter consumido uma hora da sessão de hoje da Comissão de Constituição e Justiça.
Não haveria maneira de evitar que começasse a discussão do parecer favorável à reforma da Previdência.
Mas o governo conseguiu deixar para amanhã e em condições piores do que imaginou, o começo do debate e com um acordo para terminar, no caso de não haver votação do plenário, às dez da noite os debates e tornando impossível a votação na quarta-feira, véspera da Semana Santa, quando será virtualmente impossível conseguir quorum para votar o relatório favorável.
Se é que conseguirá aprová-lo, porque o “centrão” mediu hoje que potencial tem na Comissão.
O Governo fez o que pôde para humilhar-se com votações pífias.
Amanhã é dia de declarações de princípios, na quarta, de propostas para eliminar pontos da reforma.
O “Centrão” perdeu a vergonha de se mostrar em oposição e de repetir o mantra de que “a reforma é boa para o Brasil”.
PRB, PP e Podemos assumiram que querem a extirpação do BPC e da aposentadoria rural imediatamente e o PMDB se escafedeu. O PSDB escondeu-se na hora de formar com o governo. Solidariedade e Cidadania (ex-PPS) nem disfarçaram a oposição.
O Governo Bolsonaro está conseguindo complicar o que era mais simples em seu projeto de mudança na Previdência, aprovar numa comissão que avaliaria apenas a constitucionalidade da proposta.
Se deixar que ela seja depenada do que, a esta altura, é só “bode” (o BPC e a aposentadoria rural) vai ter de entregar, na Comissão Especial que, a partir de junho, examinará o mérito da proposta, terá de entregar o outro: a capitalização e as duras regras de transição. o que de fato lhe interessa, por produzir resultados financeiros rápidos.
O “trilhão em dez anos” é uma conversa fiada. Porque, sabe-se na política mais que em qualquer lugar, “no longo prazo estaremos todos mortos”.