Porque o coronavírus não deve recuar tão cedo

Não imagine que, no resto do mundo, possa acontecer um combate ao coronavírus no “peitaço”, como se deu na China.

Mesmo na Itália, que decretou a proibição de circulação de pessoas dentro do país, sabe-se que este bloqueio, além de tardio, foi apenas parcial. E ainda assim, provocou – e provoca – conflitos e desobediências.

Há outra diferença fundamental: estenderam-se os feriados do Ano Novo Lunar – no pico da epidemia -, fecharam-se fábricas, escritórios e lojas que não eram essenciais ao abastecimento de gêneros essenciais na província de Hubei, onde ocorreram 67 mil dos 81 mil casos registrados no país.

Isso permitiu o deslocamento de pessoal médico de todo o resto do país, além de contar com grandes contingentes de médicos militares.

Nada disso esteve em cogitação nos países europeus atingidos pela doença viral. A muito custo, suspenderam aulas e eventos – ainda assim, nem todos.

Também, salvo em um ou outro caso, os Estados nacionais não estão em condições (ou dispostos) a, além de perder receita com a parada da produção e dos serviços, mover a montanha de recursos que os chineses lançaram no combate ao vírus.

É ai que surge o “achatar a curva” – flatten the curve, em inglês – tão falado hoje no noticiário e nas redes sociais. O gráfico aí em cima mostra o que é a dinâmica da contaminação viral numa situação onde não se tomam medidas para frear sua propagação e em outra, quando se adotam medidas que não a vão impedir, mas retardá-la.

Note que as áreas sob as curvas (que representam o número de casos) são iguais ou praticamente iguais, mas com formas diferentes. E isso acontece porque a duração da epidemia é diferente: mais curta ou mais longa.

Essa duração permite que a capacidade instalada do sistema de atenção médica existente – ou com algum reforço – possa ser o suficiente (ou quase) para atender um certo número de casos. Número menor, porque espalhado em mais tempo.

Isto, ao menos em tese, seria capaz de propiciar a atenção médica devida aos pacientes em geral, mas sobretudo àqueles com fatores agravantes de letalidade (idade, hipertensão, diabetes, insuficiência cardíaca etc).

A questão é que este caminho só agrava aquilo que está fazendo com que o coronavírus esteja tendo este efeito catastrófico sobre o mundo, porque o fará limitar e, eventualmente, proibir uma série de atividades que dependem do convívio interpessoal e, portanto, a economia.

Mas não há outra arma no arsenal contra o vírus, ao que seja perceptível agora.

O que quer dizer que devemos nos preparar para longos meses de convívio com ele e com a desorganização que ele traz para a vida social, para a produção e prestação de serviços e, com isso, para a economia mundial.

Meu nome é coronavírus, mas pode me chamar de recessão.

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